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Contrato para revitalização dos Estúdios Vera Cruz é cancelado

Empresa responsável pelas obras não cumpriu acordo firmado em 2015. Além dos estúdios, as atividades da escola pública de cinema também foram suspensas

Por Mariana Gonzalez Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 24 mar 2017, 15h29 - Publicado em 24 mar 2017, 12h57
 (Mariana Gonzalez/Veja SP)
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Fundada em 1949, a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, foi um modelo de profissionalização para a produção cinematográfica brasileira. Esteve à frente de quarenta filmes, entre eles, títulos memoráveis como Tico-Tico no Fubá (1952) e O Cangaceiro (1953), além da telenovela Sinhá Moça (1953). Passaram por ali artistas como Mazzaropi, Paulo Autran e Tônia Carrero, além dos diretores Lima Barreto e Ugo Lombardi, até seu fechamento, em 1975.

Este ano, o local completa 63 anos em desuso quase total. À exceção de poucas cenas de Carandiru (2003) e Lula, o Filho do Brasil (2010), os estúdios não servem de pano de fundo para longa-metragens desde 1954.

A situação parecia mudar quando, em 2015, a prefeitura de São Bernardo do Campo anunciou que havia firmado um contrato com a companhia Telem (Técnica Eletro Mecânica) para reativar os lendários estúdios. Segundo o edital, a empresa teria direito à concessão pelos próximos trinta anos e deveria investir no local 156 milhões de reais ao longo de cinco anos.

O projeto apresentado à Secretaria de Educação e Cultura previa a instalação de sete estúdios, salas de produção, auditório, cinema e estacionamento, além do Memorial da Companhia Vera Cruz. 

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As obras de revitalização deveriam ter começado em agosto de 2015 mas, até agora, o local continua de portas fechadas, sem nenhum indício de reforma.

 

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Galpões dos estúdios Vera Cruz: sem atividade desde 1954 (Mariana Gonzalez/Veja SP)

O não-cumprimento do acordo fez com que a Procuradoria Geral de São Bernardo do Campo sugerisse à prefeitura rescindir o contrato com a Telem no último dia 15. Por lei, a empresa tem dez dias úteis para preparar a defesa.

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“Vencido esse prazo, abriremos um chamamento público para emissoras de televisão e distribuidoras de filme assumirem a direção dos estúdios”, prometeu o prefeito Orlando Morando em entrevista a VEJA São Paulo. “Essa concessão foi nociva para a cidade”, completou ele.

Nos últimos anos, os galpões cinematográficos estavam sendo utilizados pela Telem como pavilhões para feiras, eventos comerciais e até festivais de música sertaneja. “Isso descaracteriza completamente o espaço, que tem muito valor histórico para o ABC Paulista”, criticou o prefeito.

Procurada, a Telem disse que prefere não se manifestar sobre o assunto.

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As gravações do longa Tico-Tico no Fubá: clássico do cinema brasileiro (Arquivo Companhia Cinematográfica Vera Cruz/Divulgação)

Escola em crise: aulas paralisadas e professores demitidos

Além da revitalização dos estúdios Vera Cruz, a Telem assumiu em 2015 a responsabilidade de gerir o Centro Audiovisual (CAV), uma escola profissionalizante de cinema, televisão e animação gratuita, que deveria ser instalada no complexo.

“Quando soubemos que a escola seria anexada aos estúdios, comemoramos muito”, comenta Mariana França, ex-aluna do CAV. “É um custo alto gerir uma escola de cinema. Pensamos que, com recursos particulares, teríamos uma infraestrutura melhor do que a prefeitura conseguia oferecer àquela altura”.

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Naquele ano, os professores – contratados como pessoas jurídicas – começaram a ter salários atrasados. Apesar de algumas greves e tentativas de negociação, a situação seguiu até o início de março desde ano, quando a empresa reuniu os vinte docentes e funcionários do CAV para comunicar a demissão coletiva.

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O Centro Audiovisual: mais de 700 alunos desde 2012 (Mariana Gonzalez/Veja SP)

O processo seletivo – programado para acontecer no dia 11 de fevereiro, com mais de 1 000 inscritos – foi cancelado, e as aulas estão paralisadas.

O prefeito Orlando Morando garantiu que os alunos voltarão às salas de aula dentro de sessenta dias. A partir da rescisão oficial do contrato com a Telem, o CAV passa a ser gerido pela Secretaria de Educação e Cultura, que fará a recontratação dos antigos professores e, se necessário, de novos profissionais. “Os salários atrasados, no entanto, são responsabilidade da Telem. A prefeitura não tem como assumir uma dívida que não é nossa”, disse ele.

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Com a mudança nos planos, o Centro Audiovisual continua instalado no Centro de Formação dos Profissionais da Educação Ruth Cardoso (Cenforpe), onde está desde a inauguração, em 2012. 

Propriedade da Secretaria de Educação e Cultura, o prédio tem rachaduras aparentes e buracos no gesso. Alguns estudantes denunciaram, inclusive, que algumas salas estão interditadas devido a infiltrações. 

Questionada, a prefeitura negou os problemas na estrutura e garantiu que o local está em “perfeitas condições” e disse que, em dezembro, a escola passou por reformas custeadas pela Secretaria de Educação e Cultura.

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Placa indicativa do Cenforpe, sede do Centro Audiovisual desde a abertura (Mariana Gonzalez/Veja SP)
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