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ABC sofre mais com a crise devido à dependência do setor automotivo

Até movimento de restaurante tradicional caiu 30%

Por Adriana Farias
Atualizado em 1 jun 2017, 16h41 - Publicado em 8 ago 2015, 00h00
Crise no ABC
Crise no ABC (Fernando Moraes/)
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Fundado em 1956, o Florestal Demarchi é uma das principais paradas da tradicional rota do frango com polenta de São Bernardo do Campo. Em um fim de semana de movimento normal, cerca de 2 500 pessoas passam pelo estabelecimento. Do início do ano para cá, no entanto, o salão de 2 000 metros quadrados do restaurante tem registrado grandes vazios. De acordo com cálculos de um dos sócios, Edson Demarchi, o movimento caiu 30% no período. “As famílias estão reduzindo os gastos e saindo menos para comer”, lamenta o empresário.

O cardápio de emergência adotado na casa para enfrentar os tempos bicudos inclui promoções pontuais, com descontos que podem chegar a 25% para casais e a multiplicação de ofertas de reservas em sites de compras coletivas. O esforço envolve também ajustes no quadro de funcionários. “Cinco deles pediram demissão nos últimos meses, e não vamos repor as vagas”, conta Demarchi, que comanda atualmente uma brigada de setenta empregados. A distribuição de bônus salarial por desempenho do negócio, comum até o início de 2014, foi substituída por folgas remuneradas.

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A história do Florestal é um exemplo dos efeitos da atual crise sobre a regiãodo ABC paulista. A situação é aindamais delicada por ali devido à dependênciaeconômica em relação à indústriaautomotiva. De acordo com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados(Seade), ela responde por cerca de 12% dos postos de trabalho locais. As montadoras vivem um dos momentos mais difíceis dos últimos anos. No primeiro semestre de 2015, por exemplo, as vendas de veículos caíram 21% no país, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). De São Bernardo e dos municípios vizinhos saem 16% da produção nacional de carros e 52% dos caminhões fabricados no Brasil.

Crise no ABC
Crise no ABC ()

Em junho, um grupo de manifestantes montou acampamento durante 26 dias em frente à Mercedes-Benz, em São Bernardo, para protestar contra a demissão de 500 operários. No dia 31 de julho, a companhia anunciou que 7 000 empregados, o equivalente a 70% de sua força de trabalho nessa unidade, vão entrar em período de licença remunerada. Até agora, as montadoras do ABC demitiram mais de 20 000 pessoas.

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Entre junho de 2014 e junho de 2015, a região registrou o fechamentode postos de trabalho em um ritm oquase oito vezes maior que o de São Paulo. O metalúrgico Douglas Fuzetti, de 51 anos, não perdeu o emprego na General Motors, mas teve seu contrato suspenso temporariamente em novembro do ano passado, o chamado lay-off (uma parte do salário é paga pela montadora e a outra pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador). “Você fica agoniado com a situação; o jeito é pensar em alternativas”, afirma. Ele tirou dinheiro da poupança da família para investir em cafés.

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Os problemas estão se alastrando rapidamente para outros setores da economia da região, como o varejista e o imobiliário. A comerciante Leiliane Gomes, do Vestidos Sal e Pimenta, amargou a redução de 40% no movimento em 2014. O estabelecimento, especializado em roupas femininas, fica na Galeria Z, no centro de São Bernardo. “Das doze lojas daqui, quatro fecharam”, afirma. Em Santo André, a queda de 50% no movimento de frequentadores do Shopping ABC no início do ano motivou o fechamento do restaurante Hooters, em fevereiro. “Eu me sentia trabalhando à toa sem ter quem receber”, diz a gerente Luisa Costa. “Quando o negócio foi aberto, em julho de 2013, o movimento estava muito bom. Mas no começo de 2015 já estávamos atendendo um número 80% menor de fregueses”, conta.

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A unidade foi transferida para o bairro do Jardim Paulista, em São Paulo. No Grand Plaza Shopping, o impacto foi mais sentido nos setores de eletroeletrônicos e vestuário. “Para manter a taxa de ocupação e evitar a saída de condôminos, negociamos descontos temporários no preço dos aluguéis”, diz Henrique Carvalho, superintendente-geral de shopping centers da CCP, grupo que administra a rede. Segundo lojistas do empreendimento, a redução da despesa mensal chega a 10% em alguns casos.

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Em São Bernardo, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, tradicional ponto de venda de carros, ao menos seis lojas fecharam desde o início do ano. “No próximo mês, vou ter de enxugar a equipe”, lamenta Ronaldo Moreti, dono do ClubCar. “Se isso não resolver, só me restará baixar as portas.” Ele não é o único com esse tipo de problema. Nas concessionárias do ABC, houve em abril uma redução de 15% nos negócios em relação ao mesmo período do ano passado.

No mercado imobiliário, os lançamentos caíram 5,3% e as vendas diminuíram 10% no primeiro semestre, segundo a Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC. “O sentimento é de insegurança por parte do comprador. Ele tem medo de perder o emprego e desiste de adquirir uma propriedade”, afirma Milton Bigucci, presidente da entidade.

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Com os juros altos, o custo do financiamento de bens aumentou e o setor bancário ficou mais restritivo na aprovação de crédito. “O consumidor não compra, o varejo não vende e a indústria não produz”, resume o economista Guilherme Dietze, da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP). A situação anda tão preocupante que a Associação Comercial de Santo André convocou um protesto para esta quarta (12). Batizado de Reage ABC, o evento ocorrerá nas ruas da cidade para chamar atenção para esses problemas. Até a semana passada, 300 empresários haviam confirmado presença.

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