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Conservatório Dramático e Musical não tem alunos

O centenário Conservatório não tem vestibular nem sede fixa

Por Sara Duarte
Atualizado em 5 dez 2016, 19h05 - Publicado em 16 nov 2009, 11h38

Pela primeira vez em 103 anos, o Con­­­­servatório Dramático e Musical de São Paulo encerra um semestre sem nenhum aluno nem festa de formatura. A escola de música que durante quase um século ocupou um imóvel tombado na Avenida São João, no centro, está definhando. Em 2006, a prefeitura determinou a desapropriação do edifício e de sua biblioteca, composta de 19 000 volumes, entre partituras manuscritas e livros, muitos deles raros. A instituição entrou na Justiça para tentar anular os dois decretos, mas perdeu. Acabou sendo despejada em junho do ano passado. Temendo ficar sem diploma, dez estudantes transferiram-se para a Faculdade de Artes Alcântara Machado (Faam). Os demais passaram a ter aulas em salas emprestadas – primeiro no Sindicato dos Condutores em Transportes Rodoviários de Cargas, depois na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI). ‘ Como não temos mais sede fixa, neste fim de ano não haverá exame de admissão e não existe data prevista para abertura de novas turmas ‘, afirma o diretor Júlio da Cruz Navega Neto.

É um fim melancólico para uma entidade que nasceu gloriosa mas acabou asfixiada por décadas de má administração. Criado em 1906, por iniciativa do vereador Pedro Augusto Gomes Cardim, o conservatório foi a primeira escola superior de música e teatro da cidade. Embora tenha sido fundado com dinheiro da prefeitura, sempre foi administrado pela iniciativa privada. Nos primeiros anos, era dirigido por Cardim e pelo regente italiano Luigi Chiaffarelli. Os alunos eram em sua maioria filhos de industriais e fazendeiros de café. Logo se tornou o grande salão social da época: recebia saraus e concertos, além de cerimônias como as da fundação da Academia Paulista de Letras (1909) e da Sociedade de Cultura Artística (1912). Nos anos 20 e 30, viveu seu auge: com professores como o escritor Mário de Andrade e o compositor Camargo Guarnieri, contava com mais de 2 000 alunos e oferecia 230 vagas por ano para o bacharelado em música com habilitação em canto, composição, regência ou instrumentos.

A decadência começou nos anos 40, quando um interventor nomeado pelo presidente Getúlio Vargas expulsou todos os professores italianos e alemães por acreditar que eles formavam uma célula fascista. Com o tempo, o conservatório foi perdendo alunos e importância. ‘ No começo, vivia lo­­tado por ser o único da cidade, mas já nos anos 50 os professores eram muito mal pagos e o edifício estava deteriorado ‘, conta o pianista Gil Carli, da turma de 1957. Recontratado em 1960 e elevado ao cargo de diretor, Camargo Guar­nieri permaneceu apenas dez meses na função. ‘ Ele não conseguiu lidar com o ex­­cesso de burocracia e a estrutura engessada da escola ‘, lembra sua viúva, Vera Silvia Ca­­margo Guarnieri.

Há pouco mais de três anos, o então prefeito José Serra decidiu desapropriar o edifício para poder construir a futura Praça das Artes (veja o quadro). ‘ Como a fundação não soube zelar por seus bens, a prefeitura teve de agir, tornando-os de interesse público ‘, afirma o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil. Tudo o que resta do antigo conservatório são duas dezenas de pianos e órgãos trancados numa sala. Os livros raros fo­­ram doados à Biblioteca Municipal Mário de Andrade e as partituras e os prontuários dos ex-alunos entregues ao Centro Cultural São Paulo. A administração mu­­nicipal depositou em juí­zo 4 milhões de reais pelo prédio e mais 170 000 reais pelo acervo. Mas a fundação ainda não pôde receber a indenização porque tem uma dívida de 689 000 reais em IPTU e taxa de lixo. ‘ Enquanto não tivermos a certidão negativa de débitos, não podemos mexer no dinheiro destinado à nova sede ‘, explica Navega Neto.

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LOCALIZAÇÃO ESTRATÉGICA

Com inauguração prevista para 2011, o complexo da futura Praça das Artes está avaliado em 100 milhões de reais e ocupará uma área de 28 500 metros quadrados entre a Praça Ramos de Azevedo, a Avenida São João e as ruas Conselheiro Crispiniano e Formosa. As obras começaram em maio deste ano, com a demolição de todos os imóveis da quadra, exceto da estrutura original do conservatório e da fachada do Cine Cairo, que servirá como portal do polo cultural. O consórcio Construcap Triunfo foi contratado para construir as estruturas que abrigarão a Orquestra Sinfônica Municipal, a Orquestra Experimental de Repertório, o Balé da Cidade, o Coral Lírico Municipal, o Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo e o Coral Paulistano. No antigo prédio do conservatório funcionará o Museu do Teatro. As escolas municipais de música e bailado serão transferidas para lá.

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