“Nunca Fomos Tão Felizes”: o drama das expectativas frustradas
O dramaturgo e diretor Dan Rosseto alcança seu melhor momento ao reunir um elenco equilibrado em história sobre a ânsia de ascensão social e a hipocrisia
À primeira vista, o drama Nunca Fomos Tão Felizes remete ao clássico contemporâneo Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1962), de Edward Albee. As duas tramas giram em torno de casais, de gerações diferentes, reunidos para um jantar em que, aos poucos, hipocrisias são reveladas. A peça, escrita e dirigida por Dan Rosseto, no entanto, garante identidade por tratar de personagens desvalidos, que lutam pela ascensão social e não dão grande importância à vaidade intelectual, norte do texto de Albee.
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Os jovens Charlie e Nancy (interpretados por Mateus Monteiro e Larissa Ferrara) recebem o arrogante Billie (representado por Eduardo Martini) e sua mulher, a mordaz Simone (papel de Nicole Cordery), proprietários da rede de concessionárias em que ele trabalha.
O rapaz tem certeza de que, naquela noite, será convocado para assumir a gerência de uma das lojas. Nancy, por sua vez, pretende divulgar sua gravidez. Gradativamente, as intenções de cada um vão sendo frustradas, e o excesso de álcool alimenta uma crescente amargura. A aparição repentina de Frank (o ator Luccas Papp), inquilino de Charlie e Nancy, completa a desestabilização do quarteto.
O dramaturgo e diretor Dan Rosseto tem uma produção irregular. Acertou em Manual para Dias Chuvosos e Antes de Tudo, pecou pela ambição no musical Enquanto as Crianças Dormem e errou feio na desastrosa adaptação de Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri. Com o atual trabalho, o artista alcança seu melhor momento.
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É nítida a unidade na condução do elenco. Monteiro e Larissa se afinam na pele do casal que deseja subir na vida a qualquer preço, mesmo que, para isso, aposente princípios éticos e morais. Talentosa, Nicole aproveita cada fala de Simone, injetando uma tristeza camuflada em suas intervenções. Luccas Papp fica no limite do estereótipo em um personagem difícil, mas não compromete. O inesperado, no entanto, se dá na caracterização dramática de Eduardo Martini. O ator, reconhecido como versátil comediante, compõe um Billie sombrio, vilanesco, embalado em uma canastrice típica dos homens do começo dos anos 1960 (110min). 14 anos. Estreou em 18/1/2019.
+ Teatro Itália. Avenida Ipiranga, 344, centro. Sexta e sábado, 21h; domingo, 19h. R$ 60,00. Até 17 de março.