Construção do Itaquerão, estádio do Corinthians, sofre com atrasos
Até agora, nem o terreno foi liberado para o início das obras do local, que abrigaria a abertura da Copa do Mundo de 2014
A construção do Soccer City, palco de abertura e de encerramento da Copa de 2010, na África do Sul, pôs à prova os nervos dos dirigentes da Fifa, a entidade máxima do futebol. Ela foi tratada como um escândalo internacional, pois a reforma que aprontou tudo para o torneio só foi concluída a menos de três meses da partida de estreia, em junho do ano passado. O Brasil está a caminho de bater esse recorde negativo. Considerando os atrasos sucessivos no início dos trabalhos do futuro estádio do Corinthians, o chamado “Itaquerão”, os especialistas em infraestrutura estimam que o campo corre sério risco de ser entregue em abril de 2014 — ou seja, a sessenta dias do pontapé inicial do Mundial, previsto para ocorrer justamente ali. “A situação chegou a um limite perigoso”, afirma José Roberto Bernasconi, coordenador dos assuntos da Copa do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia de São Paulo.
Nos últimos dias, os responsáveis pela obra comemoraram a possibilidade de um acordo com o Ministério Público, segundo o qual ficaria estabelecida a obrigação de o Corinthians pagar mais de 6 milhões de reais para reaver o terreno onde será erguido o Itaquerão (o clube ganhou a área da prefeitura no final da década de 80 e perdeu os direitos sobre ela por não cumprir a promessa de fazer seu estádio no local até 1993). Falta ainda formalizar tudo, mas esse pequeno avanço já serviu de pretexto para uma nova safra de previsões para lá de otimistas. “Devemos receber a autorização para o início da terraplanagem nos próximos quinze dias”, afirma Luís Paulo Rosenberg, diretor de marketing do clube (o dirigente é o mesmo que anunciou o começo dos trabalhos em janeiro, março e abril).
Haja otimismo. Com o orçamento do estádio estimado em 650 milhões de reais, o Corinthians conta com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obter um empréstimo de 400 milhões de reais. O BNDES transferiria o valor a um fundo formado pelo clube e pela Odebrecht, construtora responsável pela obra. Até a quarta-feira passada, porém, nenhum acordo havia sido assinado. É possível que a Caixa Econômica Federal entre como intermediária. Ela cobraria do Corinthians taxas de juros superiores às oferecidas pelo BNDES, aumentando o custo do projeto, mas pelo menos garantiria e aceleraria as tratativas. Com o empréstimo em mãos, faltarão ainda 250 milhões de reais para completar o orçamento. O Corinthians espera obtê-los por meio de incentivos fiscais da prefeitura, baseando-se em uma lei municipal que prevê contrapartidas a quem construir em áreas carentes da cidade, caso do local escolhido para o estádio. Empresas instaladas na região afirmam ter levado seis meses para conseguir o benefício.
Tendo em vista essa complicada engenharia financeira e outras etapas importantes que precisam ser ainda vencidas, como a licença ambiental, a obra só ficará pronta antes de junho de 2014 se não ocorrer daqui para a frente qualquer outro tipo de contratempo grave. “Tem de começar a sair do papel até o meio deste ano, senão fica inviável”, diz Bernasconi. Em outros termos: caso ocorra uma nova postergação nas datas, somente um milagre de São Jorge, o santo padroeiro do Timão, poderá viabilizar a tempo o projeto.
O rolo em torno do Itaquerão já provocou reprimendas públicas de dirigentes da Fifa e, agora, até membros do governo federal manifestam abertamente sua preocupação com a história. Na semana passada, o ministro do Esporte, Orlando Silva, criticou uma corrente que está propondo a utilização de outro estádio em São Paulo para abrigar a Copa da Confederações em 2013, uma espécie de ensaio para as instalações que serão utilizadas no Mundial no ano seguinte. “Diria que é uma decisão inadequada”, afirmou. “Não se pode premiar quem não está cumprindo as determinações.” Como alternativa ao possível fracasso da arena corintiana, fala-se em fazer a abertura da Copa no Rio de Janeiro, em Brasília ou Belo Horizonte. E há quem ainda sonhe com a volta do Morumbi ao páreo. Certeza existe apenas uma: bem antes de a bola rolar, não vai faltar emoção fora do gramado.