Peça “Eu Te Amo” vale mais pelo texto do que pela encenação
Adaptação do filme de Arnaldo Jabor para os palcos exige pouco do elenco e deixa de imprimir personalidade teatral
Adaptação homônima de Arnaldo Jabor para seu próprio filme, a comédia dramática “Eu Te Amo” conserva o frescor em seu discurso e nos irônicos diálogos. Protagonizado por Sonia Braga e Paulo César Pereio, o longa-metragem lançado em 1981 causou frisson, sobretudo pelo jogo erótico estabelecido entre os personagens centrais, dois desconhecidos entregues a uma paixão no desespero de amenizar frustrações amorosas.
Em sua segunda transposição para os palcos — a primeira, de 1987, trazia Bruna Lombardi e Paulo José —, os atores Juliana Martins e Alexandre Borges interpretam Maria e Paulo. Depois de um bate-papo via internet, o casal marca um encontro. Ele é um cineasta falido, foi abandonado pela mulher e está afogado no álcool e na solidão. Maria, por sua vez, se apresenta como Mônica e mente ser uma garota de programa, enquanto só pensa em se vingar do amante que a despreza.
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O carisma de Alexandre Borges desperta simpatia e humaniza o personagem, afastando o estereótipo do homem canalha. Embora esforçada, Juliana carece de nuances para valorizar seu papel. É lógico que, como obra independente, qualquer comparação com a fita torna-se indevida, mas fica difícil não fazê-la principalmente porque a direção de Rosane Svartman e Lírio Ferreira (não à toa cineastas) aproxima o espetáculo da linguagem cinematográfica.
A iluminação linear e o cenário branco, transformado em tela para receber projeções excessivas, esvaziam a encenação e levam o espectador a se lembrar de Sonia Braga e Pereio diante de tantas imagens. Ao deixar de imprimir uma personalidade teatral e exigir pouco do elenco, esta versão de “Eu Te Amo” sobressai mais pelo texto do que como montagem.
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