A volta dos discos de vinil
Lançamentos nacionais, reabertura da única fábrica no Brasil e lojas de raridades impulsionam o mercado de vinis
Gisele Santos, de 13 anos, nasceu na era do CD e cresceu na da música digital. Ainda assim, acaba de adquirir seu primeiro vinil. “É da Pitty, e eu achei bonito”, diz ela, que não tem toca-discos em casa. O LP da cantora integra a primeira leva da retomada da única fábrica de vinis do país, a Polysom. Fechada desde 2007, a empresa foi comprada no ano passado pela gravadora Deckdisc. De olho no aumento das vendas do gênero nos Estados Unidos e na Europa, a empresa vislumbrou na aquisição a chance de impulsionar o mercado por aqui também. Na terça passada (23), as cantoras Pitty e Fernanda Takai e as bandas Nação Zumbi e Cachorro Grande se reuniram na Livraria Cultura do Conjunto Nacional para celebrar seus lançamentos em 12 polegadas. Garotos barbudos com visual retrô e garotas gritando por seus ídolos aguardavam na fila de autógrafos sacudindo os bolachões, no melhor estilo dos anos 60 e 70. “O que eu tenho de vinil em casa é da minha infância. Nunca pensei que isso poderia acontecer”, conta Fernanda Takai, cujo preferido dos que guarda é Pluft, o Fantasminha, de 1980.
Os entusiastas do vinil dizem que a tecnologia digital deixou o som mais “frio”. E as capas grandonas valorizam o trabalho gráfico. Por isso, o mercado de raridades, que nunca chegou a sair de moda, está em alta. “Comprei metade da minha coleção em São Paulo”, afirma o carioca Ed Motta, que diz ser dono de 30 000 títulos. Entre os endereços dos aficionados está a galeria Nova Barão, no centro. Travessa da Rua Sete de Abril, ela fica a céu aberto e é decorada com canteiros ajardinados e pisos de mosaicos ou pastilhas. No 2º andar, há onze lojas especializadas que não lembram em nada os sebos empoeirados. Chamam atenção pela limpeza, organização do acervo e boa vontade dos atendentes. As opções vão de clássicos de Miles Davis a obscuras bandas de rock progressivo italiano. Os preços também variam. Na pioneira Disco Sete, instalada em 2005 para se dedicar ao funk, ao jazz e à MPB, há títulos à venda por 2 reais. “Não me venha com Julio Iglesias, todo mundo já teve ou tem um dele”, disse, rindo, o dono, Carlos Galdy Silveira, o Carlinhos, enquanto dispensava mais um LP do cantor espanhol trazido por um cliente que viera tentar vender-lhe alguns discos. O mais caro da loja sai por 100 reais — é um solo de Ney Matogrosso, de 1975. Embalado pela retomada dos discões, o casal Kátia Pimentel e Carlos Suarez, donos da Big Papa, passou a organizar shows na galeria na última sexta de cada mês e feiras itinerantes no último domingo de cada mês. A próxima está marcada para este fim de semana no Espaço Morena, na Bela Vista. Em Pinheiros, um antigo reduto dos fãs de bolachões reabriu em novembro. Garimpo de Ed Motta e do ex-titã Charles Gavin, a Marché Discos havia fechado em 2007, quando seu dono, Mário Gabbay, decidiu vendê-la e mudar-se para o interior. A saudade de São Paulo e dos amigos, porém, falou mais alto, e ele retomou o negócio no mesmo local, sob novo nome: Noel Discos. Aos sábados, a loja é ponto de encontro de quem deseja matar a saudade de antigas versões em vinil e do bom papo de Gabbay.