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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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O último problema

Maria chegou em casa desesperada e aos berros. Quebraram o retrovisor do meu carro! Fernanda, sua esposa, acolheu as queixas como de costume. Sim… porque as queixas de Maria não eram poucas nem raras. Parecia que tudo dava errado na vida dela. Justo agora que estava esperando o pagamento de um cliente que já estava […]

Por VEJASP
Atualizado em 26 fev 2017, 14h21 - Publicado em 27 out 2015, 21h47

problema

Maria chegou em casa desesperada e aos berros. Quebraram o retrovisor do meu carro! Fernanda, sua esposa, acolheu as queixas como de costume. Sim… porque as queixas de Maria não eram poucas nem raras. Parecia que tudo dava errado na vida dela. Justo agora que estava esperando o pagamento de um cliente que já estava uma semana atrasado lhe quebram o retrovisor do carro estacionado. A esposa de Maria estava esperando a companheira chegar para contar que receberia a visita do pai, que não via há dois anos. Só que, diante do problema com o retrovisor justo no momento em que Maria estava sem dinheiro, Fernanda resolveu adiar a notícia sobre a visita do pai.

Um papo rápido sobre os Transtornos da Personalidade

O desabafo continuou. Maria fez contas rápidas e disse que acabaria atrasando a fatura do telefone. Já habituada, Fernanda sabe que não adianta dizer ou fazer muita coisa. Aprendeu com o tempo a simplesmente intercalar à fala de Maria expressões como “Puxa…” ou “É complicado…”.

Depois de um tempo se lamentando com Fernanda, Maria resolveu telefonar para o irmão. Buscou dicas de onde encontrar um retrovisor mais barato não sem antes também desabafar sobre o absurdo de, seja lá quem tenha quebrado seu retrovisor, não ter assumido a responsabilidade.

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Dicas para evitar crises de ansiedade e pânico

Maria investiu energia a noite toda no assunto do retrovisor, agora acumulado junto com o problema do pagamento atrasado do cliente, que já havia lhe tomado muita energia nos dias anteriores. E antes do problema com o pagamento atrasado do cliente o grande problema era uma cobrança indevida na fatura do cartão de crédito. Antes desse, foi uma gripe que lhe impediu de participar de uma reunião importante. Antes, ainda, descabelou-se por conta da mãe que lhe pediu dinheiro emprestado. E antes… enfim, Maria sempre era intensa ao reagir aos problemas e imprevistos de sua vida.

Toda essa intensidade para lidar com problemas fez com que Maria aproveitasse pouco as coisas boas de sua vida, a começar pela presença de pessoas importantes que sempre lhe deram valor. É o caso da esposa, Fernanda, dos irmãos, de alguns parentes e amigos antigos e recentes. Isso incomodava a todos, mas Maria não percebia. Achava mesmo é que ela tinha muito azar em ter aqueles problemas.

Tudo o que os pais devem saber para a educação dos filhos

No dia seguinte ao do retrovisor, assim que chegou em casa, Maria descobriu que caíra na malha fina da Receita Federal e que deveria organizar os documentos das declarações do Imposto de Renda dos últimos anos. Isso lhe tomaria tempo em casa e lhe faria perder um dia de trabalho para ir até a Receita Federal com os documentos. Que ódio! Não acredito que justo eu fui cair nessa malha fina! Bem agora que… Assim que que ela começou o desabafo, Fernanda a interrompeu. Chega, Maria! Faz duas semanas que quero dizer que meu pai vem me visitar e sempre fico esperando o momento mais adequado. Mas esse momento nunca chega porque você está sempre desabafando. Sua família percebe o mesmo problema, mas não conseguem lhe falar. Eu tampouco… mas não suporto mais. Você tem que procurar ajuda.

Foi assim que Maria chegou até mim e contou o que escrevi até aqui. Perguntei se ela tinha a expectativa de que nenhum daqueles problemas existissem. Ela não respondeu. Ficou pensando e só me respondeu cinco sessões depois. Ela disse que tinha sim a expectativa de que problemas não acontecessem e que investia energia para soltar a raiva que sentia por eles acontecerem a despeito de seu desejo. E disse também que só agora conseguia perceber como isso deixava tristes as pessoas que ela amava.

Maria enfrentava cada problema como se fosse o último de sua vida e como se de sua solução dependesse o futuro das galáxias. A razão para isso não era simplesmente um problema de percepção sobre o valor relativo de cada problema, mas, sim, questões profundas de Maria que foram aparecendo aos poucos na terapia. Reagir com intensidade aos problemas tinha uma função. Ainda assim, a simples identificação dessa distorção na percepção dos problemas permitiu a Maria quebrar algumas barreiras que não deixavam as questões mais importantes aparecerem.

+ É melhor ser introvertido ou extrovertido?

Para quem reage diante de um problema como Maria reagia, vale lembrar que este provavelmente não será o último de sua vida. E se é assim, não vale a pena gastar toda sua energia apenas nesse problema atual. Sempre haverá outro problema depois e depois… Ou seja, de um jeito ou de outro, o problema atual vai passar. Só não vai passar se você não quiser que ele passe.

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