Camelôs uniformizados
Vendedores de farol da Avenida Tiradentes se organizam e aumentam faturamento
Nos últimos meses, os vendedores de farol que trabalham na Avenida Tiradentes, na Luz, passaram a sofrer com um estranha concorrência. Por causa da atabalhoada atuação da prefeitura na Cracolândia, muitos viciados migraram para ruas próximas e começaram a disputar o espaço entre os carros para pedir dinheiro. O número de motoristas que abria o vidro para quem estava oferecendo algum produto caiu. Em agosto, os policiais do 13º Batalhão da Polícia Militar, que patrulha a área, aconselharam os ambulantes a buscar uma forma de se diferenciar. ‘Eles nos falaram que estava difícil saber quem era trabalhador e quem era suspeito’, conta André Guilherme, que atua há dez anos na avenida. Criou-se então a Associação dos Vendedores dos Faróis da Avenida Tiradentes. O passo seguinte foi uniformizá-los.
No começo, apenas vinte deles compraram o colete laranja por 30 reais. Ele é vendido por Marcelo Carvalho, proprietário da Mototex, uma das dezenas de lojas especializadas em uniformes do bairro. Com o tempo, os vendedores à paisana passaram a se sentir peixes fora d’água. ‘Os motoristas só procuravam quem estava de laranja’, diz Carlos Cavalcante, de 35 anos, que desde os 7 ganha a vida em semáforos, shows e estádios. Em menos de dois meses, a associação já reúne setenta pessoas, divididas pelos quatro cruzamentos entre a Rua dos Bandeirantes e o início da Avenida Prestes Maia. ‘Nosso faturamento aumentou pelo menos 30%’, calcula Guilherme. ‘Mas o mais importante é que o colete está melhorando nossa imagem.’ Para Cavalcante, o relacionamento com os motoristas mudou bastante. ‘Até X6 começou a abrir o vidro pra gente’, diz Carlos, referindo-se a um dos modelos mais caros da BMW.
A comercialização de mercadorias e a prestação de serviços nas vias públicas paulistanas estão proibidas desde 1997. Não bastasse isso, muito do que se oferece nos semáforos é contrabandeado, falsificado ou roubado — e não paga um só centavo de impostos. A fiscalização cabe à Guarda Civil Metropolitana. Na prática, porém, ninguém faz nada a respeito e a atividade é tolerada — e como se vê às vezes incentivada. ‘Não somos apenas vendedores, mas prestadores de serviços’, acredita o ambulante Gui¬lherme. ‘Ajudamos a buscar água quando um carro ferve, evitamos brigas e até acabamos com os assaltos.’ Tudo isso, de colete ou não, à margem da lei.