Colégios investem no 3D para atrair atenção dos estudantes
Ao menos treze escolas da capital aderiram à tecnologia
O ritual já é conhecido: chegar ao ambiente escurinho, receber o par de óculos, acomodar-se na cadeira acolchoada e esperar as imagens saltarem da tela em direção ao espectador. Pegar um cineminha em três dimensões não é mais incomum, em especial para os paulistanos com menos de 15 anos.
A novidade, agora, é que, em vez das animações engraçadinhas da Pixar e dos heróis da Marvel, os protagonistas desses efeitos são glóbulos vermelhos, triângulos isósceles e partículas de CO2, que começam a se multiplicar em aulas high-tech nos colégios da cidade. “Precisamos falar a mesma língua dos alunos. Com as lições em 3D, eles se interessam e fazem várias perguntas”, relata Sueli de Oliveira, diretora pedagógica do Mater Dei, no Jardim Paulista, que estreou o recurso em agosto do ano passado.
Física, química, biologia e matemática são as principais disciplinas do material disponível para esse tipo de didática, que pode ser aplicada em todas as séries. “Eu fico pensando no que assisti durante muito tempo e, por isso, memorizo tudo facilmente”, diz Maria Laura Preuss, de 13 anos, que cursa lá o oitavo ano.
Ao menos treze escolas da capital aderiram à tecnologia, a exemplo do Certus, na região de Interlagos. “Na minha época de estudante, era necessário forçar a imaginação para entender como funciona o DNA, enquanto hoje a compreensão é muito mais simples”, compara a professora Joyce Martis, responsável pelas aulas em terceira dimensão do colégio, que adotou os softwares da empresa paulistana😄 Education em fevereiro.
Os colégios São Luís e Santa Maria estão entre os que preparam a integração da parafernália à grade curricular. O investimento médio é de 30 mil reais. Os maiores gastos são com os óculos, que custam cerca de 200 reais cada um.
Algumas escolas, como a Beit Yaacov, na Barra Funda, vão além. “Estamos construindo uma sala multimídia especialmente para essa finalidade, e os alunos não param de nos perguntar sobre isso”, diz Matthias Meier, cujo cargo é uma boa amostra da atual era do ensino: ele é diretor de tecnologia educacional.
Iniciativas como o 3D e os tablets podem ser aliadas. Mas o emprego dessas ferramentas, por si só, não significa melhora no aprendizado. “As pirotecnias são úteis, mas não excluem a necessidade de leitura e discussão”, afirma Neide Noffs, pedagoga e diretora da Faculdade de Educação da PUC. Ou seja, o crescente entusiasmo da turma com lousas digitais e aplicativos divertidos não deve substituir o empenho dos professores nem o uso dos livros.
“Nenhum adolescente dos dias de hoje ficará impressionado por muito tempo com uma projeção em 3D”, acredita Ronaldo Lemos, coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Faculdade Getúlio Vargas. “Para oferecer boas aulas e manter o interesse, é preciso mais do que dourar a pílula com novos recursos.”
Matéria da prova 2.0
As disciplinas mais comuns para as lições que parecem saltar da tela são:
Biologia: na lista dos vídeos favoritos dos alunos, está a viagem por dentro do olho humano. Uma caveira ajuda a explicar os detalhes anatômicos, enquanto o globo ocular pula para perto da turma.
Matemática: o recurso é usado para as aulas de geometria. Triângulos flutuam no meio da sala enquanto o professor explica a relação entre os lados e, com um clique, modifica a figura em questão.
Química: um carro passa pela tela e solta sobre os estudantes uma densa fumaça preta. Em alguns instantes, estarão espalhadas pelo ambiente partículas de CO2 que, logo depois, farão um buraco na camada de ozônio.
Física: ondas de som e luz são alguns dos conceitos de difícil ilustração que parecem mais palpáveis na versão 3D. Astronomia e física atômica também costumam empolgar.