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Casarão Nhonhô Magalhães reabre em alto estilo após reforma de 15 milhões

Prédio construído em 1930 foi completamente restaurado e supera um passado marcado por lendas urbanas e pelo uso policial

Por Pedro Carvalho
10 jun 2022, 06h00
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  • O Casarão Nhonhô Magalhães será reaberto. Ou melhor: será, enfim, aberto. Um dos mais icônicos palacetes da época do café, instalado na esquina da Avenida Higienópolis com a Rua Albuquerque Lins desde 1937, o imóvel nunca recebeu visitantes de forma regular. Restaurado ao custo de 15 milhões de reais pelo Shopping Pátio Higienópolis, proprietário do espaço, ele passará a acolher eventos de marcas, casamentos, jantares, desfiles de moda, encontros culturais e outras reuniões para até 200 pessoas.

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    “Acredito que é o principal investimento privado em restauro de patrimônio já feito em São Paulo”, afirma Antônio Sarasá, responsável pela restauração, que também trabalhou na recuperação de endereços como a Sala São Paulo, a Pinacoteca e o Teatro São Pedro. “Não conheço outro restauro com o mesmo nível de sofisticação na cidade”, completa Marcos Mendonça, ex-secretário estadual de Cultura e atual diretor-geral do Museu da Imagem do Som (MIS).

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    Carlos é um homem magro, branco, de barba e cabelos castanhos. Posa em frente a uma parte do Casarão em pré, com as mãos no bolso. Usa suéter azul, calça jeans e tênis branco
    Carlos Jereissati Filho, empresário do Grupo Iguatemi, gestor do Casarão: “não vamos topar qualquer aluguel” (Alexandre Battibugli/Veja SP)

    Além de cara e minuciosa, foi uma empreitada longa. Teve início em 2009, época em que o palacete, um imóvel tombado pelos órgãos de patrimônio do estado e do município, tinha sido transformado em uma triste e burocrática repartição pública.

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    O Casarão, de 2 300 metros quadrados, começou a ser construído em 1930 por Carlos Leôncio de Magalhães, conhecido como Nhonhô — abreviação de “sinhô”, o apelido dos donos de terra na época da escravidão. Nascido em Araraquara e filho de fazendeiros, Nhonhô Magalhães encomendou o palacete para dar festas e jantares — o prédio vizinho, um imóvel de quatro andares atualmente ocupado por uma congregação católica, foi construído para acomodar os convidados. Morreu um ano após o início das obras, vítima de câncer. A viúva, Ernestina, mudou-se para a residência, onde viveu um novo drama: dois filhos morreram no local, um na banheira, o outro enforcado no lustre.

    Antônio é um homem de meia-idade, branco, magro e de cabelos e barba grisalhos. Posa em frente a uma parede do Casarão que foi restaurada. Usa camisa azul e calça jeans
    Antônio Sarasá, restaurador: “Cada centímetro da casa precisou ser restaurado” (Alexandre Battibugli/Veja SP)

    Cercado por lendas urbanas, o Casarão acabou vendido ao governo estadual em 1952. Em 1974, auge da ditadura militar, passou a abrigar a Secretaria de Segurança Pública. Seguiria ligado aos órgãos policiais — posteriormente como sede da Delegacia Antissequestro — até ser vendido ao Shopping Pátio Higienópolis, em 2005, por 19,5 milhões de reais. “Quando começamos o restauro, as paredes estavam todas pintadas de branco”, conta Sarasá (na foto acima, ele mostra uma delas, que teve a pintura original restaurada após a retirada de sete camadas de tinta).

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    Isabel é uma mulher de meia-idade, branca e magra. Usa uma saia preta e um blazer azul e posa em uma das áreas externas luxuosas do Casarão. Tem cabelos lisos e castanhos no ombro
    A paisagista Isabel Duprat: parentesco com Nhonhô (Alexandre Battibugli/Veja SP)

    “O chão de madeira original tinha sido coberto por carpete. Os janelões, retirados para dar lugar a aparelhos de ar-condicionado”, ele diz. No lado de fora, os antigos ocupantes também deixaram marcas. “Áreas de jardim estavam cimentadas para servir de estacionamento improvisado”, diz Isabel Duprat, responsável pelo novo paisagismo do imóvel e uma das mais respeitadas profissionais da área no país — e, também, parte da família do Casarão: uma das filhas de Nhonhô se casou com o irmão do avô da paisagista.

