No Carnaval, as pessoas são acometidas pela febre de viajar, pular, namorar e ser feliz a todo custo. Há um ano, seis amigos sem muita grana alugaram, por indicação, uma quitinete em Copa cabana. Pagamento adiantado. Quando chegaram, já havia três pessoas instaladas.
— Quem são vocês? — admirou-se Sérgio, o líder da turma.
— Alugamos o apartamento! — respondeu um deles.
Começou a discussão. Surpresa: mais inquilinos chegaram! No fim, somaram catorze. Todos haviam pago antecipadamente. Tentaram encontrar o locador. Impossível. Ninguém aceitou sair.
—Vamos nos ajeitar! — propôs um.
Os outros concordaram. O resto da temporada dá para imaginar: catorze em uma quitinete. Quem chegava primeiro pegava os beliches ou o sofá. Os outros acabavam no chão. Sardinhas na lata iriam se sentir mais folgadas!
E a história do casal que levou os pais da mulher para uma pousada em Paraty?
— Neste ano vamos descansar! Meus sogros já estão velhinhos, precisam de vida calma! — garantiu o marido. Após horas de estrada — quem não conhece o martírio dos feriados? — chegaram.
— Estou louca por um banho! — disse a mulher. Ligou o chuveiro. Nem uma gota. E também não havia água nas torneiras, descarga…
— A água acabou, mas loguinho vai chegar — garantiu a recepcionista. Foram jantar. Na volta, tudo igual. A mocinha da pousada explicou que em dois quartos no subsolo ainda havia água. Mudaram. Eram dois fornos, com janelinhas estreitas no alto. — Mas por que só tem água aqui? — reclamou o marido. A mocinha fez cara de paisagem.
— Meus pais já têm idade, não podem passar o feriado sem água! — rugiu a mulher. Não havia vaga em nenhum outro lugar. O jeito foi pegar a estrada de volta. E a sogra no banco de trás, reclamando:
— Eu disse que não queria vir! Quando eu digo…
Certa vez aluguei um flat em Ipanema, no Rio. Enchi a mala de bermudas e camisetas, pronto para me esbaldar. Quando cheguei, descobri que era um semiflat. Sim, isso existe! É o flat que já não tem todos os serviços. No meu caso, nenhum! No terceiro dia, o apartamento estava um caos! Falei com o porteiro sobre a limpeza.
— Ah, tem uma faxineira, mas ia sair na escola de samba… E não era só isso. Por “refrigeração” eu havia entendido ar-condicionado. Havia dois ventiladores, um no quarto, outro na sala. Se ligados, faziam “nhec, nhec, nhec”. Não dava para pegar no sono com o barulho. Se desligava, não suportava o calor. Na sala, só botando a televisão no máximo para superar o ventilador! Quem aluga também roda! A mãe de uma amiga alugou seu apartamento na praia por uma diária exorbitante. Após o Carnaval, nada de chave! Foi verificar. Os inquilinos continuavam instalados. Nem pretendiam sair. Ela procurou um advogado.
— Tem contrato?
— Não… Foi por temporada…
A inexistência de um contrato atirou a mulher num torvelinho jurídico. Ela entrou com ação de despejo. Os carnavalescos contestaram, não sei com base em quê. Depois de muita briga, os inquilinos “aceitaram” pagar as despesas! Ficaram por lá uns dois anos. A tragédia não foi só com ela: outros proprietários recebem os apartamentos depenados: sem talheres, sem xícaras, com camas quebradas! Não há dúvida: a gente cai em enrascadas quando acha que tem obrigação de se divertir! E corre o risco de passar a noite acordada enquanto as pulgas sambam no colchão da “luxuosa mansão” alugada para os feriados inesquecíveis!