Aficionados por motos se aventuram pelas ruas da capital
Soninha Francine, Edu Guedes, Denílson e outros contam as histórias com suas máquinas
O caótico trânsito paulistano obriga muita gente a buscar alternativas para escapar dos congestionamentos. Uma das saídas clássicas é adquirir uma moto. Mais de 917.000 delas circulam na capital, o que já representa 12,7% da nossa frota de veículos, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Entre 2001 e 2010, cresceu 118% o número de pessoas que recorrem a esse tipo de transporte por aqui. O lado negativo do fenômeno é o aumento dos acidentes que envolvem motociclistas. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a média de ocorrências com vítimas fatais por dia na cidade em 2010 foi de 1,3.
Ainda assim, muitos aficionados adotam as duas rodas como estilo de vida. Entre eles, são variados os modelos e os preços de seus equipamentos. A ex-vereadora Soninha Francine, por exemplo, abandonou recentemente uma “velha Vespa” de 1986 e adquiriu uma Kasinski CRZ 150 SM, de 2011, que lhe custou 7.000 reais. Mas há quem prefira máquinas com valores que chegam aos 91.000 reais, caso do ator e diretor Jairo Mattos, que pilota uma BMW GS Adventure de 1.200 cilindradas.
+ Motos superpoderosas aceleram na preferência dos paulistanos
+ Cresce o número de paulistanas que compram motos
Miranda Kassin, atriz e cantora
Fabricante: Piaggio
Modelo: Vespa
Ano: 2010
Cilindradas: 150
Valor: 18.000 reais
A atração vem da adolescência. Aos 14 anos, Miranda Kassin ganhou sua primeira Mobylette, presente de aniversário dos pais. Era uma XR, verde e branca, da marca Caloi. Mas a cantora já tinha uma ligação anterior com o veículo. “Nos meus tempos de criança, vivia montada na garupa da moto da minha irmã mais velha”, lembra. Enquanto passeavam, cantavam sucessos de Paul McCartney. Para Miranda, aliás, a música está muito ligada ao universo das duas rodas. Aos 19 anos, a cantora mudou-se para os Estados Unidos, permanecendo lá por cinco anos para estudar. Em uma ocasião, fez uma viagem de 25 dias entre os estados de Kentucky e Flórida com amigos americanos a bordo de duas Harley-Davidson, parando em várias cidades para assistir a shows do circuito underground. “Uma experiência inesquecível e definitiva”, conta. Atualmente, guia uma Vespa Piaggio pelas ruas da Vila Madalena, onde mora. Não sem receio. “Infelizmente, os motociclistas desrespeitam e são desrespeitados em São Paulo”, lamenta. “Mas me sinto livre como um pássaro quando estou acelerando.”
Soninha Francine, ex-vereadora e ex-VJ da MTV
Fabricante: Kasinski
Ano: 2011
Modelo: CRZ 150 SM
Cilindradas: 150
Valor: 7.000 reais
Em 1990, quando cursava o segundo ano da faculdade de cinema, Soninha Francine comprou uma Vespa e cruzava a cidade todos os dias, indo de sua casa, em Santana, à Escola de Comunicação e Artes da USP, no Butantã. Para ela, era a única maneira de chegar a tempo para a primeira aula. Formada, continuou a usar a Vespa para se locomover — o que lhe rendeu muitas histórias e aventuras. “Perdi as contas de quantas vezes fiquei na mão”, lembra. “A moto quebrava muito, volta e meia me deixava nos lugares mais inóspitos e nos horários mais desagradáveis possíveis.” Certa vez, durante sua campanha à prefeitura da capital, em 2008, apareceu na sede do jornal “O Estado de S. Paulo” para uma sabatina e foi confundida com um entregador pelo recepcionista, que a encaminhou ao portão de serviço. “Isso aconteceu mais de uma vez”, conta. No início deste ano, ela trocou o modelo de estimação por uma Kasinski zero-quilômetro. “Dá para enxergar melhor o trânsito, suportar melhor os solavancos e ser mais respeitada pelos outros motoristas.” No futuro, pretende adquirir uma versão ainda mais potente. “Acho que não vou esperar mais dezoito anos.”
Jairo Mattos, ator e diretor
+ Motoboys e caminhoneiros: candidatos a vilões do paulistano
+ Nostalgia: carros antigos, lambrettas e motos
Fabricante: BMW
Ano: 2009
Modelo: GS Adventure
Cilindradas: 1.200
Valor: 91.000 reais
O ator Jairo Mattos já trabalhou em várias novelas da Rede Globo, como “Barriga de Aluguel”, “O Rei do Gado”, “O Dono do Mundo” e, mais recentemente, “O Astro”, além de ter dirigido a peça “Amanhã É Natal”, no Teatro Imprensa, em 2009. Quando não está trabalhando em gravações ou no palco, dedica-se ao hobby predileto, tirando da garagem de casa uma BMW de 1.200 cilindradas. “A sensação de andar de moto é a mesma de existir”, compara. “Você precisa ir em frente num ritmo em que perceba o que ela tem para te oferecer.” Motociclista desde a adolescência, quando comprou uma CG Turuna 125 cilindradas, Mattos já sofreu diversos acidentes. “Hoje olho para aquela época e me divirto com minha inexperiência, loucura e uma dose bem grande de burrice. Felizmente, nunca aconteceu nada de muito grave.” Ele não utiliza mais carro nem pretende voltar a ter um. Em outubro, encarou uma viagem de 15.000 quilômetros pela América do Sul, durante vinte dias. Foi sua grande aventura? “Nada. A melhor viagem, sempre, é a que está por vir.”
