Herdeira de império, Andressa Salomone sonha com sucesso na moda
Aos 26 anos, ela é uma das maiores consumidoras de artigos de luxo do país e lança nova coleção em evento que terá efeitos como neve artificial na Paulista
Novata no ramo, a estilista Andressa Salomone, de 26 anos, ainda está longe de integrar o time de craques da área que brilham na São Paulo Fashion Week. Mesmo assim, conseguiu o feito de entrar para a história dos desfiles nacionais com um evento comentado até hoje por várias pessoas do ramo.
A garota lançou a grife que leva seu nome em novembro de 2016 com uma coleção inspirada na Itália. A apresentação aconteceu na mansão de seis andares onde ela vive com a família, no Pacaembu. Bancas de frutas e flores compuseram o cenário, que também contava com scooters antigas e árvores de limão-siciliano.
Na piscina coberta por um deque de madeira, quarenta modelos de primeira linha, como Renata Kuerten e Vivi Orth, envergaram suas criações, que incluíam jaqueta jeans decorada com plumas, boné com pompom e moletom de paetês. O camarim improvisado funcionou em uma das duas garagens da residência. No final, ocorreu uma chuva de papel picado e o céu ficou iluminado com uma queima de fogos de artifício nas cores da bandeira do país europeu.
Champanhe Veuve Clicquot foi servido à vontade aos 200 convidados. “Todo mundo amou”, lembra a anfitriã. Na verdade, nem todo mundo. “Que cafonice!”, comentou um dos presentes, Reinaldo Lourenço, estrela nacional da moda, dirigindo-se a um amigo assim que a última manequim desfilou à sua frente. Na semana passada, ao ser questionado pela reportagem de VEJA SÃO PAULO sobre o episódio, Lourenço alegou não se lembrar da história. “Nosso mercado precisa de pessoas divertidas como ela”, comenta.
Se um nome consagrado torceu o nariz para os exageros do rega-bofe do Pacaembu, o segundo desfile da menina, programado para a quarta (8), promete causar ainda mais impacto: Red Lips — The Four Seasons (Lábios Vermelhos — As Quatro Estações). Qual seria a inspiração? Andressa escolheu a si própria como tema. “Eu e minha cliente estamos sempre em movimento”, explica. “Uma hora aqui, outra na Europa.”
Com a cabeça imaginativa e uma conta bancária sem limites, a estilista contratou Carlos Pazetto, o principal diretor de cenário do Brasil, com trabalhos para a Versace no currículo. Ele é o profissional encarregado de pôr de pé os sonhos de Andressa, que investiu cerca de 500 000 reais no evento. Entre variadas pirotecnias, Pazetto fará chover e nevar na passarela instalada no mezanino do Conjunto Nacional, com a ajuda de um equipamento importado da Alemanha. “O efeito será matemático e preciso, para não sujar a plateia”, explica o profissional.
Andressa se inspira no visual sexy ostentação de Kim Kardashian. Adepta de superlativos, gosta de brilho, monogramas e bordados. A logomarca de sua grife são lábios vermelhos, inspirados nos dela. “Meu principal diferencial é trabalhar o moletom como se fosse alta costura. Uso tecidos nobres e bordados feitos a mão.”
Se no papel de estilista Andressa tem pouco tempo de estrada, no de consumidora de luxo acumula milhagem de veterana. É figura constante nos desfiles da semana de moda de Paris. Por ser uma consumidora assídua das marcas — ela e sua família chegam a gastar 400 000 reais em roupas e joias em uma viagem internacional —, ganha convites e mordomias que nem mesmo a mais famosa das blogueiras sonha em receber. Em maio de 2016, por exemplo, os Salomone foram os únicos brasileiros convidados pelo estilista Karl Lagerfeld para assistir ao desfile histórico da Chanel em Cuba.
O tour de luxo nunca acaba. Em março deste ano, Andressa esteve no desfile de alta joalheria da Louis Vuitton em Courchevel, onde foram mostrados colares e brincos avaliados em 4 milhões de reais. Em setembro, a marca a levou em um jato particular até a vinícola Cheval Blanc, em Bordeaux. Das preciosidades líquidas, voou para ver diamantes em estado natural no desfile de joias da Vuitton dentro do Palácio de Versalhes. Na mesma ocasião, só havia outra brasileira ali: Maythe Birman, casada com Anderson Birman, dono do Grupo Arezzo.
