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Nova ameaça

Por Ivan Angelo
Atualizado em 5 dez 2016, 17h17 - Publicado em 31 mar 2012, 00h50

Tem aí um deputado paulista querendo proibir o chopinho nas mesas das calçadas de bares e restaurantes, o quentão das quermesses de Santo Antônio e São João, a cerveja dos camarotes dos desfiles do Carnaval, o vinho nas festas populares da Achiropita e de São Vito, a caipirinha de frutas nas praias, o champanhe comemorativo da Fórmula1…

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De vez em quando, somos ameaçados pelo projeto de alguma lei esquisita. Estranho, não?, sentirmo-nos ameaçados por uma lei? Lembra-se daquela, federal, que nos obrigava a usar um kit de primeiros socorros no carro? Mercurocromo, esparadrapo, atadura e gaze numa bolsinha de plástico — para socorrer feridos no trânsito! Lembra? O dinheirão que ganharam com aquilo os fabricantes dos tais kits. A lei evaporou-se.

Tivemos aquele projeto — vocês hão de se lembrar do ridículo que foi — que, se aprovado fosse, obrigaria os motoboys paulistanos a usar coletes com airbag. Imaginem aquele puff! atirando longe o pobre motoqueiro.

E a Lei da Garupa? Aprovada na Assembleia paulista, está aí para o governador assinar, e proíbe condutores de motos de levar alguém na garupa nos dias de semana. Essa ideia torta de coibir assaltos praticados por duplas em motos impediria o marido de levar a mulher na garupa para o trabalho ou o filho estudante para a escola, ou impediria amigos de ajudarem amigos com uma carona.

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Não vou nem falar daquele projeto de lei estadual, em tramitação, que proíbe o uso da crase no português porque ela humilha o cidadão. Não demora vão imitar o vereador gaúcho que propôs multa para o dono de todo cachorro que latir após as 22 horas.

O tal deputado pretende, com a lei que proíbe vender e consumir bebidas alcoólicas nas calçadas e em qualquer lugar público, diminuir o número de acidentes e mortes provocados por motoristas bêbados.

Quer dizer que são os bêbados das mesinhas de calçada ou da Achiropita que andam atropelando pessoas por aí? Os que bebem dentro dos bares ou das casas não?

O mesmo tal disse em entrevista a um blog que “restringir o consumo nos locais públicos vai ajudar a tirar o glamour do álcool e colocar o problema claramente: álcool é droga e não deve ser consumido na frente de crianças”.

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Quer dizer que de madrugada, quando as crianças estão dormindo, poderia? Quer dizer que a propaganda na televisão, com aqueles garotões idiotizados conquistando loironas ao beber engradados de cerveja, também ajuda a tirar o glamour do álcool, já que essa publicidade não está na mira do deputado? Pagodinho na telinha de casa poderia, mas na telona de rua não poderia? É difícil seguir o raciocínio dele.

Depois de se reunir com os donos de bares, restaurantes e, claro, similares (não incluídos os vendedores de cachorro-quente e yakissoba das esquinas e similares), o senhor deputado recolheu o projeto para dar uma arrumadinha, mas vai ser complicado ajeitar aquilo.

Ele diz que não quer (na verdade, disse “não queremos”, mas quem entra nesse plural?) acabar com o consumo de álcool; quer é que isso não seja feito em nenhum local público, “na frente das crianças”. O projeto pede rigor e multa. E, então, vão multar os bêbados sem teto que exibem garrafas de pinga sob os viadutos? Igreja é lugar público? Vá lá que não seja. Vão impedir o vinho em missa campal?

Impedir genericamente que se beba em locais públicos para reduzir o número de atropeladores bêbados… Que tal, excelência, apresentar um projeto acabando com os políticos para reduzir a corrupção?

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