A dificuldade para recarregar o Bilhete Único
Usuários enfrentam filas e sistema fora. Por dia, 120.000 pessoas colocam créditos nas 62 estações
Apesar das boas novidades implantadas no metrô paulistano nos últimos anos, como a inauguração da Linha 4 – Amarela e de três novas paradas da Linha 2 – Verde (Tamanduateí, Vila Prudente e Sacomã), um obstáculo anterior às catracas ainda atormenta os passageiros na maioria das estações: a dificuldade na hora de recarregar o Bilhete Único. Desde 2006 o cartão integra a rede sobre trilhos às linhas de ônibus, oferecendo desconto na tarifa de quem embarca no metrô ou trem após ter descido do ônibus e vice-versa. Mas o que deveria ser apenas vantagem para o usuário pode, na prática, se transformar em uma dor de cabeça.
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Por dia, 120.000 pessoas colocam créditos em seus bilhetes nas 62 estações, num total de 4 milhões de reais arrecadados somente nesses pontos de venda. Com a intensa demanda, os poucos guichês que operam — sempre há cabines vazias sem funcionários — apresentam filas, às vezes enormes. Há quem perca até meia hora para ser atendido, situação recorrente na Estação Sé nos horários de pico. A alternativa, os totens de autoatendimento, nem sempre funciona a contento. É comum o sistema ficar horas, eventualmente dias, inoperante.
Na Estação Pinheiros, o serviço sofreu uma pane entre segunda e terça da semana passada, problema que se repetiu na Estação Sumaré. “Muitas vezes preciso comprar passagem unitária do metrô por não conseguir recarregar meu Bilhete Único”, reclama o estudante de fotografia Daniel Garcia. Por causa disso, ele acaba gastando quase o dobro no transporte. Sua amiga, a artista plástica Daniela Cortez, afirma ter desistido do cartão. “O atendimento é tão ruim que às vezes o desconto nem compensa”, diz ela.
Cansado de receber reclamações, o Metrô mudou recentemente a operação do serviço. O contrato com a Planetek, até então responsável pelas recargas do Bilhete Único dentro das estações, foi encerrado para a abertura de uma nova licitação. “Além das falhas tecnológicas, eram comuns reclamações dos passageiros e dos funcionários da empresa”, conta Raimundo Cordeiro, um dos diretores do Sindicato dos Metroviários. Segundo ele, os passageiros se irritavam com a má vontade dos atendentes e estes, por sua vez, reclamavam do desconforto das cabines e da falta de pausa para descanso, inclusive para ir ao banheiro, conforme afirmam.
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No fim de agosto, quatro companhias — Rede Ponto Certo, Serviços Digitais, Perto e Prodata —, cada uma atuando em uma área da rede, assumiram o serviço com o intuito de melhorá-lo. A principal meta do grupo é reduzir filas e reclamações. Para a empreitada dar certo, trocaram os terminais de autoatendimento por versões mais modernas e aumentaram de 26 para 182 o número de máquinas. A quantidade de guichês também cresceu, passando de setenta para oitenta cabines.
Apesar dos investimentos, algumas dificuldades ainda persistem. Nos equipamentos, por exemplo, o usuário insere o Bilhete Único e o dinheiro, obtendo assim os créditos desejados — isso se nada der errado. Eles continuam sofrendo panes e faltam assistentes para ensinar os passageiros a manusear os terminais e resolver problemas.
“Muitos evitam a máquina porque não sabem como usá-la”, reconhece o gerente de operações financeiras do Metrô, Nelson Medeiros Sobrinho. “Mas é uma questão de tempo, pois cerca de 20% das recargas já são feitas nesses locais.” O prazo para as quatro novas gestoras deixarem a operação azeitada se esgotou na semana passada. Nos próximos dias, dez metroviários circularão pelas estações verificando a quantas anda o atendimento. Em caso de problemas, elas serão advertidas ou até multadas.
ESTAÇÃO DE ENCRENCAS
Os números e os problemas mais comuns do sistema
Estrutura
182 terminais de autoatendimento
353 máquinas de vale-transporte
Reclamações mais frequentes sobre as máquinas
1. Sistema fora do ar
2. Falta de atendentes para orientar e resolver problemas
3. Ausência de troco. Por limitação tecnológica, as máquinas não devolvem dinheiro