Em festivais, shows e baladas, black music é o som do momento
Seleção musical vai desde veteranos, como o americano George Carlton, a novas caras, como o paulistano Criolo
Entre hits de artistas consagrados e de outros que até meses atrás estavam restritos aos bailes da periferia paulistana, a black music é a onda da vez na noite da cidade, inclusive nas baladas mais elitizadas. No próximo fim de semana, um festival com investimento de 5 milhões de reais vai consagrar essa tendência de culto a hip-hop, rap, funk, soul, blues, reggae e outros gêneros musicais da cultura negra. O Black na Cena reunirá mais de vinte atrações nacionais e internacionais na Arena Anhembi entre sexta-feira (22) e domingo (24), com público estimado em 50.000 pessoas para os três dias.
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“O termo black music se tornou generalizado, queremos contar a história desse movimento”, afirma o criador do evento, Ricardo de Paula. “Afinal, todos os cantores mais conhecidos de hoje, do naipe de Jay-Z e Beyoncé, beberam dessa fonte.” A seleção musical abrange o pessoal das antigas, como o astro do funk George Clinton — na ativa desde os anos 60 e famoso por encabeçar as aclamadas e extintas bandas Parliament e Funkadelic — e o cantor paulista Tony Tornado. Não deixa de lado, entretanto, a nova geração.
Criolo, o rapper paulistano do momento, subirá ao palco em uma participação especial no show da banda Black Rio. Atuante na música há mais de duas décadas, o rapaz do Grajaú, na Zona Sul, estourou neste ano com o álbum “Nó na Orelha”, que inclui o hit “Não Existe Amor em SP” (“Os bares estão cheios de almas tão vazias / A ganância vibra / A vaidade excita…”). Disponibilizado gratuitamente na internet, o disco já teve 200.000 downloads. Outro de seus feitos foi esgotar em apenas três horas os ingressos para um show no Sesc Vila Mariana, em junho. “Quem escreve rap não se contenta com o mundo a seu redor, por isso é uma música de muita força”, diz Criolo. Ao lado de Emicida, Flora Matos e outras figuras de sucessos recentes, ele ajuda a renovar o público dessa cultura, com letras sobre amor e dilemas urbanos que falam aos ouvidos do público de qualquer pedaço da cidade.
“Os artistas da área hoje se comunicam melhor, tratam de temas que são de mais fácil identificação”, diz o promoter Guigo Lima, responsável pela festa Chocolate. Criado em 2002 e há quatro anos com sede fixa no clube Clash, na Barra Funda, o projeto reúne um público de figurino estiloso, entre moderninhos e adeptos do visual black (boné, cabelos trançados, calças largas). Ao som de DJs experimentados, rodas de dança break botam fogo na pista do galpão. Lima também lidera, todas as quintas, na sofisticada boate Lions, a festa Groovelicious, que passeia por outros gêneros além do rap e do hip-hop, como soul e funk.
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Repleta de playboys e patricinhas, a Royal é outro exemplo de casa noturna AAA que adotou esse som. Os baladeiros se mostram interessados em balançar ao ritmo de produções americanizadas de cantores como Ja Rule e Eve — que, aliás, já foram contratados para dar uma palinha nos microfones da casa. Atrações nacionais de peso também estiveram entre os convidados da Royal. Em dezembro passado, Mano Brown, vocalista do Racionais MC’s, especialista em rimar sobre a vida na periferia, fez uma apresentação com ingressos de até 200 reais. No começo deste mês, ele também mostrou seu talento na 3P4, outra boate de luxo, no Itaim. Em casos assim, não faltam críticas à aproximação bissexta de universos, mas o fato é que ela tem dado um bom fôlego para que alguns dos artistas mais criativos da cidade rompam cada vez mais fronteiras.
ONDE DESLIZAR PELO SALÃO
BLACK NA CENA. Festival que traz mais de vinte atrações, nacionais e gringas.
CHOCOLATE. Festa semanal animada por rodas de break.
GROOVELICIOUS. Projeto em uma das baladas da moda com seleção refinada de soul e funk.
G.T.A. Filas de jovens se formam na porta da nova sede do clube Milo, às sextas, para ouvir hip-hop underground.
HIPHOUSE E 2LIVE. A boate Royal dedica duas noites por semana ao hip-hop estrangeiro, sempre misturado com house.
SHOW DO CRIOLO. O rapper paulistano mostra seu álbum recém-lançado, “Nó na Orelha”.
SOUL GLÓRIA. DJs experientes chacoalham o moderninho Glória com hip-hop, R&B e soul.
TALCO BELLS. No estilo dos bailes de soul dos anos 60, a folia quinzenal é guiada pelas vozes de Stevie Wonder, Aretha Franklin e outros. É despejado talco na pista para a clientela deslizar mais facilmente.