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A invasão das garrafinhas: produtos de 300 ou 310ml ganham espaço no mercado nacional

Duas coisas me chamaram bastante a atenção desde que voltei dos Estados Unidos, há algumas semanas, e passei a acompanhar novamente o mercado cervejeiro brasileiro. A primeira foi a quantidade de rótulos nacionais surgida no meu período de ausência; dezenas e dezenas de novidades, que estou degustando aos poucos. A segunda foi uma visão diferente […]

Por VEJA SP
Atualizado em 26 fev 2017, 15h03 - Publicado em 19 ago 2015, 20h31

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Duas coisas me chamaram bastante a atenção desde que voltei dos Estados Unidos, há algumas semanas, e passei a acompanhar novamente o mercado cervejeiro brasileiro. A primeira foi a quantidade de rótulos nacionais surgida no meu período de ausência; dezenas e dezenas de novidades, que estou degustando aos poucos. A segunda foi uma visão diferente nas gôndolas de bares e lojas: as garrafinhas de 300 ou 310ml, há algum tempo minoria entre vasilhames de 600ml, 500ml ou long necks, tiveram um crescimento a olhos vistos. Nas prateleiras do Empório Alto dos Pinheiros, por exemplo, elas já passam de 60, de mais de 20 produtores nacionais.

Dois dos principais produtores de garrafas do Brasil confirmaram, em números, a impressão que muitos consumidores já podem ter tido empiricamente. Rafael Mello, gerente de contas da Verallia, diz que a empresa vendeu 9% de sua produção para microcervejarias em 2014 – desse total, 5% corresponderam a garrafas de 500ml, 2% às de 300ml e 2% aos modelos de 600ml e um litro. Este ano, o total comprado pelas micros subiu para 14%, dos quais 8% em 500ml, 4% em 300ml e o restante nos demais modelos. “Nossa previsão é de que, até o final de 2015, essa proporção chegue a 7% de 500ml contra 5% de 300ml e, em 2016, exista uma tendência de o modelo menor passar à frente”, diz. “As garrafas de 500ml tendem a virar quase um nicho de mercado.”

Daniel Amaral, gerente de marketing da Owens-Illinois, afirma que a empresa pretende lançar, ainda este ano, uma garrafa de 300ml, baseada em pedidos de cervejeiros artesanais coletados em pesquisa durante a Brasil Brau, feira do setor que ocorreu na capital paulista em julho. Hoje, a marca tem um modelo de 330ml. “Já é nítida a migração para formatos como o de 300ml. A procura por ele vai crescer, mas não creio que vá cobrir toda a demanda de 500ml e 600ml, que ainda são o carro-chefe do mercado artesanal.”

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Números à parte, há uma série de motivações levando os cervejeiros a formatos menores. A mais recente delas é a lei federal  13.097 (complementada pelo decreto 8.442), que trata de descontos de PIS e Cofins para produtores artesanais da bebida. Os maiores descontos são concedidos, de acordo com a previsão da regra, para volumes abaixo de 400ml. Inclui garrafas de 300ml, 310ml, 330ml, de um lado, e as long necks de 355ml, de outro, além de latas – esse último modelo, porém, ainda é praticamente inexistente entre cervejeiros artesanais. Nesse ponto, questões de concorrência determinaram o caminho a ser seguido.

“Usamos esse formato para nos diferenciarmos das marcas mainstream. Long neck é um termo muito batido”, afirma Fernando Jaeger, da gaúcha Tupiniquim, que já lançou mais de 30 rótulos em garrafinhas de 310ml. David Michelsohn, da paulista Júpiter, segue na mesma linha: “Queríamos diferenciar nossa embalagem das cervejas ‘comuns’. A embalagem menor e mais ‘gordinha’ é associada por muitos consumidores de cerveja artesanal com as americanas, que têm fama de excelentes.” Um dos precursores em modelos menores – começou com 330ml, em 2009, e migrou para 300ml -, Samuel Cavalcanti, da paranaense Bodebrown, afirma que sua inspiração ao escolher o vasilhame da Imperial IPA Perigosa foi a californiana Sierra Nevada. Atualmente, ele trabalha em dois modelos de garrafa próprios, também abaixo do volume de long necks.

