Pontos de reabastecimento de carros elétricos devem triplicar neste ano em SP
Corrida de investidores agita mercado na cidade; o número de veículos elétricos disparou na pandemia
São Paulo, a cidade que vive ligada na tomada, deve ter um boom da mobilidade elétrica em 2022. Embalado por investimentos feitos nas últimas semanas, o setor prevê que a metrópole vai triplicar os pontos de recarga para veículos movidos a esse tipo de energia: de 500 para 1 500 endereços até o fim do ano.
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São carregadores instalados em locais como shoppings, mercados e estacionamentos — quase todos gratuitos, uma regalia que deve durar pouco. Um dos protagonistas dessa corrida é a Tupinambá, startup paulistana criada em 2019. No fim de janeiro, a Raízen (sócia da distribuidora Shell) anunciou um investimento de 10 milhões de reais na marca, feito em conjunto com o fundo Plataforma Capital.
O dinheiro será usado para multiplicar a rede da Tupinambá, atualmente com oitenta pontos na cidade — os números se referem sempre aos itens públicos, ou seja, não incluem equipamentos instalados nas casas dos donos de veículos. “Até dezembro, teremos pelo menos 500 pontos na capital paulista”, diz Davi Bertoncello, fundador da Tupinambá. Ou seja, dos 1 000 novos carregadores na cidade, 420 seriam instalados pela marca.
O executivo é um dos diretores da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), responsável pelas projeções. Outro gigante na disputa é a Estapar, rede que possui aproximadamente 300 estacionamentos em São Paulo, alguns em locais de enorme circulação, como o Aeroporto de Congonhas, o Shopping Center Norte e o Allianz Parque.
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A empresa aposta no segmento desde o fim de 2020, quando fez uma parceria com a EnelX (braço de inovação da concessionária Enel) para criar a Ecovagas, que tem cerca de 120 pontos na cidade. Em janeiro, a Ecovagas se fundiu com a Zletric, startup avaliada recentemente em 50 milhões de reais.
“Juntos, planejamos acrescentar 250 pontos na cidade em 2022”, diz André Iasi, CEO da Estapar. “Na semana passada, estivem um evento sobre mobilidade elétrica no banco BTG. É consenso entre os investidores que o setor vive um ponto de virada”, afirma.
A má notícia é que o “almoço grátis” para os donos de carros elétricos está perto do fim. Até agora, as principais empresas do setor conseguiam abrir mão de cobrar pela energia fornecida aos veículos, pelo menos na maioria dos pontos de recarga. A conta era paga por diferentes arranjos, como a exibição de publicidade em totens de carregamento. Isso deve mudar.
“Em algum momento a indústria vai ‘virar essa chavinha’”, afirma Bertoncello. “Estamos discutindo, na ABVE, para que as concorrentes façam isso de forma conjunta”, ele conta. No caso da Ecovagas, os carros das montadoras parceiras da Estapar, como a Volvo e a Stellantis (dona de marcas como Fiat, Jeep e Peugeot), devem manter o uso gratuito.
“Outros veículos, que até agora não pagavam, passam a pagar nos próximos meses”, afirma André. Na Tupinambá, permanecerão grátis alguns carregadores que também são frutos de parcerias corporativas.
Em novembro, por exemplo, a empresa firmou uma aliança com o Carrefour. A rede de supermercados tem cinco pontos de recarga em funcionamento em São Paulo e deve instalar mais dez no primeiro semestre. Nesse caso, a conta é paga por anúncios nos totens de abastecimento.
Além disso, o Carrefour atrai os donos dos veículos, normalmente um público endinheirado, para os hipermercados. “Em dezembro, tivemos 106 recargas em nossos cinco pontos na cidade. Em janeiro, foram 141”, diz Patrícia Lima, gerente comercial do Carrefour Property, braço imobiliário do grupo. “O equipamento traz clientes das classes A e B para as lojas”, diz.
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Ainda assim, será mais barato que abastecer com os combustíveis tradicionais. Modelos elétricos econômicos gastam atualmente cerca de 11 centavos por quilômetro rodado, aproximadamente um quarto do valor despendido nos carros populares à gasolina. Além disso, o custo dos elétricos deve cair.
Em 2022, a Renault vai lançar no país o Kwid EV, que será o mais barato da categoria (na faixa dos 100 000 reais; atualmente, os mais em conta saem por cerca de 140 000). Em novembro, a Câmara Municipal de São Paulo também aprovou um desconto no IPVA dos carros elétricos na cidade, de até 2 996 reais.
Na pandemia, o número de carros elétricos com placa da capital subiu de 5 200 para 12 700. “Em 2021, esses modelos cresceram de 1% para 3% da frota nacional. Na Europa, foi a partir desse ponto que a tecnologia disparou”, diz Bertoncello.
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Publicado em VEJA São Paulo de 16 de fevereiro de 2022, edição nº 2776