Três Mudanças
- Direção: Mário Bortolotto
- Duração: 100 minutos
- Recomendação: 16 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Autor de Pterodátilos, Os Altruístas e Adorável Garoto, o americano Nicky Silver engana lentamente o espectador com a dramaturgia construída para a peça Três Mudanças. A direção de Mário Bortolotto, cúmplice nessa intenção, abre a comédia dramática em um clima próximo ao dos filmes de Woody Allen, com atores em monólogos curtos e uma trilha sonora de pegada jazzística. Exceto por algumas frustrações, o casal Nathan e Laurel (interpretado por Bruno Guida e Carolina Mânica) leva uma vida tranquila em Nova York. Ela se resignou diante da impossibilidade de ser mãe, enquanto o marido, depois do expediente, se encontra com uma amante (a atriz Renata Becker), por quem nutre interesse meramente sexual. A crônica de costumes em seguida cede espaço a um drama familiar sob um verniz tragicômico. A visita do irmão mais velho de Nathan, o escritor Hal (representado por Nilton Bicudo), que deu as costas aos pais no passado, transforma-se em uma longa estada e abala a harmonia dos donos da casa. A maior virada, porém, evidencia-se diante da chegada de um novo personagem, o morador de rua Gordon (papel de Lucas Romano). Antes apenas um esquisito, Hal, apaixonado por Gordon, vai aos poucos apresentando traços de maldade. Maquiavélico, o ficcionista Hal arquiteta situações como se estivesse lidando com uma de suas obras e enreda os demais personagens em intrigas irreversíveis. Com essa desconstrução contínua de gênero e personagens, Silver prende a atenção do espectador em uma história de apelo popular, que pode cair no gosto de plateias mais amplas. A direção de Bortolotto valoriza cada um dos atores, mas é Nilton Bicudo quem se torna o grande destaque. Hal é engraçado, sofrido, enigmático e ardiloso, e, diante dessas metamorfoses, o artista comprova seu talento (100min). 16 anos. Estreou em 8/2/2019.