A candidata a vereadora Simone Martins tem uma plataforma de peso. É de verniz, preta, alta (nunca tem menos de 10 centímetros) e costuma circular pelas costas de homens. Não, você não leu errado. A empresária vive de, literalmente, pisotear e dominar o sexo oposto. Dona de uma danceteria fetichista no centro, ela é conhecida como Rainha Naja, apelido que levará às urnas nesta eleição. “Já tenho pelo menos 1 000 votos garantidos, todos de meus escravos”, garante. Freqüentadores da balada, boa parte de seus súditos é podólatra e sente atração em ser dominado pelas mulheres. “Vou pisar no preconceito contra góticos, gays e sadomasoquistas”, diz Simone, 27 anos. Ela promete transformar garotos em tapete no palanque e no horário eleitoral.
Na lista dos 1 033 postulantes às 55 cadeiras da Câmara Municipal não falta gente com nomes de guerra cu-riosos e estranhos como o de Simone. Há os que apostam em gente famosa para chamar atenção, caso de Seu Madruga, sósia do personagem do seriado mexicano Chaves. Mas boa parte aproveita mesmo a alcunha de profissão, como o Grilo da Lotação, o Curisco do Trio Marron, o Tomás-O Tomate e o Tonhão-Som de Cristal. Alguns fazem campanha até durante o trabalho. Vendedor de doces num semáforo da Mooca, Olício dos Santos, o Sorriso do Farol, distribui seus santinhos e o riso forçado entre uma bala e outra. “Falo com cerca de 1 000 pessoas por dia”, calcula.
Outros candidatos nem precisaram quebrar a cabeça para se registrar. A alcunha saiu assim… por acaso. O representante comercial Ademir da Silva garante que quando se lançou como Ademir Crack nem se lembrou da droga. “Quis dizer craque de futebol, mas não é assim que escreve?”, perguntou. “Tudo bem, eu sou mesmo uma droga com a bola.” A comerciante Laurimar Silva, a Lôla Lôla Lôla, não é gaga. Na hora de preencher o registro de candidatura, ela acabou escrevendo três vezes o apelido em campos errados. “Mas o importante é que eu cumpra minha missão”, diz ela. “Senti um chamado divino para ser vereadora enquanto assistia a uma propaganda do Democratas na TV”, afir-ma Lôla Lôla Lôla, evangélica da Igreja Assembléia de Deus Vem, Vem, Vem ao Senhor.
Apelidos esdrúxulos
Ademir Crack
Partido Verde (PV)
Não, não se trata da droga derivada da cocaína. O representante comercial Ademir da Silva jura de pés juntos que queria escrever “craque”, mas errou a grafia da palavra.
Curisco do Trio Marron
Partido Progressista (PP)
É o apelido do percussionista Geraldo de Almeida, da banda de forró Trio Marron (sim, com “n” no final).
Grilo da Lotação
Partido Social Cristão (PSC)
Perueiro há vinte anos, Adenisio Miguel da Silva passou a ser chamado assim depois que sua velha Kombi começou a ranger como um grilo.
Já-Já
Partido Democrático Trabalhista (PDT)
O desempregado André Colosimo tem fama de ser apressadinho e de querer resolver as coisas rapidamente.
Lôla Lôla Lôla
Democratas (DEM)
A repetição não é gagueira. Ao se registrar, a comerciante Laurimar Silva escreveu, por engano, seu apelido em três campos.
Rainha Naja
Partido Verde (PV)
É o nome de guerra da empresária Simone Martins, dona de uma balada fetichista-sadomasoquista em que as mulheres dominam e pisoteiam (literalmente) os homens.
Seu Madruga
Partido Republicano Progressista (PRP)
Sósia do personagem do seriado de TV Chaves, o candidato Jonas Fontoura Santana garante que se parece com o famoso em tudo, menos na preguiça.
Sorriso do Farol
Partido Trabalhista do Brasil (PT do B)
Vendedor de doces num semáforo da Mooca, o candidato Olício dos Santos distribui sorrisos aos clientes em troca de um voto.
Tomás-O Tomate
Partido Progressista (PP)
O nome veio na infância, época em que o comerciante Anderci Silva (que também é gordinho e corado como o fruto) colhia tomates no interior do estado.
Tonhão-Som de Cristal
Partido Democrático Trabalhista (PDT)
Dono da casa de gafieira Som de Cristal, Antonio Delbucio Neto, o Tonhão, quer conquistar os eleitores com o gingado.