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Uma curadoria de exposições, cursos e novidades dos museus, galerias e institutos culturais de São Paulo. Por Mattheus Goto
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Diário da quarentena: para OSGEMEOS, é hora de pensar no outro

"Ter família e condições de comprar comida é um privilégio. Agora temos de cuidar de quem só tem a rua como casa"

Por Gustavo e Otávio Pandolfo, em depoimento a Tatiane de Assis
Atualizado em 20 abr 2020, 16h39 - Publicado em 17 abr 2020, 06h00

“Antes de a Pinacoteca paralisar suas atividades, em 16 de março, já estávamos apreensivos. A exposição OSGEMEOS: Segredos estava 60% pronta. A abertura aconteceria no dia 28, mas sabíamos que cedo ou tarde iríamos parar. Temos muitos amigos fora do Brasil, em Nova York, Hong Kong, e começamos a sentir, pelas conversas, que a coisa estava pegando. Todo mundo vai ter problemas. Nossa agenda é feita com um ano de antecedência, mas é importantíssimo que quem puder fique em casa e se adapte. É uma fase para pensar nos amigos, na família e em pessoas que não conhecemos, mas que precisam de ajuda agora. Estamos isolados. Tem hora que bate um desespero, mas não temos vontade de sair. Ter uma casa, família, condições de comprar comida é um privilégio. Temos de valorizar isso e cuidar agora de quem só tem a rua como casa.

Moramos no bairro de Santa Cecília, em apartamentos separados, a duas quadras de distância um do outro. Nossa mãe (Margarida Kanciukaitis) mora sozinha e também não está saindo. Vamos fazer compras para ela. Nossos irmãos (Adriana e Arnaldo) também fazem isso. Só vamos ao ateliê (no Cambuci) quando é extremamente necessário. Não tem ninguém lá, todos os funcionários estão se resguardando. Não dispensamos nenhum deles, continuamos pagando a todos. De uma forma triste, todo mundo desacelerou. Estamos revendo o nosso ritmo, temos mais tempo para estudar, desenhar, ouvir música.

Desenho na parede do ateliê, no Cambuci: autorretrato duplo (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Eu, Gustavo, acho estranha essa situação. Ninguém tem resposta para muita coisa. Não se sabe quanto tempo mais vai durar o distanciamento social, não se tem certeza também sobre como curar as pessoas. Não sei… Esse vírus ataca os pulmões, e durante esta pandemia a Terra surpreendentemente está conseguindo respirar melhor. Os rios e o ar estão mais limpos. Você viu o céu de São Paulo? Há tempos a gente vivia um sufocamento. Já estávamos sendo alertados contra terremotos e tsunamis, mas não ouvimos nada. Agora, veio dessa forma. Estou refletindo sobre isso e dando vazão a coisas que não fazia. Está sendo interessante. Pintei, com a minha namorada (a designer Jade Marangolo), um pequeno mural com plantas, algo que não estou acostumado a fazer. E também em um estilo que não é normalmente o nosso. Tem sido bom experimentar. A arte, nessas horas, tem uma vantagem: por natureza, ela é imersiva. Então ficar em casa possibilita mergulhar em novas ideias e aperfeiçoar projetos que já estão em andamento. Por exemplo, agora foquei mais no material educativo que vai ser usado na exposição da Pinacoteca. Está mais estruturado. Outra coisa boa é que estou viciado em uma receita de tapioca. Foi a Jade que me ensinou. Leva abacate e queijo brie, fica muito bom.

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Eu, Otávio, e o Gu temos um acervo de música bem grande, então meu tempo livre tem sido para organizá-lo. Também estou pesquisando muito no YouTube sobre hip-hop old school, feito nos anos 70 e 80. Já zerei séries na Netflix, vi muitos filmes. Não tenho muita rotina, mas até as 9 estou de pé. Neste período, eu e a Gi (a atriz Giselle Batista, namorada do artista) começamos a pensar mais na nossa alimentação. Estamos preocupados com a nossa imunidade e com o risco de pegar uma gripe. De manhã, ainda em jejum, tomamos um copo de água com um pouco de limão. Já não como carne. Agora temos investido ainda mais em frutas e legumes. Não temos muitas preferências, gostamos de tudo. Uma novidade é que ela me deu um tapetinho e me ensinou a fazer ioga. Nunca tinha feito, achei legal. A convivência, com certeza, também nos fez crescer como casal. Namorar é uma coisa, ela está no Rio e eu em São Paulo. Mas ficar assim, como a gente está na quarentena, é bem diferente. Nessa hora, você tem de ter muito cuidado com a privacidade de cada um. Também tem de tentar entender em que momentos os dois querem ficar juntos e quando desejam ficar sozinhos.

A limpeza das nossas casas também está por nossa conta. Desde pequenos, aprendemos a lavar banheiro, passar pano, mas agora estamos fazendo mais. Na hora de comer, preferimos fazer em casa a pedir delivery. Sabemos fazer arroz, feijão. Cozinhar é parecido com pintar. Não adianta, você tem de testar e se arriscar a misturar uma coisa com a outra. Tem também de gostar. Se não tiver paciência, não vai sair direito. O prato mais diferente que a gente fez é típico da Lituânia, de onde nosso avô materno veio. Chama-se zeppelin, igual àqueles dirigíveis, sabe?

Obra De Lá para Cá (2014): imersão e criatividade (Eduardo Ortega/Divulgação)

Do mesmo jeito que tratamos o pessoal do ateliê, também fizemos com as nossas funcionárias domésticas. Pedimos que ficassem com suas famílias e adiantamos o pagamento. Muitas famílias estão em dificuldades e precisamos fazer a nossa parte! O amor salva vidas!”

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 22 de abril de 2020, edição nº 2683.

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