Edu Guedes, apresentador de TV e chef de cozinha
Fabricante: Harley-Davidson
Ano: 2008
Modelo: VRSC
Cilindradas: 1.250
Valor: 50.000 reais
O contato com motocicletas começou cedo para Edu Guedes. Aos 12 anos, ele ganhou do pai uma “cinquentinha offroad”, produzida para ser utilizada por crianças em pistas fechadas. Desde então, nunca mais parou. Aos 20, época em que estudava gastronomia em Bolonha, na Itália, fez uma viagem que marcou sua vida. Com uma scooter, cruzou o litoral do país parando em todas as importantes sorveterias que encontrou pelo caminho. “Durante o trajeto, aprendi muito do que sei hoje”, afirma. “Conhecer pessoas e parar na hora em que dá vontade é um privilégio de quem anda de moto.” A viagem, fruto de um prêmio gastronômico recebido naquele país, acabou por levá-lo a comprar uma Vespa quando voltou ao Brasil. Hoje, é dono de uma Harley-Davidson. Ele a utiliza para ir ao trabalho, para viajar pelo interior e até para gravar matérias do programa “Hoje em Dia”, da Record.
Denílson, ex-jogador e comentarista
Fabricante: Kawasaki
Ano: 2011
Modelo: Z1000
Cilindradas: 1.000
Valor: 47.000 reais
Há pouco menos de um ano, o ex-atacante Denílson retomou um antigo hobby e redescobriu um velho prazer: pilotar motocicleta. Por dezessete anos, tempo que durou sua carreira de jogador, ele ficou longe dos riscos que quem gosta de andar sobre duas rodas sempre corre — por contrato e “por consciência”, segundo ele, atletas devem evitar o veículo. Mas a paixão começou bem antes de seu sucesso nos gramados. Morador do Jardim Ângela até os 18 anos de idade, Denílson cresceu sobre o banco de motos. “Na periferia é muito comum, por causa da agilidade”, diz. Quando atingiu a maioridade, comprou seu primeiro modelo, uma Honda CBX 750, a lendária “sete-galo”, com a desculpa de que ela seria usada por seu irmão. O compromisso com a bola, no entanto, levou-o a abrir mão do prazer. Essa época coincidiu com sua profissionalização pelo São Paulo, e ele teve de esquecê-lo. Para comprar sua máquina atual, Denílson, acostumado com as fintas dentro do campo, precisou driblar sua mulher, a atriz Luciele di Camargo. “Ela não queria de jeito nenhum, morre de medo”, revela. “Comprei e mandei entregar em casa. Quando ela viu, foi uma confusão.” Ele a convenceu ao garantir que procuraria um curso de pilotagem e sempre usaria equipamentos de segurança — só de capacete, possui seis modelos. “Luciele ainda não fez nenhuma viagem comigo, mas já consegui levá-la para dar umas voltas na garupa pelo condomínio”, conta.
Rodrigo Capella, ator e humorista
+ Avenida Europa: carros e motos importados
+ Motoescola para manobras radicais
Fabricante: Kawasaki
Ano: 2010
Modelo: ER-6n
Cilindradas: 650
Valor: 30.000 reais
Adrenalina e liberdade sempre foram sensações perseguidas por Rodrigo Capella. Além de ator e apresentador, é paraquedista e dublê. E, para ele, pilotar uma moto é uma forma de estar em sintonia direta com essas emoções. Para exercer seu espírito aventureiro, Capella teve de convencer a família de que faria isso de forma responsável — o que não foi fácil. “Comprei minha primeira moto aos 18 anos, escondido dos meus pais. Guardá-la em casa foi um problema”, recorda. Seu pai, que compartilha a mesma opinião do apresentador e motociclista aposentado Jô Soares (“Se moto não fosse para cair, teria quatro rodas”), cansou de tentar desestimular o filho. Não teve jeito. Rodrigo já se acidentou, passou por cirurgias e só não se machucou mais por causa de sua experiência como dublê. Certa vez, foi confundido com um ladrão e acabou perseguido pela polícia. Nenhum desses problemas o faz mudar de ideia. “A liberdade que sinto e a possibilidade de chegar em casa horas antes de quem se locomove de carro não têm preço”, explica.