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Memória

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A trajetória de Milton Santos, um dos maiores geógrafos do país

Natural da Bahia, foi preso pela ditadura militar e, depois de voltar do exílio, se tornou docente da USP. Ele morreu em 2001 na capital paulista

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
25 jun 2021, 06h00
milton santos sentado em uma mesa de sala de aula de perfil para a foto, com uma lousa ao fundo
Milton Santos: atuação na universidade e crítica à globalização (Claudio Rossi/Divulgação)
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A morte do geógrafo baiano Milton Santos completou na quinta (24) vinte anos. Ele lecionou entre 1983 e 1995 no Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Santos, que é um dos grandes nomes de sua área no país, se não o maior, ingressou como docente na instituição por meio de concurso. Em 1997, recebeu na USP o título de professor emérito. Quase duas décadas depois de sua morte, em 2017 uma praça no câmpus do Butantã ganhou seu nome. Não era a primeira iniciativa a celebrar a produção do pesquisador. Em 2001, uma biblioteca municipal, no bairro de Aricanduva, na Zona Leste, também passou a se chamar Milton Santos.

O caminho trilhado pelo estudioso não foi fácil. No mês seguinte à instauração da ditadura militar no Brasil, em 31 de março de 1964, ele foi preso. À época, Santos morava na Bahia, era professor universitário e atuava como jornalista. Devido a um problema de saúde, sofrido em junho do mesmo ano, conseguiu autorização para cumprir a prisão em casa. Depois de seis meses, recebeu a permissão para sair do Brasil. O exílio durou até 1977. Durante esse período no exterior, passou por diferentes países. Deu aula nas universidades de Columbia, nos Estados Unidos, de Caracas, na Venezuela, e de Dar es Salaam, na Tanzânia.

milton santos posando para a foto sentado debruçado sobre um mapa aberto em cima da mesa
Milton Santos: companhia da filosofia durante o exílio do país (Claudio Rossi/Divulgação)

Sobre esse tempo, Santos falou em uma entrevista concedida aos pesquisadores Odette Seabra, Mônica de Carvalho e José Corrêa Leite e editada em um livro da Fundação Perseu Abramo, chamado Território e Sociedade. “Eu não era cidadão e me refugiava na filosofia, na medida em que o Brasil se distanciava e que eu não sabia mais nada sobre lá. Só a filosofia me prendia”, diz ele, que continua seu relato, dando mais detalhes sobre seus interesses e estudos. “As cartas escasseavam, o contato telefônico não era fácil como hoje. Eu lia muito em inglês, coisa que os franceses não faziam. Passei também a estudar física, o que me ajudou a continuar vivendo, a encontrar um caminho, que não era um caminho do cidadão. A história vai se refazendo com a história geral e pessoal. Eu tinha perdido a minha.”

Publicações como essa, que trazem entrevistas com o geógrafo, são uma maneira de se aproximar de sua figura. A reportagem de VEJA SÃO PAULO tentou outra via também, o contato com a viúva do pesquisador, Marie-Hélène Tiercelin dos Santos, mas ela preferiu não falar. Docentes e estudantes que também tiveram contato com o mestre optaram pelo mesmo caminho. Sem eles, ainda há estrada, já que é possível percorrer a produção de Santos. Um bom começo é o livro Por uma Outra Globalização: do Pensamento Único à Consciência Universal (2000). À leitura, então.

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Publicado em VEJA São Paulo de 30 de junho de 2021, edição nº 2744

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