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Instituto Butantan sofre grave crise, com denúncia e investigação

Trocas na diretoria escancaram problemas de gestão da instituição

Por Mariana Zylberkan e Sérgio Quintella
23 fev 2017, 20h11

Um dos maiores centros de produção de vacinas do país, o Butantan passa por uma crise sem prece- dentes. Ela culminou na exoneração de seu diretor, o cientista Jorge Kalil, no cargo desde 2011, na terça (21). O estopim ocorreu há duas semanas, quando veio a público o conteúdo de uma auditoria de 2015.

A investigação, realizada a pedido da Secretaria Estadual da Saúde, à qual o instituto está vinculado, apontou uma série de irregularidades na gestão. Entre os objetos de questionamento estão contratos duvidosos, a construção de um laboratório de hemoderivados nunca inaugurado e o uso do cartão corporativo para despesas pessoais.

Esse último caso, por exemplo, inclui duas viagens do então diretor Jorge Kalil com passagens pagas com verba pública (despesa de cerca de 30000 reais). “Eu estava, de fato, em fé- rias na Itália, mas participei de um seminário nesse período representando o Butantan”, afirmou Kalil a VEJA SÃO PAULO.

Dimas Tadeu Covas: o novo diretor do Instituto (Foto: Reprodução/Rede Globo)
Dimas Tadeu Covas: o novo diretor do Instituto (Foto: Reprodução/Rede Globo) ()

Quanto ao laboratório de hemoderivados (custo de aproximadamente 239 milhões de reais), ele deveria ter sido aberto em 2010. “Ficamos esperando a entrega do plasma para usar na produção, mas a matéria-prima, que deveria ser fornecida por uma estatal do governo federal, a Hemobrás, nunca chegou”, justificou ele.

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) também encontrou indícios de problemas. Trechos de um relatório obtidos com exclusividade por VEJA SÃO PAULO apontam prejuízo de mais de 3 milhões de reais na contratação de estruturas metálicas para uma das fábricas do instituto, em novembro de 2013.

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Das cinco empresas inscritas na licitação, três foram desclassificadas por não apresentar balanço auditado, uma exigência apenas no caso de contratos acima de 15 milhões de reais. Ou seja, pela lei, elas poderiam participar do pregão.

A vencedora, a Construteckma, cobrou 6,6 milhões de reais para instalar as estruturas — o menor valor oferecido havia sido de 2,9 milhões de reais, com diferença de 120%. “Essa exigência foi um zelo adicional da fundação, para garantir que a empresa contratada tivesse condições financeiras de assumir uma obra desse porte”, indigna- se Kalil.

O TCE também apura falhas administrativas como o pagamento de contas de água e luz em atraso, o que teria causado prejuízo de 300000 reais só em 2015. Na quarta passada (22) o Ministério Público abriu inquérito contra Kalil por supostas irregularidades em sua administração.

Jorge Kalil, ex-diretor do Butantan: funcionários estão insatisfeitos com a mudança de dirigentes (Foto: Lucas Lima)
Jorge Kalil, ex-diretor do Butantan: funcionários estão insatisfeitos com a mudança de dirigentes (Foto: Lucas Lima) ()

Sinais da turbulência no local vieram a público no começo deste mês, com o pedido de demissão de André Franco Montoro Filho do cargo de diretor da Fundação Butantan, entidade de apoio ao Butantan. Montoro saiu acusando Ka- lil de tentar diminuir sua influência na gestão do negócio. “Ele queria que eu fosse apenas uma ‘rainha da Inglaterra’”, afirma.

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Na época, Montoro revelou a existência da auditoria e de uma investigação da corregedoria do governo estadual por problemas na administração do Butantan. Em viagem a Paris, Kalil foi pego de surpresa.

Enquanto se preparava para voltar ao Brasil às pressas, recebeu a notícia de sua exoneração e o anúncio do substituto, o hematologista Dimas Tadeu Covas, na última quarta (22). “Houve quebra de confiança”, justificou David Uip, secretário estadual de Saúde.

Nesse mesmo dia, ao desembarcar no Aeroporto de Guarulhos, o ex-diretor ganhou recepção calorosa de duas dezenas de funcionários do instituto, que manifestaram apoio com frases como “Butantan é lugar de ciência, não de política”. Covas iniciará sua gestão com o desafio de controlar um orçamento de 1,2 bilhão de reais por ano.

Um dos principais projetos em andamento é a construção da fábrica de vacina contra a dengue, que recebeu no fim do ano passado um investimento de 97 milhões de reais via BNDES.

A pesquisa estava nas mãos de Kalil, e o governo o convidou a continuar no projeto apenas no papel de cientista (ou seja, sem nenhuma ingerência na gestão do negócio e subordinado ao novo diretor). Até o fim da tarde da última quarta, 22, a situação continuava indefinida. “Ninguém falou co- migo ainda sobre isso, e dificilmente vou dar uma resposta positiva”, adianta Kalil. “Se não confiam em mim, como é que posso aceitar essa proposta?”

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