Artur Pereira tem obras expostas no Instituto Moreira Sales
O escultor, elogiado por Amilcar de Castro, conseguiu ultrapassar os limites da arte naïf
Nascido em Cachoeira do Brumado, um pequeno distrito de Mariana (MG) com forte tradição em artesanato, Artur Pereira (1920-2003) conseguiu se destacar e ultrapassar os limites da arte naïf. Admirada por colecionadores prestigiados, entre eles a galerista Vilma Eid e o banqueiro Fernão Bracher, a produção desse ex-trabalhador rural é tema de uma mostra com dezessete esculturas no Instituto Moreira Salles. Um dos fatores fundamentais para a popularização do artista foi a amizade mantida com o brilhante escultor concretista Amilcar de Castro (1920-2002), também mineiro, a quem chegou a vender trabalhos. “O Amilcar brincava e dizia que o Artur era melhor do que ele”, diz o crítico Rodrigo Naves, organizador da exposição.
Logo de cara, os trabalhos do autodidata Artur Pereira chamam atenção pela simplicidade — apenas aparente — e pela economia de recursos nas formas esculpidas em madeira. Alguns animais, como tatus e tucanos, são reconhecíveis. Outros misturam características de várias espécies. “Foi justamente essa tentativa de não mimetizar o realismo que tanto atraiu Picasso, Matisse e Giacometti para os primitivos”, afirma Naves. Para o crítico, aliás, trata-se de um bom momento para abandonar as separações entre arte popular e erudita e tratar todos os artistas da mesma forma. “Não faz mais sentido fazer essa dissociação, pois a história nos dá vários exemplos da importância de elementos primitivistas”, argumenta. “Basta pensarmos na influência de Henri Rousseau e nas máscaras africanas da tela ‘As Senhoritas de Avignon’, de Picasso.”