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TikTok, o aplicativo chinês que é febre entre os jovens

Dona do app de vídeos rápidos, a ByteDance abriu escritório na Vila Olímpia, Zona Sul de São Paulo, para administrar os negócios por aqui

Por Matheus Prado
Atualizado em 14 fev 2020, 15h56 - Publicado em 4 out 2019, 06h00
Criador: Carvente se destaca em vídeos de efeitos especiais (Rogerio Pallatta/Veja SP)
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O aplicativo mais baixado do mundo em agosto deste ano possui vídeos de cerca de quinze segundos, edições simples e dinâmicas, filtros e músicas variados, alto potencial de viralização e “conteúdo infinito”. Ingredientes isoladamente presentes em todas as redes sociais, mas que juntos alcançaram outro patamar no TikTok. A plataforma chinesa, lançada em 2017, é febre entre os jovens, e tem crescido de maneira galopante a sua base de usuários.

A consultoria Sensor Tower, que mapeia dados de downloads da Apple Store e do Google Play, reporta que a ferramenta já foi baixada mais de 1 bilhão de vezes. Trazido para o Brasil em agosto de 2018, o TikTok figura entre os dez apps mais baixados para telefones Android localmente.

O sucesso é tanto que a startup chinesa ByteDance, dona da rede social, abriu escritório na Vila Olímpia, Zona Sul de São Paulo, para administrar os negócios por aqui. Apesar do sucesso, a firma se mantém discreta. Números de downloads, receitas e funcionários e até a localização da sede paulistana não são divulgados. A empresa chegou a ser acusada de esconder suas políticas de uso e promover censura a vídeos de temática política na China. À época, respondeu que inicialmente agia de forma dura contra conteúdos sensíveis para “evitar conflitos”, mas que hoje a moderação é internacionalizada e feita de maneira independente em cada país.

Afinal, por que o TikTok está fazendo tanto barulho? A companhia afirma que o diferencial está não apenas nos recursos especiais de captação e edição, mas também em pilares como “autenticidade, vídeos reais e pessoas reais”, o que coloca os criadores de conteúdo no centro das atenções. O paulistano Bruno Carvente (@iBugou), de 29 anos, foi um dos que assumiram esse protagonismo.

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Ele possui 2,4 milhões de seguidores e utiliza seus conhecimentos em animação e computação gráfica para vídeos de efeitos especiais. Carvente explica que, apesar de o conteúdo segmentado ser o carro-chefe, com clipes cômicos, musicais ou de maquiagem, o algoritmo trabalha com tendências. A plataforma lança desafios, hashtags e músicas e faz curadoria de conteúdos, destacando os mais criativos. Os produtores têm de ficar atentos ao que ocorre dentro da rede para tentar viralizar.

Além disso, a inteligência artificial do app identifica o tipo de conteúdo preferido do usuário e o direciona para ele. “Dizem que o TikTok é uma fábrica de memes”, brinca Carvente, ao explicar o motivo de esses vídeos serem tão compartilhados nas demais redes sociais. Ele afirma que a monetização ali é feita por meio de doações de usuários nas transmissões ao vivo. Outra fonte são os vídeos pagos por marcas — podem chegar a 5 000 reais por postagem, a depender do número de seguidores.

Gustavo Martho
Talita Akemy e Gustavo Martho, que são criadores de conteúdo de áreas e alcances diferentes e colaboram em vídeos do TikTok (Gustavo Martho/Divulgação)

Talita Akemy (@talita_akkemyy), 18, e Letícia Gomes (@leticiafgomes), 25, “vivem” do TikTok. Com quase 2 milhões de seguidores cada uma, elas têm foco nos vídeos de make. “O mercado de cosméticos está muito grande, então a gente recebe convites para divulgar as marcas”, diz Talita. Já Letícia, que se transforma em personagens e personalidades através das pinturas, explica que tem sido procurada para difundir lançamentos de filmes e músicas.

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Thatty Ferreira (@thattyferreira), 22, aponta a consistência como um dos segredos para o sucesso. Também na casa dos 2 milhões de seguidores, ela se programa para postar pelo menos um conteúdo por dia, além de agendar cerca de três lives semanais. Quando viu que estava atraindo muito público estrangeiro, ela decidiu ir além. Criou um segundo perfil só para o público brasileiro. “Todos os dias eu posto de um a três vídeos e vou variando o conteúdo, seguindo as tendências do momento. Além disso, faço conteúdos exclusivos para o público brasileiro no segundo canal”, explica.

Os criadores acreditam ainda que o aplicativo caiu nas graças dos jovens por causa da sua simplicidade. Tudo é filmado e editado no celular, o que dá velocidade e um ar amador (proposital) à produção. “A nossa geração consome as coisas muito rapidamente, então precisamos entregar vídeos de quinze segundos com início, meio e fim”, diz Gustavo Martho (@marthow), 23, que está começando na plataforma. Com quase 90 000 seguidores, o publicitário e fotógrafo se mudou do Paraná para São Paulo a fim de investir na vida de influenciador.

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Simone Cesar, 40, fez o caminho inverso. Dentista especializada em crianças há dezenove anos, ela encontrou no aplicativo, que conheceu através do filho, uma ferramenta para se conectar com seus jovens clientes. Hoje conhecida como @dentistamusical (370 000 seguidores), Simone conta que sua clientela aumentou após seu ingresso no TikTok. “Tive a sacada de usar o app dentro da clínica, interagindo com os pacientes. A ideia era fazer com que as crianças tivessem mais vontade de vir ao dentista. Agora, os pais curtem muito e, se não posto, mandam mensagem perguntando o que aconteceu.”

Simone Cesar – Dentista Musical
Simone Cesar (Dentista Musical), usa o app para se conectar com seus jovens pacientes (Sandra Blas/Veja SP)

Mas apesar do público originalmente infantil, o TikTok acredita que tem penetrado cada vez mais as gerações mais velhas. Esdras Saturnino (@esdrassaturnino), que tem cerca de 550 000 seguidores e faz conteúdos de humor no app, conta que suas métricas apontam para um público de até 30 anos. “Alguns vídeos da plataforma podem parecer meio sem sentido às vezes, mas a minha ideia é sempre levar experiências de vida para o público”, diz. Além dos vídeos de comédia, o jovem aposta em números musicais. Ele está se licenciando em música (quer cursar letras posteriormente), dá aulas de canto popular e sonha em poder lançar canções e disponibilizá-las na rede social para que seus seguidores “dublem e recriem em cima da sua criação”. 

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Publicado em VEJA SÃO PAULO de 09 de outubro de 2019, edição nº 2655.

+ PODCAST Jornada da Calma – “Tudo bem chorar”, com Helena Galante e Vivian Mozas

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