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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Dia de clínica: ansiedade, medo e pânico

A partir de hoje, discutiremos de vez em quando aqui alguns temas ligados diretamente à clínica, ou seja, temas ligados ao sofrimento do indivíduo. Comecemos pela distinção entre três processos muito próximos e que confundem as pessoas: a ansiedade, o medo e o pânico. De fato, sua distinção confunde até os profissionais de saúde mental. […]

Por VEJA SP
Atualizado em 26 fev 2017, 22h46 - Publicado em 11 fev 2014, 18h28

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A partir de hoje, discutiremos de vez em quando aqui alguns temas ligados diretamente à clínica, ou seja, temas ligados ao sofrimento do indivíduo. Comecemos pela distinção entre três processos muito próximos e que confundem as pessoas: a ansiedade, o medo e o pânico. De fato, sua distinção confunde até os profissionais de saúde mental. A razão mais intuitiva para isso é que todos os três fenômenos pertencem a um mesmo grupo de transtornos mentais, os transtornos ansiosos. Assim, medo e pânico estão muito ligados à ansiedade, mas não são seus sinônimos. Na verdade, são eventos do espectro da ansiedade.

Ansiedade é um conjundo de respostas do organismo que determinam o estado psicológico do indivíduo em dado momento. Na ansiedade, há sintomas corporais específicos (de tensão física: elevada frequência cardíaca, agitação motora, mal estar, sudorese…) combinados com uma apreensão em relação ao futuro. Normalmente sentimos ansiedade em situações importantes, como numa entrevista de emprego, numa paquera ou no acerto de um grande negócio. A principal característica que podemos destacar da ansiedade é o fato de ela ser orientada para o futuro, está ligada ao que a pessoa acha que pode dar errado. Do ponto de vista evolutivo, ela ajuda bastante o inivíduo na resolução dos desafios quando ocorre dentro de certos limites. Vários estudos acadêmicos já demonstraram que algum grau de ansiedade melhora o desempenho do indivíduo na resolução de problemas. Isso ocorre porque, durante a ansiedade, o sistema nervoso entra num estado de alerta, o que melhora o processamento da informação relevante bem como o tempo e a qualidade da resposta do indivíduo (o que ele faz para resolver o desafio). O problema com a ansiedade ocorre quando ela é excessiva, caso em que a preocupação com relação à possibilidade de que algo dê errado é tão grande que impede o indivíduo de se concentrar naquilo que é importante. Daí em diante o desempenho do indivíduo só piora e de nada adianta saber que se trata de ansiedade excessiva. Isso porque o seu controle depende de uma parte do sistema nervoso autonômico, chamada de sistema nervoso simpático, cuja regulação depende de mediações químicas e que são totalmente involuntárias. Quem sofre com frequentes crises de ansiedade pode e deve procurar ajuda para aprender a evitá-las e a minimizar suas consequências quando ocorrerem.

No caso do medo, trata-se de uma reação de alarme a um perigo já presente: pode ser um cão feroz prestes a atacar, um assaltante ou um evento natural destrutivo. A reação de medo leva invariavelmente a uma de duas respostas possíveis do indivíduo: fuga ou luta (da expressão em inglês flight or fight). A resolução precisa ser imediata e o sistema nervoso autonômico se ajusta para que o indivíduo possa emitir a melhor resposta. A reação de medo é o componente inicial dessa conjunto de ajustes. Como acontece com a ansiedade, o medo é benéfico quando ocorre na medida certa. O problema ocorre quando a reação de medo é disfuncional (a fonte de medo não é um perigo real) ou quando a resposta de medo dura demais no tempo (isso porque as alterações fisiológicas durante o medo tendem a prejudicar o organismo se permanecerem por tempo prolongado). Do ponto de vista clínico, esses medos disfuncionais delimitam os quadros das diversas síndromes fóbicas.

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Finalmente, o pânico é um evento emocional que consiste na ocorrência súbita de uma experiência de intenso medo, acompanhanda por reações físicas (tremores, palpitações, dor no peito, tontura, falta de ar e respiração curta) e que ocorrem sem que seja possível identificar uma causa específica e inequívoca. Crises de pânico até podem ocorrer associadas a contextos específicos (altura, lugares fechados) mas, nesse caso, elas serão eventos componentes de alguma síndrome dentro do conjunto dos transtornos de ansiedade. Ou seja, ter uma crise de pânico não significa que a pessoa sofra de síndrome de pânico. Um paralelo para entender essa distinção é o caso da convulsão e da epilepsia. Alguém pode ter uma crise convulsiva desencadeada, por exemplo, por uma febre. Nesse caso, apesar de a pessoa ter tido uma convulsão, ela não sofre de epilepsia. Assim é com o pânico. O diagnóstico da síndrome de pânico exige a recorrência de eventos de pânico ao longo do tempo e sem causa evidente.

Recapitulando… medo é uma resposta normal frente a situações de perigo real. Quando ocorre de maneira disfuncional, trata-se de componente das síndromes fóbicas. O pânico é uma reação de medo intenso sem a presença de um perigo real ou tido como tal. A ansiedade é um estado de desconforto físico e emocional vinculado a uma apreensão em relação ao futuro, seja ele próximo ou distante.

Se você percebe passar por experiências desse tipo de vez em quando e se elas já lhe trouxeram algum tipo de prejuízo, é hora de buscar apoio profissional. Não deixe para amanhã.

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