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Arena do Corinthians desaba e dois morrem

Maior guindaste em uso no país caiu sobre a cobertura e destruiu parte da arquibancada do estádio, que abrigará a Copa de 2014. Corinthians decreta luto

Por Juliana Deodoro e Nataly Costa
Atualizado em 5 dez 2016, 15h26 - Publicado em 27 nov 2013, 13h52

Por volta das 12h desta quarta (27), um guindaste caiu sobre a cobertura da Arena Corinthians, conhecida como Itaquerão (Zona Leste), destruindo parte da arquibancada e deixando pelo menos dois mortos: o operador de guindaste Fábio Luiz Pereira, de 42 anos, e o montador Ronaldo Oliveira dos Santos, de 44 anos. Cerca de 1 700 pessoas trabalhavam na obra nesta manhã, trinta delas na operação da máquina.

+ Funcionários dormiam na hora do acidente 

O ex-presidente do clube, Andrés Sanchez, estava no Itaquerão no momento do acidente. Do lado de fora do estádio, ele concedia uma entrevista ao jornal esportivo Lance. “Apesar de todos os cuidados, fatalidades acontecem e infelizmente aconteceu com a gente hoje”, disse Sanchez. O Itaquerão estava prometido para dezembro.

+ VÍDEO: Jornalista relembra o momento do acidente 

Segundo a Odebrecht, o guindaste içava o último módulo da estrutura da cobertura metálica do estádio, provocando a queda da peça sobre parte da área de circulação do prédio leste. A queda da peça danificou ainda uma parte considerável do telão de LED do estádio, um dos maiores xodós do projeto. “A estrutura da arquibancada não foi comprometida. Era a 38ª vez que esse tipo de procedimento realizava-se na obra e uma peça de igual proporção foi instalada há pouco mais de uma semana no setor sul do estádio”, informou a construtora, em nota. 

A peça que caiu pesa 450 toneladas e não excedia a capacidade do guindaste, de até 1 500 toneladas. Essa última parte do módulo da cobertura deveria ter sido instalada na semana passada, mas a construtora adiou a operação devido às fortes chuvas que assolavam a cidade naqueles dias. Curiosamente, os operários responsáveis por essa parte do projeto não cancelaram um churrasco marcado para comemorar o fim dessa parte a construção. Ele foi realizado no sábado (23).

Por causa do acidente, a entrega do Itaquerão pode atrasar. “O que menos nos preocupa agora é o cronograma”, disse Frederico Barbosa, gerente operacional da construção da arena. Uma perícia será feita para apurar as causas do acidente e 30% da arena será interditada. A cobertura é a parte mais complicada e tensa da construção, pela altura e peso dos módulos. Cada um deles demorou cerca de dez dias para ser instalado. 

Obra polêmica

O guindaste que desabou sobre a obra era o maior em utilização no país. Com motor a diesel de 871 cavalos, o superguindaste pesa 900 toneladas e tem 114 metros, uma altura equivalente a um prédio de 40 andares. No início das obras, chegou a causar polêmica entre a construtora Odebrecht e o Serviço Regional de Proteção ao Voo de São Paulo (SRPV), porque ficava na rota de helicópteros e aviões que vão para o Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos. O equipamento é de propriedade da Locar Guindastes. Procurada, a empresa informou que os engenheiros estão no local para identificar a causa do acidente.

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Cercada de polêmicas, a obra do Itaquerão estava “94% pronta”, segundo a Odebrecht. O Corinthians já planejava disputar no novo gramado algumas partidas do Campeonato Paulista. A estreia oficial, no entanto, será como palco da abertura da Copa do Mundo, em 12 de junho de 2014, quando deve receber também outras cinco partidas do evento, incluindo as semifinais.

Adilson Nascimento era amigo do motorista Fábio Luiz Pereira, um dos mortos no acidente. “Quando ouvi tudo liguei para ele imediatamente e vi quando o tiraram na maca”, disse. Fábio, de 43 anos, era casado e tinha três filhas, a mais velha de 23 anos. Ele morava em Limeira, no interior de São Paulo, e trabalhava há 10 anos para a empresa de transporte BHM, contratada pela Odebrecht. Por conta da obra, ele ficava em um alojamento localizado no Parque Novo Mundo.

Repercussão internacional

A tragédia no Itaquerão já tem, inclusive, repercussão internacional. A rede de TV CNN exibe ao vivo imagens do acidente, enquanto o jornal The New York Times fala que além dos mortos e feridos o acidente pode ter danificado a estrutura, e acrescenta que o país corre contra o tempo para entregar os estádios para a Copa do Mundo.

O fato é destaque também de veículos como o espanhol Marca, o jornal britânico The Guardian, que mostra em sua homepage o acontecimento, além de Daily Mail e a rede de TV inglesa BBC, que ressalta se tratar do estádio onde ocorrerá a cerimônia de abertura da Copa.

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Pelo Twitter, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, e o secretário-geral da entidade, Jerome Valcke, lamentaram o acidente e se solidarizaram com as famílias das vítimas. “Estou profundamente triste pela trágica morte de trabalhadores na Arena Corinthians hoje. Nossas profundas condolências aos familiares”, escreveu o suíço Blatter.

“Extremamente chocado pelas notícias de São Paulo. Nossos pensamentos estão com as famílias das vítimas do acidente. Estamos no momento esperando maiores detalhes das autoridades, que estão investigando esse trágico acidente”, postou o belga Valcke. Horas depois, a Fifa e o Comitê Olímpico Local divulgaram uma nota em solidariedade das famílias, e afirmaram que cabe às autoridades investigar as causas do acidente. 

+ O time do canteiro de obras do Itaquerão

+ O teste do trem e do metrô até o Itaquerão

Os custos da construção impressionam: em setembro deste ano ultrapassavam os 900 milhões de reais. O orçamento inicial era calculado em 820 milhões de reais, o que levou a construtora a pedir empréstimo a bancos privados. A arena também tem isenção fiscal concedida pelo governo federal.

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+ Estádio do Corinthians deve se chamar Emirates Arena

O GIGANTE DA ZONA LESTE

Os principais números da nova casa do Corinthians

  • 820 MILHÕES DE REAIS – Investimento necessário para a obra. É o segundo projeto mais caro da Copa 2014, atrás apenas da reforma do Maracanã
  • 200.000 METROS QUADRADOS – Tamanho do terreno, área equivalente à de três estádios do Morumbi
  • 43 MÁQUINAS – Seis bate-estacas hidráulicos, quatro retroescavadeiras, três tratores e dois guindastes, entre outros equipamentos, estão sendo utilizados para que a construção fique pronta no prazo
  • 640.000 SACOS DE CIMENTO – Quantidade de material suficiente para construir 6.400 casas populares
  • 68.000 PESSOAS – Capacidade de público. Após o Mundial, será reduzida para 48.000 lugares, com a retirada dos assentos removíveis
  • 2.000 OPERÁRIOS – Mão de obra que estará em ação no mês de dezembro de 2012, momento de pico da construção. Hoje, cerca de 500 trabalhadores fazem terraplenagem e constroem as fundações
  • 3.700 VAGAS – Previsão de capacidade para o estacionamento. O Itaquerão terá ainda dois restaurantes grandes, uma praça de alimentação com fast-foods, mais um conjunto de bares e lojas
  • 2013 – Ano de conclusão da obra. O contrato da construtora Odebrecht vence em 31 de dezembro
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