De pensão a mansão: arquitetos recuperam imóvel centenário da Vila Buarque
Após seis anos de reformas, casarão na Barão da Tatuí vai abrigar novo comércio e eventos em terraço de 150 metros quadrados
Moradores da Vila Buarque há mais de vinte anos, dois arquitetos assumiram o desafio de restaurar um casarão centenário na Barão de Tatuí, rua repleta de bares, cafés e restaurantes. Após desembolsarem quase 4 milhões de reais em seis anos de obras, o projeto está pronto e eles têm o objetivo de que vire ponto de encontro no bairro.
+ A hora da estrela: Lilia Cabral volta aos palcos paulistanos após dez anos
“Muitos têm perguntado o que teremos por aqui. Produtoras de vídeo e escritórios de arquitetura já nos procuraram”, adianta Giuliana Martini, que dirige o espaço ao lado do sócio, Lorenz Meili, e espera ver o térreo ocupado por café, livraria ou galeria de arte.
“Vamos alugar para algum comércio, algo que dê acesso visual e entrada ao público, porque esse tempo de reformas nos mostrou como a casa faz parte da vida de várias pessoas da região.” Giuliana se lembra de ter descoberto o endereço quando o local abrigava uma pensão “caindo aos pedaços”, com o assoalho podre e uma laje com quartos improvisados entre o pé direito de 5 metros de altura.
Após a compra, em 2015, eles trocaram todo o “miolo” deteriorado da construção por novas estruturas metálicas e criaram um terraço de 150 metros quadrados na cobertura (o casarão tem 220 metros quadrados de área construída e 220 metros quadrados de área externa), sem desfazer a aparência da casa.
“Dá para dizer que estamos valorizando tudo o que é original e revelando ainda mais. Além da fachada frontal preservada, descascamos as paredes e optamos por deixar os tijolos centenários aparentes.” Enquanto os tijolos ficam em evidência, a origem do imóvel é incerta — mas cheia de boatos.
“Toda hora surge uma história maluca: dizem que quem construiu foi o médico Manuel de Abreu, inventor de um diagnóstico precoce da tuberculose, outros falam que já morou padre e que chegou a ser usado como ponto de droga”, conta Giuliana. A única certeza é que foi construído em 1909, o que atraiu ainda mais os arquitetos.
“Com a imagem do ‘antes e depois’, finalmente está claro como vale a pena preservar esses lugares, mas em alguns momentos nossos amigos achavam que éramos loucos por assumir a iniciativa.” A empreitada demorou vários anos por, pelo menos, dois fatores: as muitas etapas para as aprovações necessárias na prefeitura e o investimento, que saiu todo do bolso deles e da Jamelo Arquitetura, a empresa comandada pela dupla.
+ “Não caia na glamorização do empreendedorismo”, diz Ana Fontes
“Eu não esperava todas as dificuldades quando começamos a mexer nessa ‘senhora’, a casa, mas agora até temos trabalhos similares encaminhados na cidade.” Além do térreo em conceito aberto, o jardim no fundo do lote e o topo do edifício foram pensados como “praças”, áreas comuns para eventos e lugares de encontro ou para o uso de inquilinos.
“Tudo depende do retorno que teremos agora, seja alugando como queremos ou com uma proposta muito boa de compra. Enquanto isso, o terraço será o camarote e é lá que faremos a farra no próximo Carnaval”, diverte-se.
+Assine a Vejinha a partir de 12,90.
Publicado em VEJA São Paulo de 16 de março de 2022, edição nº 2780