Arremate recorde
Por que um Patek Philippe foi vendido por 5,7 milhões de dólares em um leilão
Levado a pregão em Genebra, em maio deste ano, o Patek Philippe referência nº 1527 alcançou impressionantes 5,7 milhões de dólares (9,7 milhões de reais). Foi o maior valor pago por um modelo de ouro e o mais alto já atingido por um relógio de pulso na tradicional casa de leilões Christie’s. Fabricado em 1943, o design estava uma década à frente de seu tempo. A caixa, de 37,6 milímetros de diâmetro, tem linhas curvas e se molda ao pulso. Ou seja: tem 2,5 milímetros a mais que os contemporâneos da mesma marca — diferença considerada significativa pelo expert da Christie’s, Aurel Bacs. Isso apareceu novamente apenas em modelos de meados dos anos 50.
Só em 2004 especialistas vieram a conhecer de fato um relógio tido até então como um grandalhão com calendário perpétuo e descrição longe de fazer jus a sua complicação, o 1527. A história começou a mudar quando o Museu Patek Philippe enriqueceu a coleção com um relógio dessa referência, herdado por Philippe Stern, presidente honorário e dono da Patek, do pai, Henri, em 2002. O design era igual, mas esse não vinha equipado com o cronógrafo, como o atual recordista de lances. Ou seja: tratava-se de uma raridade, pois apenas dois haviam sido fabricados. Aí, como de praxe nesse mercado, os preços se multiplicaram.
Eles valem uma Ferrari
Cobiçadíssimos em leilões especializados, estes relógios de colecionador foram arrematados por cifras equivalentes ao preço de uma máquina top de linha da montadora italiana.
Rolex Oyster Perpetual, Officially Certified Chronometer, 6062
Segredo do Sucesso: o fator ‘incomum’. Quando se trata de um Rolex, quanto mais atípico, melhor. É o caso dos modelos da década de 50, que geralmente trazem as fases da lua ou calendários completos. Este é um raro exemplar de ouro rosa de 18 quilates com a pulseira Jubilee.
A. Lange & Söhne Richard Lange Pour Le Mérite
Segredo do sucesso: terceiro modelo de corda da marca — com mecanismo de medição do tempo datado do século XV e adaptado com precisão pelos mestres relojoeiros da versão de bolso para a de pulso —, é considerado uma obra-prima da relojoaria. Desta edição, limitada a 200 exemplares, a versão mais rara é de platina — apenas cinquenta unidades foram fabricadas (a outra é de ouro rosa).
Patek Philippe 1436 Split Chronograph
Segredo do sucesso: a raridade. Fabricado em 1945 (e vendido ao primeiro dono em 1949), é um dos dois exemplares de aço da primeira edição do Split de que se tem notícia. Nunca tinha aparecido antes em leilão — até ir parar na mesa da casa suíça Antiquorum.
As Horas nas pontas dos dedos
Se Napoleão Bonaparte transformou a França numa potência mundial, coube a sua primeira mulher, Josefina, reerguer duas das principais indústrias do país: a da relojoaria e a da joalheria. Varridos do cenário (junto com a nobreza) após a Revolução Francesa, ourives e relojoeiros encontraram na imperatriz, uma legítima viciada em compras, a cliente ideal.
Graças a Josefina, um dos maiores artesãos do fim do século XVIII, Abraham Louis Breguet, desenvolveu o chamado ‘montre à tact’ (relógio de tato, em francês). Como naquela época consultar as horas em público era considerado na França um ato de grosseria suprema, a peça desenvolvida a pedido da imperatriz tinha os ponteiros expostos para que se pudesse tocá-los com os dedos. Comprado por 3 000 francos em 1800, foi um dos primeiros exemplares a circular na nova corte do imperador Bonaparte. O modelo de ouro, esmalte e diamantes foi parar na caixinha de joias de Hortense de Beauharnais, rainha da Holanda e filha de Josefina com o primeiro marido, o visconde Alexandre de Beauharnais. Foi arrematado em 2007 por 2,2 milhões de reais, num leilão da Christie’s. O ponteiro incrustado de diamantes permanece intacto sobre o esmalte azul.
1 milésimo de segundo
é o grau de precisão do Caliber 360, cronógrafo mecânico da TAG Heuer. Foi um marco, pois 90% dos relógios medem o tempo à risca de um décimo de segundo.
