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Conheça atletas que treinam em SP e vão disputar os Jogos Paralímpicos

Raissa Machado, Carol Santiago, Victor dos Santos Almeida, Claudia Santos e Lúcia Araújo falam sobre treinos e expectativas

Por Tomás Novaes e Luana Machado
Atualizado em 23 ago 2024, 10h38 - Publicado em 23 ago 2024, 07h30
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Raissa Machado: atleta baiana do lançamento de dardo  (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Na França, o esporte de alto rendimento segue em foco com os Jogos Paralímpicos de Paris 2024, que vão de quarta (28) até o dia 8 de setembro. A delegação brasileira, com 255 esportistas que disputarão vinte modalidades, tem um objetivo claro: igualar ou superar a melhor campanha da história, o sétimo lugar em Tóquio 2020, com 22 ouros, vinte pratas e trinta bronzes, marca muito maior que a alcançada pelos atletas olímpicos.

“A expectativa é muito positiva, considerando a participação brasileira nos últimos mundiais. A gente acredita muito que essa pode ser a maior campanha da história do Brasil nos Jogos”, afirma Mizael Conrado, 47, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

A delegação feminina brasileira será a maior na história do evento, com 117 mulheres. Entre elas, está Raissa Machado, 28, atleta baiana do lançamento de dardo que treina e mora em São Paulo desde 2018. “Foi o esporte que me escolheu. Comecei a me destacar em competições aos 14, passei a viajar com o CPB e vi que existiam outras pessoas com deficiência no mundo. E que eram felizes”, conta a esportista, que nasceu com má-formação nas pernas.

Raissa foi prata em Tóquio e ouro no Mundial de Atletismo em Kobe, em maio. “Estou me dedicando muito para subir no pódio, independentemente da cor da medalha. Quero ficar entre as três melhores do mundo, de novo”, diz ela, que sofreu com depressão e uma lesão após as últimas Paralimpíadas. “Aprendi que preciso cuidar da pessoa, além da atleta. Preciso das duas para chegar no meu objetivo.”

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A atleta mora nas imediações do Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro (CTPB), localizado na Rodovia dos Imigrantes, Zona Sul. Inaugurado em maio de 2016, resultado de parceria entre os governos estadual e federal, o complexo ocupa uma área de 140 000 metros quadrados. No último dia 8, foi assinada a prorrogação da gestão do local por mais 35 anos.

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Vista geral do CT Paralímpico do lado oposto da Rd. Imigrantes (Ale Cabral/ CPB/Divulgação)

“O CTPB é uma das melhores estruturas das Américas. Acho que o seu impacto decisivo vai acontecer em Los Angeles (2028) e Austrália (2032), com os atletas formados nas escolinhas que começaram em 2018”, calcula Mizael, que é bicampeão olímpico na modalidade do futebol de 5. Na mesma cerimônia, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou a mudança do nome da estação de metrô Jabaquara, próxima ao CTPB, para Jabaquara-Comitê Paralímpico Brasileiro.

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Treino de Atletismo no CT Paralímpico Brasileiro (Ale Cabral/CPB/Divulgação)

A nadadora pernambucana Carol Santiago, 39, é a recordista de medalhas nos Jogos de Tóquio, com três ouros, uma prata e um bronze. “Participei de todas as categorias de base do convencional, mas, quando fui ficando mais velha, vi que não era mais competitiva. Conheci o clube Grêmio Náutico União, e eles me apresentaram ao movimento paralímpico”, conta Carol, que nasceu com síndrome de Morning Glory, alteração na retina que resulta em baixa visão, e se mudou para São Paulo em 2019 para treinar no CTPB.

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Jennyfer Marques, Danielle Rauen e Bruna Alexandre com treinadores durante treino de Tenis de mesa no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro (Ale Cabral/CPB/Divulgação)

“Eu me achava velha para o alto rendimento, mas acreditaram em mim. Me tornei alguém melhor quando comecei a conviver com outras pessoas com deficiência. Quando chego aqui, vejo que a deficiência não me define”, conta a nadadora. Outro representante brasileiro nas piscinas será Victor dos Santos Almeida, ou Vitinho: é o atleta mais jovem da delegação, de apenas 16 anos. “Estou junto de pessoas que, quando entrei, com 9 anos, eu via na televisão, e hoje são meus companheiros de seleção”, diz o paulistano, que começou a nadar aos 3 meses de vida e, em 2018, ingressou no paralímpico.

