Big Data, a tecnologia que ajuda a personalizar o ensino
Sistema de inteligência analisa informações de alunos disponíveis na web para captar as necessidades de cada um
Oferecer um curso de cálculo durante o período de férias a quem se matriculou na disciplina de matemática financeira no semestre seguinte ou terminar a aula mais cedo e facilitar o deslocamento dos estudantes para casa. Essas são algumas das ações que as universidades podem adotar com a ajuda do Big Data, como é conhecida a ciência da análise exponencial de dados disponíveis na web. A aplicação da ferramenta na área de ensino é relativamente nova e está chegando agora ao Brasil. O sistema faz uma varredura na internet em busca de todo tipo de informação sobre os alunos. Isso inclui desde as armazenadas em bancos estruturados, como o da biblioteca — para saber qual livro o estudante pegou emprestado—, até outras menos organizadas, obtidas em fontes não oficiais. É possível, por exemplo, compilar comentários publicados em blogs e redes sociais.
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De posse dessas informações, uma escola ou faculdade tem condições de avaliar o grau de entendimento do conteúdo aplicado em classe ou até quantificar o tempo gasto por dia para chegar ao câmpus. “Há muita redundância e lixo nesse material disponível em diversos sites, mas estamos descobrindo como usar os dados que estão soltos pela rede”, afirma o especialista Claudio Pinhanez, gerente de sistemas de serviços do Laboratório de Pesquisas da IBM Brasil, que desenvolve estudos na área. “Até hoje o acompanhamento do aluno era muito básico. O segredo daqui para a frente será usar mais fontes para captar melhor suas necessidades.”
No Brasil, uma das instituições pioneiras na aplicação do Big Data na área de ensino é a Anhanguera Educacional, grupo baseado em São Paulo que controla dez unidades na capital e outras 61 no país. Na rede, o sistema começou a ser utilizado em abril. Hoje, monitora até pesquisas em ferramentas de busca nos computadores da faculdade. “As informações ajudam a avaliar comportamentos que indiquem mudanças na vida pessoal do estudante, como maior dificuldade financeira ou acadêmica”, afirma o presidente da instituição, Roberto Valério, citando os dois motivos mais frequentes para a evasão escolar. “Quando há suspeita de problema, um alerta é disparado ao professor, solicitando que atue mais próximo ao aluno e o ajude a evoluir em determinada disciplina”, explica. Foi o caso de Rodrigo dos Santos, que cursa o 4º semestre de sistemas de informação. “Fiquei oito anos sem estudar após o ensino médio e tive dificuldade para acompanhar as aulas quando entrei na faculdade”, afirma. Após a identificação do aperto via Big Data, ele foi convocado para reuniões com o coordenador pedagógico e passou a frequentar um grupo de reforço escolar. “Minhas notas melhoraram bastante”, comenta. Para dar conta dessa demanda, a Anhanguera mantém um setor de inteligência com vinte profissionais e investirá 2 milhões de reais até 2016.
Na Universidade Metodista, em São Bernardodo Campo, com cerca de 12 000 alunos,o sistema é utilizado de forma experimental há aproximadamente um ano. “Ainda é o começo da iniciativa e os 600 professores estão sendo capacitados para usar a ferramenta”, conta o diretor de tecnologia da informação, Davi Betts. “Esse projeto vai interferir até mesmo na maneira como iremos planejar e desenhar nossos cursos no futuro”, completa.