Cia. La Mínima tem duas peças com temas circenses em cartaz
Fundadores da companhia, Fernando Sampaio e Domingos Montagner se conheceram no Circo Escola Picadeiro e já montaram nove espetáculos desde 1997
Há vinte anos, o circo enfrentava um período de vácuo criativo em São Paulo. O que se via, geralmente nas periferias, parecia um desbotado retrato em comparação ao passado. Foi nesse contexto desolador que os paulistanos Domingos Montagner, de 48 anos, e Fernando Sampaio, de 45, se conheceram nas aulas de preparação física do Circo Escola Picadeiro e decidiram dedicar-se à arte da palhaçada. Mesmo sem noção do pioneirismo, Montagner e Sampaio, ao lado de outros artistas, como Hugo Possolo, Beto Andretta e Jairo Mattos, iniciaram um processo de valorização, garantindo que lugar de palhaço não é apenas no picadeiro. É no teatro também, em palcos convencionais, com espectadores acomodados em poltronas aveludadas.
Desde 1997, a dupla forma a Cia. La Mínima e montou nove espetáculos, todos baseados na arte do picadeiro. Há um mês, eles ocupam o Teatro Cleyde Yáconis, no Jabaquara, com três de suas bem-sucedidas montagens. Dirigida pelo italiano Leris Colombaioni, ‘À La Carte’ (2001) abre a programação, que tem sequência com a adaptação das tiras do cartunista Laerte, ‘A Noite dos Palhaços Mudos’ (2008), e a comédia ‘O Médico e os Monstros’ (2008), texto de Mário Viana dirigido por Fernando Neves, em cartaz a partir de agosto. Antes de chegarem aos palcos, as peças são ensaiadas e testadas nas ruas. ‘Rádio Variété’, que estreia em setembro, a mesma época em que será lançado um livro com o registro da trajetória do La Mínima, já recebeu o retorno dos transeuntes. “O público da calçada sente-se um amigo do palhaço, principalmente nas apresentações no centro da cidade”, afirma Sampaio.
A palhaçada está na moda, e a prova não é apenas a boa frequência às montagens do La Mínima. Montagner acaba de ministrar uma oficina de clown no Galpão do Circo, na Vila Madalena. Para as vinte vagas disponíveis, surgiram 260 interessados. E mesmo o filho de Sampaio e os outros dois de Montagner, todos entre 3 e 8 anos, podem sonhar com futuro semelhante ao dos pais. Já participam dos espetáculos em pequenas interferências. São estimulados, desde que devidamente maquiados, com figurino e seguindo as ordens do diretor. “A gente faz questão de que fique claro para eles que aquilo é trabalho, e não brincadeira. Se participam, precisam levar a sério”, diz Montagner.