De tanto ver triunfar o anonimato, a gente volta e meia se pega pensando em como seremos homenageados no futuro — tomara — distante. Já imaginou seu nome impresso em letras brancas sobre um fundo azul, cobertas por uma resina que facilita a leitura à noite? Resta saber onde fincariam a placa, já que, por motivos legislativos, você não estará aqui para opinar. Em São Paulo, é preciso abotoar o paletó de madeira para ganhar um crachá público todo seu.
Onde você pretende passar seus dias de placa? Sei de quem queira ser cremado e ter as cinzas depositadas aos pés do Fauno, a escultura de Victor Brecheret no Parque Trianon. Outro gostaria de ser enterrado na Praça do Pôr do Sol, no Alto de Pinheiros, para que os incensos ali queimados adocem suas narinas espirituais.
Escolher logradouro é complicado, ainda mais quando se legisla em causa própria. A Avenida Paulista, claro, é um sonho dourado de muita gente, mas, pessoalmente, acho bastante difícil comover os órgãos que batizam as vias públicas da cidade a fazer alterações.
Há mais de vinte anos, um movimento afastou o “perigo” de mudar o nome da Rua da Consolação, no trecho que vai da Alameda Santos até a Rua Estados Unidos. Seria Rua Carlos Drummond de Andrade, em homenagem ao autor que, neste ano, completa três décadas de falecido. Rejeitado nos Jardins, o poeta acabou se instalando numa praça da Vila Morumbi e numa passarela do centro — além de batizar ruas em outros 119 municípios brasileiros.
Virar rua pode ser legal, desde que não joguem o nome da família numa biboca tão escondida que nem os aparelhos mais modernos de GPS consigam localizar. Rua de terra, sem o menor sinal de saneamento básico, conta ponto? Só se o homenageado for um militante radical da luta contra o asfalto.
Quem não gostaria de ser alameda charmosa e lotada de lugares da moda? É um dengo in memoriam: a iluminação pública é mais clara, a segurança tem reforços particulares e o calçamento é uma maravilha, com românticos paralelepípedos.
Se houver hierarquia entre as almas madrinhas de rua, a localização deve ser um critério. Alamedas esnobam avenidas, que por sua vez suportam a turma das ruas, a esmagadora maioria. Becos e travessas não são levados muito a sério. Mas nada chega ao desolador isolamento de passarelas e passagens. Se for passagem subterrânea, então, o deboche é maior. Vira “o buraco do fulano”, sem cerimônia e com mil piadas infames anexadas.
Na maior parte das situações, nem imaginamos o que fez um determinado sujeito merecer a honraria de batizar uma praça ou rua. Em alguns casos, como o do político Peixoto Gomide, o esquecimento é até bom. Em 1906, ele matou a filha a tiros e se matou em seguida, inconformado com o casamento da moça. Tendo sido governador interino de São Paulo, Peixoto virou uma rua importante na região dos Jardins.
Por mais que você sonhe em virar nome de rua, viaduto ou pracinha, tenha em mente que a lembrança pode ser efêmera. A placa com seu nome pode durar uma eternidade ou acabar na canetada de um vereador que quer homenagear o primo de uma tia-avó de sua mulher.