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Caça aos clientes

Os vendedores que não nos deixam escolher e comprar em paz

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 17h46 - Publicado em 24 set 2011, 10h41

Gosto de entrar nas lojas calmamente. Passear olhando os produtos. Ultimamente, tornou-se impossível. Certos vendedores ficam na cola da gente! Dia desses, fui a uma loja de decoração. Uma jovem elegantíssima aproximou-se.

— Já conhece nossa linha?

— Ah, só estou passeando.

É mentira, claro. Quem entra em uma loja tem o sonho de comprar. Falar em olhar é o mesmo que dizer:

— Vê se não enche.

A vendedora era do tipo insistente. Se eu dava dois passos e parava diante de um móvel, corria a abrir as gavetas.

— Veja o acabamento! Preste atenção no detalhe de madeira.

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Fugi, constrangido! Joalherias são as piores. Admiro um anelzinho na vitrine. Pode ser um ótimo presente de Natal! Entro, meio sem jeito com o ambiente em que tudo parece tão caro.

— Queria saber o preço daquele anelzinho.

A mocinha lança um olhar dominador:

— Sente-se.

— Mas…

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Quase me empurra na cadeira. Vai buscar o mostruário. Observo a porta, esperançoso. Poderia sair correndo, perder-me nos corredores do shopping. Tarde demais. Ela retorna com o tesouro de Ali Babá. Mostra. O tal anelzinho é barato.

Sugere uma gargantilha e brincos combinando.

— É só um presentinho… para não deixar passar em branco.

Assume um ar compreensivo.

— Tenho certeza de que ela vai adorar esses brincos de safira.

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Quando vejo, estou pagando em três vezes!

Alguns vendedores se fazem de surdos. Digo uma coisa, respondem outra. Passei pelo drama com uma máquina fotográfica.

— Queria uma bem simples… só para dar um clic!

Mostra um modelo digital. Caríssimo.

— É a última palavra em tecnologia.

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Por pouco não começo a gritar. Ele me atira a lambe-lambe com desprezo.

E roupas, então? Vendedor sabe o significado da palavra impulso. É assim: a gente bota uma roupa no provador. Respira fundo para a calça fechar. A barriga parece sumir. Compra. Em casa, o botão estoura. A camiseta sobe e o umbigo fica de fora! Portanto, tento ser cauteloso.

— Só uma camisa branca.

— Estamos com uma promoção em ternos.

— Ah, terno eu nunca uso!

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Recebo de volta um olhar desconfiado. Como pode existir alguém que não usa terno? Concluí que devo estar mentindo. Cochicha no meu ouvido:

— Aproveita, está a 50%.

— Para pendurar no armário e não usar nunca?

Suas pupilas se fixam em outro cliente entrando. Ar próspero. Suspira. Leio em sua expressão:

— Por que fui atender logo esse chato?

Até em supermercados anda difícil. Estou parado diante dos produtos light, repleto das melhores intenções. Uma demonstradora aproxima-se com a bandejinha lotada de petiscos.

— Aceita?

Ainda não almocei. Tenho vontade de agarrar a bandeja e sair correndo. Respondo cortesmente:

— Agradeço. Mas estou de regime.

Ela sorri e se afasta. Dou dois passos, e ela reaparece na minha frente. Como se jamais me tivesse visto.

— Aceita?

— Bem…

— Este aqui de calabresa é muito bom.

Apodero-me de quatro torradas. Cubro cada uma com um sabor diferente. Experimento o de calabresa mais duas vezes, para ter certeza. Rapidamente, ela indica:

— O produto é este aqui.

Abarroto o carrinho justamente de todos os petiscos que havia jurado nunca mais botar na boca!

Está certo. Não se pode culpar o vendedor. Entreguei meu cartão para débito. Levei os pacotes. Mas, sinceramente, muitas vezes parece que está aberta a temporada de caça aos clientes! Certos vendedores agarram-se a mim como carrapato. E o pior: nem me deixam comprar em paz!

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