Passagem aérea, hotel cinco-estrelas e maquiador à disposição estavam inclusos no pacote oferecido pela grife. Na antiga morada de Maria Antonieta, Andressa usou um vestido estilo “marshmallow” — feito de camadas de material transparente. “As pessoas ficaram impressionadas com a roupa”, lembra Darlei Bittencourt, o principal vendedor da Louis Vuitton no Brasil e dono de uma empresa de consultoria de moda. “Ela consome qualidade, não quantidade.”
Andressa é neta do empresário Hugo Enéas Salomone, criador do Grupo Savoy. Filho de imigrantes italianos e nascido em Ribeirão Preto, ele se mudou para cá ainda jovem. Tentou plantar banana em um terreno na orla de Santos, mas a colheita não vingou. Decidiu lotear a gleba de terra. Com medo de ver seu segundo negócio naufragar, circulava com uma Kombi pelo centro de São Paulo para convidar pessoas a passar o dia no litoral. Conseguiu assim vender as áreas e dar início ao seu império imobiliário. Os seus seis filhos fizeram prosperar a empresa.
Hugo Cesar, pai de Andressa, preside o grupo que hoje tem 1 731 imóveis na cidade, segundo matéria do jornal O Estado de S. Paulo em 2016. A reportagem cita a Secretaria de Finanças da capital como fonte. A prefeitura não comenta o assunto e a Savoy, por sua vez, diz que o número publicado é exagerado, pois incluiria propriedades vendidas cuja titularidade ainda não foi transferida. Mas não informa qual seria o valor atualizado de seu patrimônio.
Aqui na cidade, a Savoy tem muitos negócios no centro e na Zona Leste. A empresa também é dona de 66% do Conjunto Nacional. “A parte dela deve valer, pelo menos, 300 milhões de reais”, estima a corretora de imóveis Valentina Caran, proprietária de um escritório no condomínio.
Na região da Avenida Paulista, a companhia da família Salomone possui um total de sete edifícios, avaliados em 1 bilhão de reais. Outra joia do clã é o Shopping Aricanduva, o maior da América Latina, com 600 000 metros quadrados de área construída. “Eles são os maiores pagadores de IPTU da cidade de São Paulo”, calcula Rodrigo Luna, presidente da Federação Internacional Imobiliária.
A prefeitura diz que não pode confirmar a informação. Com um patrimônio tão grande, a Savoy montou uma imobiliária apenas para cuidar do que é seu. “Ela não aluga nada de ninguém, apenas propriedades do próprio portfólio”, afirma Luna.
O pai de Andressa tinha a expectativa de que ela ajudasse nos negócios, a exemplo dos outros quatro filhos. Durante um tempo, Hugo Cesar não podia ouvir a palavra “moda” dentro de casa. “Ele me atirou um abajur quando falei que queria ser estilista”, lembra.
Aos 16, cedendo à pressão da família, ela tirou licença para trabalhar como corretora de imóveis — na Savoy, é claro. Em paralelo, estudou um ano de arquitetura na Faap, até ser reprovada. Depois cursou um ano de direito na mesma faculdade. Também levou bomba. Na sequência, fez escondido a inscrição no vestibular de moda no Istituto Europeo di Design, em Higienópolis. “Quando contei a história em casa, finalmente aceitaram minha vocação”, recorda.
Na mansão da família no Pacaembu, com uma vista estupenda para o estádio, o hall de entrada tem castiçais e um espelho veneziano. Todo o ambiente é decorado com papel de parede com estampas de cavalos da Hermès. Essa grife também aparece
em almofadas e em um jogo de sofás. A sala principal ostenta cinco lustres de cristal. Os cinzeiros são feitos de materiais como porcelana francesa e prata. Um gavião de bronze e ouro, de guarda na entrada da varanda, encarrega-se de afastar mau-olhado. Os moradores da casa mudam de pavimento por meio de um elevador, mesmo que seja para percorrer um único lance de escada.
No closet de Andressa existem mais de vinte portas apenas para guardar suas 365 bolsas. O acervo vale mais de 3 milhões de reais. Só de itens Louis Vuitton são mais de cinquenta. Há oito modelos de uma Chanel (o valor unitário é de 16 000 reais), em
cores variadas. Ela também arrematou uma prancha da mesma marca sem saber surfar. “Moda, para mim, é arte.” Andressa acha natural a quantidade de peças acumuladas. “Na minha família, bolsas, joias e imóveis nunca são vendidos. Ficam de herança.”
As roupas de sua primeira coleção são comercializadas pelas redes sociais e pelo WhatsApp a preços que variam de 700 a 2 000 reais. A cantora Anitta e a apresentadora Sabrina Sato já usaram as botas de moletom da nova grife. Andressa jura por suas joias reluzentes nunca ter pago a uma celebridade para vestir suas criações. “Se uma famosa pede algo, eu mando de graça, o que é bem diferente”, afirma.
