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Fundador do Slow Food: “prática dos prazeres deve ser lenta”

Em passagem por São Paulo, criador do movimento Slow Food defendeu a aproximação entre o campo e a mesa nos centros urbanos e o resgate de ingredientes locais

Por Daniel Ottaiano
Atualizado em 5 dez 2016, 18h53 - Publicado em 25 mar 2010, 11h43

A forma descontraída desse jornalista italiano de 61 anos contrasta com a seriedade do tema que debate. Carlo Petrini veio a São Paulo na quarta-feira (24) para conversar sobre o movimento que ele mesmo fundou, em 1989. O Slow Food pode ser considerado a voz da sustentabilidade na gastronomia, e prega a aproximação entre o campo e a mesa nos centros urbanos, o resgate de ingredientes locais, a diminuição da velocidade do ritmo de vida. “A prática dos prazeres deve ser lenta”, disse Petrini, ao iniciar sua explicação.

A vinda de Petrini ao Brasil estava relacionada à segunda edição do Terra Madre Brasil – Encontro Nacional de Ecogastronomia, promovido pela Fundação Slow Food pela Biodiversidade, que aconteceu em Brasília.

O foco do Slow Food, claro, é a alimentação, a cozinha, mas Carlo Petrini defende um novo estilo de vida no mundo que seja mais saudável e respeite a natureza. Durante sua curta visita à cidade, ele identificou um de nossos maiores problemas e usou como exemplo: “demorei meia hora para chegar aqui (Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na avenida Paulista). Aqui, as pessoas passam mais tempo no trânsito do que em casa”.

Ele também elogiou o Brasil, em uma de suas muitas piadas: “aqui (em São Paulo), como em todo o país, há muito jovens. Acho que vou me mudar para cá. Na Europa só há pessoas velhas”.

Diversidade

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A palavra-chave do debate foi diversidade. O jornalista pediu respeito e atenção à agricultura local e afirmou que a gastronomia, assim como o mundo em geral, deve se apoiar em três elementos: o bom, o limpo e o justo.

“A comida está nos comendo”, definiu Petrini, explicando que são produzidos alimentos para 12 bilhões de pessoas, em um planeta em que vivem 6 bilhões. “A metade do que produzimos, jogamos no lixo”.

“Você vai ao mercado e aproveita uma promoção ‘compre dois, leve três’. Então come um e joga dois fora”, explicou o jornalista, que fez um apelo para que as pessoas abram suas geladeiras e observem os alimentos guardados. “Você vai achar uma salsinha implorando para sair de lá”.

Receitas

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Para não “decepcionar” a plateia, como ele mesmo disse, Carlo Petrini decidiu passar duas receitas, da “cozinha das sobras”, afirmando que é possível fazer pratos deliciosos com o que sobrou. A primeira foi da Ribollita – sopa da Toscana que leva pão velho.

A segunda foi do agnolotti, que é uma massa italiana recheada. “Esse recheio, minha mãe e todas as mulheres da Itália faziam com as sobras da semana”.

Como conselho de alguém com longa vida a um jovem, ele disse à plateia: “jovens, é preciso sonhar, voar alto, praticar a utopia”. E sugeriu a criação de um movimento do Brasil, pelo fim da obrigação de pasteurização do leite para se produzir queijos. Como argumento contra o governo para tal lei, ele explicou que o país importa parmesão italiano, por exemplo, feito com leite cru. “A bactéria europeia é melhor que a daqui?”.

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