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A nadadora pernambucana com baixa visão Carol Santiago (Alexandre Battibugli/Veja SP)

“Nós recebemos olhares e prejulgamentos. Isso, infelizmente, é normal. Mas o esporte mostra do que a gente é capaz. Recebo muita admiração e apoio de todos os meus amigos”, conta. O jovem nadador faz parte do Time São Paulo, assim como a lançadora Raissa e outros 89 atletas que estarão em Paris. O programa, criado em 2011 pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SEDPcD), em parceria com o CPB, oferece uma bolsa para atletas de alto rendimento que treinam no estado.

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Vitinho: nadador paulistano, o atleta mais jovem da delegação (Alexandre Battibugli/Veja SP)

“Foi um divisor de águas ter esse valor para investir na nossa preparação”, conta Lúcia Araújo, 43, judoca paulistana que vai para a sua quinta Paralimpíada — foi prata em Londres e no Rio e bronze em Tóquio. “Fico muito feliz de hoje um atleta de 16 anos já chegar no alto rendimento, fazer um caminho inverso do meu, que conheci o paradesporto com 27. É gratificante ver que o trajeto dos novos atletas é mais curto”, comenta.

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Lúcia Araújo: judoca paulistana vai à sua quinta Paralimpíada (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Esta também será a quinta Paralimpíada de Claudia Santos, 47, atleta paulista do E.C. Pinheiros. Dessa vez, seu ciclo olímpico foi marcado por superação: nos últimos anos, foram duas cirurgias para troca e retirada da tela do abdômen e, em 2023, um AVC. “Em abril, retornei buscando a vaga para Paris no Mundial. Treinei de segunda a sábado em dois períodos. Agora, posso dizer que vou dar o meu melhor e fazer o que gosto: remar”, conta Claudia, em solo francês.

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Claudia Santos: atleta do Pinheiros no remo paralímpico (Gustavo Porto/ ECP/Divulgação)

Para prestigiar os atletas brasileiros, os Jogos serão transmitidos ao vivo pelo SporTV2 — somente oito modalidades, natação, goalball, basquete em cadeira de rodas, atletismo, futebol de cegos, ciclismo, judô e vôlei sentado — e também no YouTube do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), com todas as disputas.

Celeiro de Campeões: conheça a estrutura do Esporte Clube Pinheiros, que obteve campanha histórica em Paris

Prestes a completar 125 anos, o Esporte Clube Pinheiros celebra a conquista de seis medalhas nos Jogos Olímpicos. “Foi algo fora do comum; até Paris eram treze no total. Ainda conseguimos a primeira medalha por equipe com o judô”, celebra Edson Santos, gerente de esportes olímpicos e formações.

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Edson dos Santos, gerente administrativo (Leo Martins/Veja SP)

Cinco delas vieram dos judocas Beatriz Souza, Larissa Pimenta, Willian Lima e Rafael Silva. O sucesso da modalidade era esperado pelo time, que inclui nomes de peso do judô, como Leandro Guilheiro, head coach, e Maria Suelen Altheman, técnica. “Nós só criamos o caminho, o mérito é deles. Hoje, podemos dizer que o melhor do judô brasileiro é forjado no Clube Pinheiros”, afirma Leandro.

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Leandro Guilheiro, head coach de judô (Leo Martins/Veja SP)

Com 36 atletas enviados para Paris, sendo dois deles paralímpicos (Claudia Santos e Petrúcio Ferreira), o ECP possui um universo de 39 000 sócios que desfrutam da estrutura de elite. No Centro Integrado de Apoio ao Atleta, que atende 500 esportistas da formação e 180 do alto rendimento, um time de profissionais acompanha as necessidades de cada um.

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Dentro do alto rendimento, são cerca de 800 que chegam ao clube também via processos externos. “A ‘peneira’ ocorre até uma vez por ano, porque damos prioridade ao sócio. O atleta que entra ainda passa por uma avaliação de um ano”, explica o gerente. Os que se destacam podem se tornar “beneméritos”, associados que não pagam mensalidade, como Beatriz Souza, Cesar Cielo e Arthur Nory.

O setor de esportes olímpicos, que inclui dezessete modalidades, conta com um investimento considerável, proveniente das mensalidades. “É um investimento de 160 milhões por ano, e 78% desse valor vem da contribuição social. Com isso, não dependemos apenas de leis de incentivo ou de investimentos pontuais. O esporte não pode ser um projeto de início, meio e fim”, conclui Edson.

Publicado em VEJA São Paulo de 23 de agosto de 2024, edição nº 2907

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