Avenida Paulista se transforma em calçada da fama
Músicos trocam bares pela ruas e avenidas, agora amparados por lei
O passeio de fim de tarde pela Avenida Paulista ganhou trilha sonora mais variada nos últimos tempos. De olho em um público potencial diário de 1,5 milhão de pessoas, músicos de diferentes gêneros estão trocando os palcos de bares e casas de shows pela calçada-símbolo da capital. Alguns atrativos para a mudança de cenário são a liberdade de escolher o próprio repertório (o que nem sempre é possível em estabelecimentos comerciais) e a flexibilidade de horário das performances. A esses se junta outro argumento definitivo: o faturamento, em alguns casos, é maior.
Com um chapéu preto e tênis de skatista, o saxofonista Vinicius Chagas embala a happy hour da região há três meses com jazz, soul e funk. “A visibilidade é ótima”, diz ele, encostado na grade ao lado da entrada da Estação Consolação do metrô, na esquina com a Rua Augusta. Enquanto isso, transeuntes enchem sua maleta com notas e moedas: um dia de show no local rende, em média,150 reais, 50% a mais do que lucrava para animar um bar.
Esses intérpretes informais ganharam um apoio oficial na última semana, com a aprovação na Câmara Municipal de um projeto que libera apresentações em espaços públicos (antes era necessário ter um cadastro), além de permitir a venda de artigos autorais como CDs. Para entrar em vigor, falta a sanção do prefeito Fernando Haddad, o que deve acontecer, uma vez que o projeto é apoiado pela prefeitura.
“A lei ajudará a aumentar o faturamento dos músicos”, acredita o ator Celso Reeks, da Associação Artistas na Rua. Desde janeiro, a banda GHB interpreta sucessos dos Beatles com assédio digno de boy band. O ganho diário chega perto dos 200 reais, o dobro dos tempos de shows em barzinhos. “Agora estamos atingindo uma plateia muito maior”, afirma o baixista Víctor Amaral.
Uma performance chamativa pode ajudar a capitalizar as finanças. Nesse ponto, os mais inusitados são o saxofonista Nilton Cezar e o baterista John Paiva,da banda Sax in the Beats, que se apresentam usando máscaras de urso panda e cavalo. “Atraímos muitos curiosos”, diz Paiva. O repertório inclui de MPB a canções pop e costuma levar pedestres a cair na dança. “Em um lugar fechado, essa dinâmica se perde.”
O violonista José Carlos dos Santos, o Kerubyn, trocou os botecos da Vila Madalena, onde tocou por oito anos, pela calçada do Conjunto Nacional. “Os donos de bares só querem ouvir o ‘tchu, tcha, tcha’ e pagar uma miséria”, diz ele. “Aqui posso tocar as canções de que gosto e não dependo mais deles”, afirma o músico, que executa clássicos da MPB na avenida há dois meses e arrecada até 200 reais por noite. Para a trupe das ruas, só há um “tempo ruim” (literalmente). “Quando chove, não conseguimos trabalhar”, lamenta Santos.
Line-up da rua:
Vinicius Chagas
O que é: Saxofonista
Onde: Esquina com a Rua Augusta
Quando: Sábado, às 18h
GHB
O que é: Banda cover dos Beatles
Onde: Escadaria da Rádio Gazeta
Quando: Sábado, às 16h
Sax in the Beats
O que é: Dupla de saxofone e bateria
Onde: Em frente ao Shopping Center 3
Quando: Segunda, quarta e sexta, às 18h
Kerubyn
O que é: Violonista de MPB
Onde: Em frente ao Conjunto Nacional
Quando: De segunda a sábado, às 19h