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Por Arnaldo Cheixas
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Você se estressa com o noticiário?

Quando você chega em casa do trabalho, depois de tomar banho e comer, o que você faz? Se está no grupo dos que assistem ao telejornal, convido você para uma reflexão sobre possíveis impactos em seu bem-estar. Qual a importância para você em acompanhar as notícias do dia? A resposta parece óbvia mas, se refletirmos […]

Por VEJASP
Atualizado em 26 fev 2017, 23h21 - Publicado em 4 dez 2013, 19h14
(Foto: Latinstock)

(Foto: Latinstock)

Quando você chega em casa do trabalho, depois de tomar banho e comer, o que você faz? Se está no grupo dos que assistem ao telejornal, convido você para uma reflexão sobre possíveis impactos em seu bem-estar. Qual a importância para você em acompanhar as notícias do dia? A resposta parece óbvia mas, se refletirmos um pouco, talvez não seja assim.

Como função para o telejornalismo, podemos dizer que ele possibilita aos indivíduos o acesso às informações que são de interesse público. Por meio do noticiário, todos acompanham a economia, eventos naturais de relevância, decisões de governo e assim por diante. Nesse sentido, podemos dizer que o telejornalismo é um importante meio de democratização da informação. Embora isso seja verdade, vamos avaliar a relação custo-benefício sobre a escolha em assistir diariamente ou não aos telejornais.

Há programas jornalísticos que exploram o objeto da notícia de maneira aprofundada. Às vezes o programa dedica um bloco inteiro para mostrar a matéria, abre espaço para pontos de vista divergentes. Esse tipo de telejornalismo, que estimula de forma positiva a reflexão, é raríssimo. O formato mais tradicional é a exposição diária de matérias relativamente curtas sobre assuntos diversos. Há, ainda, um terceiro grupo de telejornais que valorizam a transmissão ao vivo da notícia, normalmente ligada ao cotidiano de uma região metropolitana. Assim, se a polícia está realizando uma perseguição que dure 30 minutos, temos uma matéria mais longa do que isso. O aparato para esse tipo de transmissão envolve helicópteros, moto-links, uma edição rica em legendas que mudam na tela, ressaltando um aspeto diferente da situação a cada instante, comentários de especialistas em criminologia e o talento do próprio apresentador, que dinamiza a transmissão.

Quando assistimos a um telejornal nesse último formato, sentimos como se estivéssemos no local da notícia. Vejo os apresentadores afirmarem isso com orgulho. Mas é justamente esse aspecto que nos faz refletir sobre os efeitos desse tipo de telejornalismo sobre o psiquismo. Já tive oportunidade de acompanhar várias situações em que pessoas viam programas com esse formato. Por se sentirem no local da notícia, as sensações e sentimentos experimentados são coerentes com tal enquadre.

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Se estamos na rua e testemunhamos uma pessoa idosa sendo agredida, é difícil que fiquemos indiferentes. Sentimos indignação e raiva. Se somos abordados por um assaltante, sentimos medo. Em casos como esses, estamos submetidos ao estresse. Quando identificamos uma situação como perigosa, nosso organismo elabora uma série de ajustes fisiológicos para responder ao estresse. Esses ajustes são fruto de milhares de anos de evolução. Os sinais sensoriais relativos ao perigo chegam a uma estrutura no encéfalo chamada hipotálamo. Quando ativado, ele envia um sinal hormonal (CRF) à hipófise que, por sua vez, envia outro sinal hormonal (ACTH) às glândulas adrenais. Estas, finalmente, liberam cortisol, adrenalina e noradrenalina na circulação sanguínea. Esses ajustes fisiológicos colocam o organismo em estado de alerta. Numa situação de perigo real, a adaptação pode representar a sobrevivência à situação. O problema é quando a fonte de estresse permanece presente por tempos prolongados. Isso é típico da vida em sociedade. O predador de alguns milhares de anos atrás é hoje representado pelo extrato bancário, pela sensação de insegurança e assim por diante. Quando a fonte estressora fica presente no ambiente, a resposta fisiológica ao estresse passa a produzir consequências maléficas ao organismo e tendem a se cronificar. Basicamente, há uma queda da capacidade do sistema imunitário, consequência de várias alterações da fisiologia equilibrada: sistema cardiovascular, sistema digestório.

Voltemos aos telejornais. Considerando que alguns formatos de telejornalismo transmitem as notícias de modo que você se sinta no local em que elas acontecem, é claro que seu organismo vai responder a esse contato como se você próprio estivesse sob estresse. Imagine o que acontece no seu organismo quando você fica em contato constante com notícias sobre crimes, violência, desastres. Você adoece!

A dica terapêutica é que você dose seu contato com o noticiário ao mínimo possível. Variar as fontes também ajuda: revistas e jornais, sítios de jornalismo na internet, TV, rádio. O excesso de contato com o noticiário, principalmente os de formato sensacionalista, faz com que você se desprenda de uma reflexão mais aprofundada sobre os temas apresentados e, ainda por cima, prejudica sua saúde.

Boa sessão pipoca quando chegar do trabalho amanhã!

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