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    Parte de trás do Casarão, voltada ao shopping. O prédio branco tem arquitetura antiga e luxuosa
    Parte de trás do Casarão, voltada ao shopping: integração (Alexandre Battibugli/Veja SP)

    Após treze anos em recuperação, o Casarão, que passa a se chamar Casa Higienópolis, ressurge de forma impecável. Basicamente, todas as estruturas à vista são originais: a porta de estilo mourisco, os vitrais que vão do clássico ao art déco, o anfiteatro com ares modernos, as portas e batentes de madeira entalhada, os azulejos ingleses e alemães dos banheiros, os pisos de madeira. “O desafio foi agregar o conforto do século XXI”, diz Luciana Teperman, responsável pela arquitetura do interior. “O ar-condicionado, por exemplo, ficou ‘escondido’ em estruturas parecidas com a madeira original”, ela conta. Na entrada, o novo bar tem balcão de mármore e paredes revestidas com folhas que contêm ouro. “O jardim ganhou pitangueiras, jabuticabeiras e outras espécies”, diz Isabel Duprat.

    bar do Casarão
    O bar da entrada: sofisticação (Alexandre Battibugli/Veja SP)

    Tanta sofisticação terá seu preço. Um evento no Casarão não sairá por menos de 40 000 reais — só pelo espaço. “Fizemos um evento teste da Gucci e um casamento. Não vamos topar qualquer aluguel, haverá uma curadoria”, diz Carlos Jereissati Filho, empresário do Grupo Iguatemi, que faz a gestão do Pátio Higienópolis e detém 11,5% da propriedade do centro comercial.

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     CENAS DO RESTAURO

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    De cima para baixo, detalhes da recuperação iniciada em 2009: a tinta que cobria as paredes teve de ser retirada com solventes e bisturi; entalhes de madeira haviam sido pintados de preto; o chão original ganhou nova vida; os vitrais vão do clássico ao art déco; a fachada voltou ao aspecto antigo; e a parede do anfiteatro

    Trabalhador pinta parede

    Trabalhador entalhando parte de madeira do Casarão
    (Estúdio Sarasá/Divulgação)
    Mural de madeira no chão do Casarão
    (Estúdio Sarasá/Divulgação)
    Trabalhador pinta vitral
    (Estúdio Sarasá/Divulgação)

    Trabalhador de capacete lixa afrescos brancos do Casarão

    Trabalhador pintando parede com tinta marrom
    (Estúdio Sarasá/Divulgação)

    Mas será possível aproveitar o Casarão — ou partes dele — fora dos eventos privados. Quando o governo vendeu o imóvel, em 2005, o edital previa que uma área fosse destinada ao uso público. Em 2020, o andar inferior passou a abrigar o Paço das Artes, um espaço de exibições gratuitas ligado ao MIS que ocupará o local por vinte anos. “É a primeira vez que temos uma casa fixa, o que vai ajudar a formar uma identidade para a instituição”, diz Larissa Souto, coordenadora de projetos do Paço, que já teve como lares provisórios o MIS e a USP.

    Luciana, arquiteta de interiores, sentada em um luxuoso sofá verde oliva brilhante no Casarão. Atrás há duas grandes janelas com cortinas que voam com o vento. Ela é uma senhora idosa, branca e magra, de cabelos curtos e loiros. Usa uma roupa inteiramente preta.
    Luciana Teperman, a arquiteta de interiores: “conforto do século XXI” (Alexandre Battibugli/Veja SP)
    Grande anfiteatro do Casarão
    O anfiteatro: flerte com o design moderno (Alexandre Battibugli/Veja SP)

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    Entrada do Paço das Artes, que dá para fora do Casarão.
    Larissa e Mendonça, no Paço das Artes: uso por vinte anos (Alexandre Battibugli/Veja SP)
    Interior do Paço das Artes, com colunas brancas com quadros e pinturas
    Paço das Artes (Alexandre Battibugli/Veja SP)

    Além disso, o Casarão integra as Jornadas do Patrimônio, passeios culturais da prefeitura. Será também o ponto de partida do ARQ TOUR, um roteiro que vai explorar a arquitetura de Higienópolis. “É um dos últimos casarões do bairro, porque surgiu após a quebra da bolsa de Nova York, que levou a uma crise do café. A partir dali, vieram os edifícios”, explica o arquiteto André Scarpa, que organiza os passeios.

    E, quase um século depois, o palacete terá enfim as festas e jantares imaginados por Nhonhô. Feito para agradar a elite dos anos 1930, tem tudo para conquistar a nova aristocracia paulistana.

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    Publicado em VEJA São Paulo de 15 de junho de 2022, edição nº 2793

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