Coordenador do curso de MBA de gestão do luxo da Faap, Silvio Passarelli vê um futuro promissor na carreira da profissional. “O mercado precisa de peças com personalidade”, proclama. De acordo com o especialista, Andressa só precisa maneirar na mania de ostentação. “Usar monogramas da cabeça aos pés ficou datado.”
Fora das passarelas, a grande paixão dela são os cachorros. No total, ela possui treze, quase todos com o nome ligado ao universo do luxo. “A Tiffany veio escondida do meu pai”, diz, referindo-se à yorkshire batizada em homenagem à joalheria americana. Outros xodós são os chihuahuas Dior e Miuccia (em menção à estilista da Prada). Ambos importados de um canil de luxo de Dallas, nos Estados Unidos. “Quase morri quando soube que eles viajaram dentro do bagageiro, e não em poltronas, e que o voo teve duas escalas.” Na casa há ainda dois vira-latas adotados: Hércules e Ivete (de Ivete Sangalo).
No dia a dia, Andressa gosta de fazer compras de doces e salgados em um mercadinho popular da Paulista. O ateliê dela fica no 19º andar do Edifício Sumitomo, uma das propriedades de seu pai na avenida. “Abandonei o direito para virar costureira da minha filha”, conta Andreia Salomone, que reforça o time de funcionárias nas vésperas dos desfiles.
Muitas vezes, a estilista chega para trabalhar usando um pijama — e com o cachorro Dior dentro de uma bolsa Birkin avaliada em 70 000 reais. Andressa passa boa parte das noites vendo filmes com o namorado, o administrador Pedro Demenato. O desfile com neve no Conjunto Nacional, que terá 200 convidados, serviços do bufê Fasano e champanhe Veuve Clicquot, imagina ela, pode projetar seu nome de vez no mundo fashion. “Quando eu morrer, quero sair no Jornal Nacional: ‘Morre um ícone da moda’”, sonha.
MODA, OSTENTAÇÃO E CACHORROS
Nome: Andressa Salomone
Data de nascimento: 29/11/91 (26 anos)
Fortuna: herdeira do Grupo Savoy, que tem rede de shoppings, incluindo o Aricanduva, o maior da América Latina, galpões, prédios e loteamentos. Só na região da Avenida Paulista possui propriedades avaliadas em 1 bilhão de reais.
Estado civil: namora há cinco anos o administrador de empresas Pedro Demenato.
Formação: moda, pelo Istituto Europeo di Design, em Higienópolis, depois de abandonar os cursos de arquitetura e direito, ambos na Faap.
Ocupação: estilista da marca que leva seu nome.
Estilo: adora brilho, bordados e monogramas.
Clientes: Anitta, Sabrina Sato, Juliana Paes, entre outras. “Nunca paguei um centavo a uma celebridade para usar minhas peças”, jura.
Coleção: de bolsas de grife. São mais de 365 peças. O acervo vale mais de 3 milhões de reais.
Caprichos: mesa de pebolim Louis Vuitton e prancha de surfe Chanel.
Mudanças no visual: 300 mililitros de silicone nos seios e aplique no cabelo. Nega preenchimento nos lábios.
Cliente vip: a LouisVuitton já a levou de jato particular para conhecer a exclusiva vinícola Cheval Blanc, de propriedade do
dono da grife.
Roupa do dia a dia: sandálias de salto de 15 centímetros da grife italiana Giuseppe Zanotti. “É o meu Nike, corro e ando com elas o tempo todo.”
Paixão: por cachorros. Tem treze animais com nomes inspirados em moda: Athina (husky siberiano), Birkin (maltês), Dior, Luana e Miuccia (chihuahuas), Emilio (golden retriever), Huck e Stefano (lulus-dapomerânia), Hublot (lhasa apso), Hércules e Ivete (vira-latas), Sophia (teckel) e Tiffany (yorkshire)
AS JOIAS DA COROA
Algumas das principais propriedades do Grupo Savoy, fundado por Hugo Enéas Salomone, avô de Andressa
Seis shoppings, incluindo o Aricanduva, que é o maior centro de compras da América Latina, com 600 000 metros quadrados de área construída
Sete prédios na região da Avenida Paulista, avaliados em cerca de 1 bilhão de reais. O grupo possui 66% do Conjunto Nacional
Edifício Independência, na esquina da avenida São João com a Ipiranga
Galeria Olido