Hábitos do consumidor também foram levados em conta, segundo cervejeiros e produtores de garrafas ouvidos pelo blog. “O formato 300ml é considerado o carro-chefe para o consumidor que quer experimentar; o preço unitário cai e viabiliza a primeira compra”, diz Daniel Amaral, da Owens-Illinois. Luiza Tolosa, sócia da cervejaria paulista Dádiva, afirma que iniciou as vendas planejando modelos de 300ml e 600ml para todos os rótulos. Acompanhar o mercado, porém, a levou a manter a 600ml apenas para a Lager. “Acreditamos que os clientes irão consumir as cervejas mais em bares e restaurantes. Se a garrafa é de 600ml, acaba tendo a dúvida sobre dividir com quem está na mesa. A de 300ml é mais individual. Mantivemos a Lager em 600ml porque de todos os estilos é o mais facilmente ‘compartilhável’.”

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Em tempos de aumento de impostos refletidos no preço final da cerveja, a adoção de um volume menor também permite buscar uma percepção de valor menor pelos consumidores. Na prática, cervejeiros e produtores de garrafas avaliam que o modelo de 300ml ou 310ml tem um custo maior por mililitro comparado aos de 600ml ou um litro, por exemplo, já que o gasto com garrafas, rótulos e tampinhas é mais elevado no primeiro caso. Carlos Lima, criador do projeto de financiamento coletivo cervejeiro Social Beers, explica melhor a lógica: “Com essa tendência do consumidor em experimentar, é mais fácil comprar garrafas pequenas do que grandes. E ele prefere pagar R$ 10 em garrafas de 310ml do que R$ 12 em garrafa de 600ml, por exemplo. A de 310ml é mais barata”, afirma. “Se eu tenho R$ 10 no bolso, mesmo que a garrafa de 600ml tenha melhor custo/benefício, eu continuo só tendo R$ 10.” Aloisio Xerfan, da paulista Blondine – outra cervejaria que, em rótulos próprios e terceirizados, também contribui com uma das maiores fatias das garrafas de 310ml disponíveis, vê um movimento do mercado no fenômeno. “O mercado em si foi migrando, cervejas mais especiais de valor agregado mais alto ficam com ticket médio menor na garrafa de 300ml.”

Uma questão técnica também influencia na escolha. As long necks, apesar de alguns centavos mais baratas que as garrafas menores, têm um sistema de fechamento de rosca – utilizado em larga escala pelas grandes indústrias cervejeiras. Já as envasadoras das micro cervejarias funcionam com sistema de coroa, que requer um abridor para remover a tampinha. Alguns produtores relataram problemas de perda de gás e entrada de oxigênio nas garrafas – o que leva à perda de qualidade – ao tentarem usar as long necks. “A consumidor, quando vai comprar uma garrafa de cerveja como a nossa, tem uma expectativa, e uma exigência que a nosso ver é maior do que com uma cerveja mainstream”, afirma Alejandro Winocur, sócio da paranaense Way, uma das primeiras a adotar o modelo 310ml. “Por isso a gente não quer correr o risco de que vaze gás ou qualquer outra coisa nesse sentido.”

Não só as micro cervejarias adotaram o modelo; maior empresa do mercado, a Ambev também decidiu envasar a nova linha da Bohemia em 310ml, formato similar ao já usado por Brahma e Antarctica, nos anos 70, Original e novamente Brahma, nos anos 2000. Em nota, a companhia afirmou que a escolha “representa uma conveniência maior para o consumidor que prefere uma embalagem mais econômica para consumo individual. É uma ótima opção em termos de custo-benefício: dose menor, preço mais acessível, além de apresentar menor impacto ambiental.”

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