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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Esse é o meu jeito

Há pessoas que, em situações nas quais faz algo reprovável aos olhos dos outros, acaba dando o seguinte desfecho: “Mas eu sou assim mesmo”. Alguém pode deixar de cumprimentar as pessoas ao chegar num local: “Mas eu sou assim mesmo… tímido”. Também pode ser grosseiro com outra pessoa sem antes entender o que aconteceu: “Mas […]

Por VEJA SP
Atualizado em 26 fev 2017, 22h40 - Publicado em 25 fev 2014, 19h23

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Há pessoas que, em situações nas quais faz algo reprovável aos olhos dos outros, acaba dando o seguinte desfecho: “Mas eu sou assim mesmo”. Alguém pode deixar de cumprimentar as pessoas ao chegar num local: “Mas eu sou assim mesmo… tímido”. Também pode ser grosseiro com outra pessoa sem antes entender o que aconteceu: “Mas eu sou assim mesmo… explodo quando não seguem as orientações”. Pode, ainda, desistir de algo importante: “Mas eu sou assim mesmo… não consigo persistir depois que dá errado”. Ou pode extrapolar todos os limites: “Mas eu sou assim mesmo… acabo batendo na minha esposa quando sinto ciúme, mas eu a amo muito”.

Embora os exemplos retratem situações distintas com consequências diferentes, eles têm um aspecto em comum. Em todos os casos o comportamento em questão (ficar em silêncio, ser grosseiro, abandonar um projeto, bater na esposa) é governado (ou influenciado) por um conjunto de regras que podem ser agrupados na categoria “sou assim mesmo”. Quando alguém usa essa afirmação, há dois pressupostos por trás: 1) a característica que a faz se comportar de determinada maneira não dependeria dela, ela não teria escolha e 2) essa característica não poderia ser mudada.

Na verdade, trata-se de uma situação de autorregra, na qual o indivíduo, a partir de sua experiência passada de interação com as pessoas, emite determinados comportamentos sob controle de uma regra criada por ele próprio. “Sou assim mesmo” é um tipo de autorregra segundo a qual a pessoa acredita não ser possível agir de maneira diferente. Além do controle pela regra em curso, o comportamento também é controlado pela aceitação da regra pelas pessoas envolvidas na situação. Mas, embora haja essa aceitação, o fato é que a interação entre os indivíduos começa a se desgastar. Isso acontece porque fica uma insatisfação para o outro e, junto com ela, sentimentos ruins como raiva ou tristeza.

Toda a vez que você usar essa explicação (“Sou assim mesmo!”) para um comportamento reprovável, estará sinalizando para a outra pessoa que, na verdade, embora concorde que o comportamento não foi o melhor naquela situação, você vai se comportar do mesmo modo em situação semelhante no futuro. Isso fará com que as pessoas se afastem de você. Será que é isso que você quer? Se não for, o melhor é parar e refletir sobre o modo como você vem lidando com aquela situação.

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Também há ocasiões nas quais alguém pode usar a regra “sou assim mesmo” para si próprio, sem que isso envolva outra pessoa. Podemos dizer para nós mesmos que não conseguimos realizar uma atividade ou resolver um problema. É um modo de se esquivar dele. Fazemos isso porque a esquiva permite que deixemos de entrar em contato com aspectos desagradáveis da situação que aparecem logo no início. Por outro lado, a situação fica sem resolução e aspectos desagradáveis maiores surgem depois de algum tempo, o que acaba gerando estresse e coloca a saúde em risco, além de comprometer as relações interpessoais.

Comportamentos governados por regras podem ser funcionais em determinadas situações. Terapeutas lançam mão desse recurso em intervenções com pacientes que apresentam dificuldade de se expor a situações (contingências) que são importantes para suas vidas. Diferentemente, quando as autorregras surgem sem esse manejo, há o risco de se estabelecer comportamentos disfuncionais (agredir o outro, esquivar-se da interação interpessoal etc). Então a dica é observar se, em situações de resolução de conflito, você usa a autorregra “sou assim mesmo”. Se for o caso, é hora de repensar o modo de enfrentamento da situação e buscar sair da zona de conforto que mantém essa falsa imagem de que seu comportamento é imutável e mais forte do que você, como se ele fosse uma entidade independente de suas escolhas e das reais condições ambientais atuando na situação.

Você é mesmo assim?

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