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Morre a atriz Beatriz Segall (1926-2018)

A artista, celebrizada pela vilã Odete Roitman, estava internada no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e o corpo deve ser cremado em Cotia

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 6 set 2018, 11h59 - Publicado em 5 set 2018, 14h40

O Brasil deverá lembrar por muito tempo ainda da atriz Beatriz Segall como a vilã Odete Roitman, celebrizada na novela Vale Tudo (1988), atualmente em reapresentação pelo Canal Viva. A artista carioca, radicada em São Paulo desde a década de 1950, no entanto, acumulou uma trajetória de prestígio na televisão e, principalmente, no teatro que a notabilizou para muito além da personagem da trama de Gilberto Braga.

Beatriz de Toledo Segall morreu nesta quarta-feira (5), aos 92 anos. A atriz estava no Hospital Albert Einstein, na capital paulista, com problemas respiratórios desde o começo de agosto. Ela chegou a receber alta no dia 21, voltando a ser internada três dias depois. O velório será realizado na própria instituição a partir das 19h, até por volta do meio-dia da quinta-feira, 6. Em seguida, o corpo deve ser cremado em Cotia, na Grande São Paulo.

Nascida em uma família de classe média, Beatriz foi professora de francês na juventude e passou a frequentar as aulas do Serviço Nacional de Teatro em 1950. A opção artística não foi bem aceita por seus pais, mas Beatriz se manteve firme e estreou profissionalmente na peça Manequim no Teatro Popular de Arte. Em seguida, integrou a companhia Os Artistas Reunidos, de Henriette Morineau, com os espetáculos Um Cravo na Lapela e Jezebel. Uma bolsa de estudos do governo francês para estudar língua e teatro em Paris mudou completamente sua vida. Por lá, ela conheceu Maurício Segall. 

De volta ao Brasil, ela se casou com o filho do pintor Lasar Segall e da tradutora Jenny Klabin Segall e fixou residência em São Paulo. Com o nascimentos dos três filhos, Sérgio, Mário e Paulo, a jovem artista se afastou dos palcos para cuidar da família, retornando ao trabalho apenas na metade da década de 1960. Desde então, Beatriz construiu uma sólida carreira que, naquela época, incluiu parcerias com o Teatro Oficina, participando dos espetáculos Andorra, Os Pequenos Burgueses e Os Inimigos. Logo, divide o palco com Fernanda Montenegro em Marta Saré, de Gianfrancesco Guarnieri, e é dirigida por Fernando Torres em O Inimigo do Povo, de Henrik Ibsen. O papel da rainha Gertrudes, do clássico Hamlet, foi seu desafio de 1969, sob a direção de Flávio Rangel.   

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O maior e mais bem-sucedido projeto de Beatriz Segall nos palcos foi consolidado em parceria com o marido, Maurício Segall, na primeira metade da década de 1970. Os dois encamparam o então decadente Theatro São Pedro, na Barra Funda, e produziram espetáculos marcantes no rebatizado Teatro Studio São Pedro. Em uma época de contracultura e ditadura militar acirrada, em que o teatro abria mão dos textos de dramaturgia tradicional, o casal monta peças de teor político e social como O Interrogatório, A Grande Imprecação Diante dos Muros da Cidade, Frank V e O Prodígio do Mundo Ocidental. Para os elencos chamaram atores dissidentes de outras companhias ou que enfrentaram a censura em projetos próprios, como Renato Borghi, Esther Góes e Sérgio Mamberti. Durante esse período, o marido de Beatriz, que era ligado a movimentos políticos de esquerda, é preso, e a atriz sustenta o projeto de pé até o fim da primeira metade da década.

Em 1976, Beatriz teve desempenho marcante em À Margem da Vida, de Tennessee Williams, sob o comando novamente de Flávio Rangel.  O encontro efetivo com a televisão se dá apenas em 1978. A Celina da novela Dancin’Days, mãe do protagonista vivido por Antonio Fagundes, marca sua estreia na Rede Globo. Dois anos depois, ela representa sua primeira vilã, a socialite decadente Lurdes Mesquita em Água Viva, história também criada pelo mesmo Gilberto Braga, que, mais tarde, lhe presentearia com Odete Roitman.

Na década de 80, o maior sucesso da estrela nos palcos foi o monólogo Emily, dirigido por Miguel Falabella em 1985, em que interpretou a poeta americana Emily Dickson e faturou os principais prêmios da temporada. Também se destacaria em O Tempo e os Conways, encenado por Eduardo Tolentino de Araujo, e O Manifesto, sob o comando de José Possi Neto.

O sucessos avassalador de Odete Roitman na novela Vale Tudo trouxe grande projeção e também bastante incômodo para sua intérprete. A esnobe empresária, que vivia em Paris e desprezava tudo o que era relacionado ao Brasil, é assassinada nas semanas finais da trama, e o país se envolveu em uma comoção para descobrir “quem matou Odete Roitman?”. O mistério se desfez com a revelação de que era Leila, personagem de Cássia Kiss, que disparou o gatilho em um ato impulsivo por engano.

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Beatriz reclamava publicamente que os espectadores renegavam sua história pessoal e artística e, a partir daquele folhetim, confundiram sua personalidade com a de Odete. O perfil altivo e requintado que Beatriz emprestou à personagem também era seu na vida real. A atriz se irritava constantemente com a associação que mesmo seus fãs faziam em torno desse trabalho e esqueciam dos papeis diferenciados, muitos deles de teor político, defendidos por ela no decorrer da carreira.

https://www.youtube.com/watch?v=Vvg6uxUBQ8c

As mulheres chiques continuaram recebendo a representação de Beatriz na televisão durante a década de 1990. Ela participou das novelas Barriga de Aluguel, De Corpo e Alma, Sonho Meu e Anjo Mau. O destaque, no entanto, voltou a ser no teatro nos espetáculos Guerra Santa, dirigido por Gabriel Villela, Três Mulheres Altas, montado por José Possi Neto, e, principalmente no monólogo O Lado Fatal, adaptado do livro de poemas de Lya Luft, que tratou da dor da escritora diante da morte do seu segundo marido, o psicanalista Hélio Pellegrino.

Os últimos trabalhos de Beatriz no teatro foram a comédia dramática Conversando com Mamãe (2011), em que contracenou com Herson Capri, e Nine, Um Musical Felliniano (2015), dirigido por Charles Möeller e Claudio Botelho, que teve a artista no elenco durante a temporada paulistana. Na televisão, Beatriz se reservou a aparições curtas nos seriados Lara com Z (2011) e Os Experientes (2015), além de uma participação especial na novela Lado a Lado (2012). Em meio a tanto teatro e televisão, o cinema ocupou espaço discreto em sua biografia. À Flor da Pele (1976), O Cortiço (1978), Pixote, A Lei do Mais Fraco (1980) e Desmundo (2003) figuram no currículo.

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