Avenida 23 de Maio terá “faixa virtual” para passagem de motos
Projeto piloto será lançado na tarde desta segunda-feira (10) pela CET e terá o nome de Faixa Azul
A avenida 23 de Maio, o principal corredor de tráfego entre as zonas norte e sul da cidade de São Paulo, terá uma espécie de “faixa virtual” para passagem de motos.
Os detalhes da iniciativa serão divulgados ainda na tarde desta segunda-feira (10) pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
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Informações preliminares indicam se tratar de um projeto piloto e que será denominado Faixa Azul.
Vários motociclistas têm compartilhado imagens de marcas no solo feitas no sentido Aeroporto de Congonhas da via. Elas mostram uma faixa estreita, de cerca de 1,20 metro, que já é muito usada no que é conhecido como “faixa virtual”. A faixa vai da praça Campo de Bagatelle até o Obelisco do Ibirapuera.
A faixa leva o nome de virtual porque é onde os motociclistas costumam “costurar” no trânsito. A criação de uma faixa específica para motociclistas é uma reivindicação antiga da categoria. Segundo Gilberto Almeida, o Gil, presidente do Sindicato dos Motoboys de São Paulo, a proposta foi apresentada pela própria prefeitura em outubro de 2021.
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“Até ficamos surpresos porque a iniciativa partiu do próprio prefeito [Ricardo Nunes]”, disse o sindicalista.
O gabinete de Nunes foi procurado para comentar o assunto, mas não se manifestou até a conclusão deste texto.
Nas imagens compartilhadas pelos motociclista percebe-se que a sinalização está sendo feita entre a penúltima e última faixa, em um espaço comumente já usado pelos motoboys. A proposta, segundo Gil, é que sejam implantadas placas de sinalização ao longo da via.
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Idec critica
Em janeiro 2008 foi implantando um projeto piloto de uma faixa experimental para motos na avenida 23 de Maio.
A faixa funcionou e proporcionou segurança aos motociclistas. Entretanto, ela teve o seu fim antecipado devido ao grande congestionamento que provocou, de até 7,1km no sentido Santana, e de 6,1km no sentido Aeroporto. As médias foram mais do que o dobro dos dias normais, à época.
Para o coordenador do programa de mobilidade urbana do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), Rafael Calabria, retomar o modelo é um erro.
“A faixa é um erro crasso, já conhecido e abandonado”, afirmou.
Segundo ele, no corredor, as motos costuram naturalmente, porém, em velocidade menor. “Na sua faixa de rolamento ele vai aumentar a velocidade, com os carros do lado em movimento também. Pode provocar acidentes ainda mais graves”, diz.
Ele resgatou dados da própria CET que mostram a ineficácia das faixas fixas instaladas na avenida Sumaré e Vergueiro. Essas faixas destinavam um trecho à esquerda da via.
Um boletim técnico, o de número 61 da gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab, mostra que tanto os acidentes quanto os atropelamentos envolvendo motociclistas aumentaram. No sentido Paulo VI do corredor Sumaré os acidentes aumentaram 145%, e os atropelamentos, 33%. No sentido Liberdade/Vergueiro (subindo), os aumentos foram, respectivamente, de 155% e 1.333%.
O engenheiro Sergio Ejzenberg, mestre de transportes pela USP (Universidade de São Paulo), tem opinião diferente.
Para ele, a proposta pode ser eficaz desde que seja bem sinalizada e fiscalizada. Segundo diz, a proposta de uma faixa no meio da 23 de Maio é muito diferente dos corredores que haviam na Sumaré e Vergueiro.
“Esses corredores eram à esquerda da via. Nenhum motociclista gosta de andar perto da guia. Pode enganchar a pedaleira, são locais que geralmente têm resíduos e lá sim eles correm grande risco”, afirma.
O engenheiro afirma que há grandes chances da faixa funcionar, desde que haja controle de velocidade. Segundo explica, a fiscalização especificamente nessa faixa pode ser feita por meio de laço detector implantando na própria via.
Ele lembra que atualmente as motos já trafegam em meio aos carros, porém, em situação de menor segurança. “Hoje o que eles vivem é o limite de um roleta-russa”, afirma.