1975
foi o ano em que a Dior lançou seu primeiro relógio, o Black Moon, voltado para as consumidoras classudas de mais de 50 anos. Com a entrada de John Galliano na maison, em 1996, e a mente criativa da joalheira, Victoire de Castellane, as coleções cresceram e rejuvenesceram. Hoje, são peças coloridas, pensadas para consumidoras abaixo dos 30.
Complicado e perfeitinho
Calcular quando acontecerá o próximo eclipse solar ou lunar é um dos charmes do Astrolabium Galileo Galilei, fabricado pela marca Ulysse Nardin. A peça também mede a altitude de corpos celestes e calcula os movimentos astrológicos (daí o nome, que homenageia o cientista Galileu Galilei, pai do heliocentrismo). Em 1989, entrou para o ‘Guinness Book’ como um dos relógios mais complicados do mundo.
Massa, a mola e o bólido de pulso
Quando Felipe Massa foi atingido por uma mola que se soltou do carro de Rubens Barrichello, em julho de 2009, nos treinos do GP da Hungria, usava um RM011, fabricado pelo suíço Richard Mille. Massa é amigo do relojoeiro e testa algumas de suas criações, classificadas como ‘bólidos para o pulso’ — o mais barato custa 100 000 reais. O choque do piloto se deu a 260 quilômetros por hora. Nada aconteceu ao relógio.
700 000 relógios
por ano é quanto fabrica a Rolex, cujas oficinas estão instaladas na Suíça. São 170 modelos, disponíveis em 3 200 combinações.
1942
foi o ano em que a marca Breitling se tornou fornecedora oficial das Forças Armadas americanas. Desenvolveu, então, o modelo Chronomat, o primeiro com régua circular deslizante no aro.
1 ano
é o tempo de espera por um Royal Oak Grande Complication, o relógio que entrou
para a história por ter um repetidor de minutos que resiste a 20 metros de profundidade na água. O modelo de ouro branco, da Audemars Piguet, custa 1,1 milhão de reais.
O maior crime da alta relojoaria
Em 15 de abril de 1983, metade da coleção de quase 200 relógios raros do banqueiro e colecionador inglês sir David Salomons foi roubada do Museu L.A. Mayer de Arte Islâmica, em Jerusalém — o maior dos crimes relacionados à alta relojoaria. Entre os itens, estava o Breguet n.160, criado a pedido da rainha francesa Maria Antonieta. Especula-se que o roubo tenha sido cometido a mando de um colecionador, pois só alguém altamente inteirado do assunto conheceria a história da peça, considerada um monumento da relojoaria do século XVIII e com valor estimado em 50 milhões de reais. O n.160 tem 60 milímetros de diâmetro, case de ouro de 18 quilates e um mecanismo de 823 partes.
Os mostradores são enfeitados por safira. Partes internas, em outros relógios fabricadas com bronze, nele são de ouro. O relógio foi encomendado em 1783 por um admirador (não identificado) de Maria Antonieta. O pedido era claro: deveria ser o relógio mais espetacular do mundo. Por causa do grau de dificuldade do projeto e do advento da Revolução Francesa, ela não viveu para receber seu presente: foi para a guilhotina em 1793, e a peça ficou pronta em 1827, quatro anos depois da morte do relojoeiro Breguet. Em 2007, o relógio e outros 42 que haviam sido roubados foram secretamente devolvidos ao acervo do museu.
Vossa Magestade tem as horas?
Ao ser coroada, em 1953, a rainha Elizabeth II, da Inglaterra, usava seu terceiro 101 Caliber — ela já havia perdido dois. Detalhe: cada um custa, hoje em dia, o equivalente a 400 000 reais. Criado pela Jaeger LeCoultre sobre uma base da Audemars Piguet, o modelo é de 1929.
58%
dos relógios da marca Baume & Mercier são vendidos a mulheres.
18
relógios de luxo são vendidos por hora em todo o mundo.
265
milhões de dólares foi o faturamento do mercado de colecionadores de relógios em 2008, o triplo do montante de 2003.
De rejeitado a cobiçado
Apresentado ao mundo em 1980 pela grife suíça Hublot, na Feira da Basileia, o primeiro relógio de luxo movido a quartzo e com pulseira de borracha provocou reações negativas. Afinal, esses dois materiais não são considerados nobres o suficiente para ponteiros tão, por assim dizer, refinados. Um susto inicial que parece não ter afetado os consumidores: em cinco anos, 50 000 unidades do modelo já haviam sido vendidas — inclusive ao rei Juan Carlos, da Espanha.