Os bailes funk da pesada que acontecem na capital
Prefeitura trabalha na repressão de eventos marcados pelo som altíssimo e pela venda de drogas para menores
Por volta das 23 horas do sábado 17, um comboio formado por 29 carros e quatro motos rasga a Zona Sul a caminho de um bar para atender a uma queixa de perturbação do silêncio. Furando faróis vermelhos e entrando pela contramão, eles percorrem os 4 quilômetros que separam o 37º Batalhão da Polícia Militar do destino final em onze minutos. Um morador grita ao vê-los: “O ‘pancadão’ vai ferver hoje”, diz, numa referência ao apelido das festas funk que estão proliferando na periferia paulistana, uma repetição do fenômeno ocorrido no Rio de Janeiro. A blitz dos policiais tem como alvo a casa noturna B12, também conhecida como “o coração da kebrada”, no bairro de M’Boi Mirim. O clima é tenso. Muitos jovens fogem pelo muro dos fundos, enquanto outros atiram pedras nas viaturas. Saldo da noite: catorze menores encaminhados à delegacia e 36 vidros de lança-perfume e duas máquinas de caça-níquel apreendidas.
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Esse tipo de balada, que reúne de 400 a 2.000 pessoas, entrou para a lista de problemas de segurança pública devido ao som ensurdecedor que brota dos alto-falantes (daí o apelido de pancadão) e à grande frequência de adolescentes em lugares onde circulam livremente álcool e drogas ilícitas. Desde janeiro, a Secretaria Municipal de Coordenação das Subprefeituras vem realizando uma operação para coibir e fiscalizar as irregularidades, em parceria com a Guarda Civil Metropolitana e a Polícia Militar. Juntas, elas conseguiram mapear 165 festas que ocorrem periodicamente na capital.
A principal área é a Zona Leste, que concentra quase metade desses eventos, em bairros como Cidade Tiradentes, Itaquera e São Miguel Paulista. Em segundo lugar está a Zona Sul, com 35% dos bailes. “Nosso objetivo é coibir os excessos”, afirma Beto Mendes, subprefeito de M’Boi Mirim, que acompanha pessoalmente os trabalhos. “Quando percebem que há fiscalização, os organizadores começam a desmobilizar a bagunça.”
As baladas ocorrem em casas noturnas e, sobretudo, em espaços improvisados. É frequente as ruas virarem pistas de dança, com os carros com porta-malas abertos tocando músicas recheadas de letras com sexo e violência de artistas como MC Roba Cena e MC Carol, intérprete do hit “Vou Matar Esse Maconheiro”. Numa operação recente, os soldados apreenderam um Palio vermelho no bairro do Jardim Capelinha, na Zona Sul. O equipamento de som do veículo tocava músicas num volume de 114 decibéis, equivalente ao de uma turbina de avião decolando. “Isso é uma epidemia. A gente não consegue dormir direito, há jovens se drogando e o barulho é ensurdecedor”, protestou uma moradora da região.
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No Rio de Janeiro acontecem cerca de 220 festas funk por semana. O negócio chegou a esse tamanho depois de vinte anos de existência. O circuito paulistano, no entanto, já tem 75% do tamanho do carioca em pouco mais de um ano. Outro ponto em comum entre as duas metrópoles é a proximidade dos eventos com o crime organizado. No bairro de Brasilândia, na Zona Norte, há a suspeita de que membros de uma facção criminosa estejam por trás da organização dos pancadões. “Não temos nada contra a diversão”, diz Edsom Ortega, secretário de Coordenação das Subprefeituras. “Mas muitas dessas festas não passam de uma extensão do ponto de drogas dos traficantes.”
A GEOGRAFIA DO BARULHOQuase metade do problema está concentrada em bairros da Zona Leste