“PornoteoBrasil”: uma geração decepcionada com o presente
O dramaturgo Alexandre Dal Farra propõe uma reflexão sobre as consequências do fim do petismo no comportamento dos brasileiros em peça do Tablado de Arruar
Junto ao grupo Tablado de Arruar, o dramaturgo Alexandre Dal Farra construiu um consistente painel sobre a situação política do Brasil nos últimos anos. A trilogia Abnegação, apresentada entre 2014 e 2016, mostrou diferentes pontos de vista sobre a ascensão e a derrocada do Partido dos Trabalhadores. O novo espetáculo da companhia, PornoteoBrasil, continua no caminho da radiografia do poder e propõe uma reflexão sobre as consequências do fim do petismo no comportamento dos brasileiros.
O foco da vez, porém, recai sobre jovens que viraram adultos em um período de estabilidade econômica e prosperidade. Cinco pessoas estão presas em um cenário de caos e destruição. Talvez tenham sido vítimas de um acidente ou de um atentado e, confusas, procuram reorganizar suas memórias para entender a situação.
+ Leia sobre “Peça do Casamento”.
Os personagens — representados por André Capuano, Alexandra Tavares, Gabriela Elias, Ligia Oliveira e Vitor Vieira — nasceram entre o fim da década de 70 e a primeira metade dos anos 1980. Estão lá, entre outros, o ex-estudante engajado dos tempos da faculdade, a garota ativa em protestos e acampamentos sociais e aquele que sempre se interessou por política mas nunca mergulhou na teoria. Em comum, eles não formatam um raciocínio crítico e desviam do assunto quando são cobrados.
+ Leia crítica de “Nunca Fomos Tão Felizes”.
O realismo da primeira cena cede espaço a um tom anárquico. Em volta de uma mesa, os mesmos atores apelam para caracterizações delirantes em falas que se sobrepõem e dificultam uma comunicação. Eles lamentam a perda do poder aquisitivo, divagam sobre a rotina de exercício e exaltam a evolução tecnológica e o papel da religiosidade. A direção de Clayton Mariano e Dal Farra joga o elenco em uma trilha absurda que põe os personagens ora como crianças decepcionadas, ora na função de criaturas de caráter duvidoso facilmente manipuláveis (60min). 14 anos. Estreou em 21/2/2019.
+ Anexo da Oficina Cultural Oswald de Andrade. Rua Três Rios, 363, Bom Retiro. Quinta a sábado, 20h. Grátis. Ingressos distribuídos uma hora antes. Até 6 de abril. Nesta sexta (1º), não haverá apresentação.