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Há cinquenta anos estreava a icônica peça ‘O Balcão’

Sua produção foi uma odisseia que gerou dúvidas sobre a concretização do projeto

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 3 jan 2020, 10h57 - Publicado em 3 jan 2020, 06h00
Provocação: Paulo César Pereio, Ruth Escobar e Célia Helena  (Jose Antonio/Veja SP)
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Em 1968, a atriz Ruth Escobar (1935-2017) enfiou na cabeça que colocaria São Paulo no mapa da vanguarda teatral. Depois de importar da França o encenador Victor García para dirigi-la na peça Cemitério de Automóveis, a também produtora resolveu mantê-lo na cidade em nome de um projeto megalomaníaco.

O Balcão, texto de Jean Genet, era ambientado em um bordel frequentado por políticos, policiais, juízes e padres e, na versão de García, argentino radicado em Paris, servia de metáfora para os bastidores da ditadura militar brasileira. Ruth, sem temer represálias, derrubou o palco italiano de seu teatro, na Rua dos Ingleses, na Bela Vista, e começou uma reforma radical para atender às exigências do diretor.

Foi construída uma estrutura de ferro no formato de um cone invertido que ia do porão até o teto, e incluía ao redor as acomodações para o público. As obras levaram mais de um ano, causando brigas e trocas no elenco — afinal, os artistas duvidavam da viabilidade e abandonavam os ensaios. Mas O Balcão não virou lenda e estreou em 29 de dezembro de 1969. Ruth, Raul Cortez, Paulo César Pereio, Sérgio Mamberti, Célia Helena e Ney Latorraca, entre outros, brilhavam em cenas de forte conotação política e carregadas de referências sexuais.

Ruth Escobar na peça “O Balcão”, com direção de Victor Garcia. 1969
Cena do cortejo de religiosos no bordel (Jose Antonio/Veja SP)

No desfecho, o ator Carlos Augusto Strazzer surgia pendurado por cabos de aço, refletindo a imagem do guerrilheiro Che Guevara em uma associação a Jesus Cristo. Em dois anos, O Balcão recebeu espectadores ilustres, como o próprio Genet, vindo de Paris. Ruth, segura de si, deu asas à ambição e, na década de 70, trouxe a São Paulo o americano Bob Wilson, o romeno Andrei Serban e o polonês Jerzy Grotowski, diretores tão controvertidos quanto incensados.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 8 de janeiro de 2020, edição nº 2668.

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