Por que Não Vivemos?
- Direção: Marcio Abreu
- Duração: 180 minutos
- Recomendação: 16 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Sob a direção de Marcio Abreu, a Companhia Brasileira de Teatro renovou a cena da última década com espetáculos de temática contemporânea. Esta Criança (2012), Krum (2015) e Preto (2017) comprovam a vertente. A mais recente montagem do grupo mantém a intenção, mas toma por base a primeira e inacabada peça do dramaturgo russo Anton Tchecov (1860-1904). Escrito em 1878 e descoberto depois da morte do autor, o manuscrito, conhecido como Platonov, apresenta pessoas anestesiadas e incapazes de enterrar o passado. Ambientada na propriedade rural da viúva Anna Petrovna (interpretada por Camila Pitanga), a trama gira em torno de um almoço em que velhos conhecidos e alguns desafetos se reencontram em meio ao álcool e a uma gradativa exposição. Entre eles estão Platonov (papel de Rodrigo dos Santos), aristocrata falido, hoje um professor, que detona uma crise ao rever Sofia (a atriz Josi Lopes), um antigo amor. Ninguém está feliz com as circunstâncias, muito menos toma a iniciativa de deixar o lugar. A Rússia daquela época, na leitura da companhia, se torna atemporal e não parece distante de nós. O reflexo se dá através de uma analogia com a sociedade brasileira, ainda entorpecida para enxergar um futuro e passiva à espera de algum gatilho que, mais cedo ou mais tarde, deverá ser disparado. A tensão crescente do primeiro ato beira um delírio envolvente e cuidadosamente coreografado. Abreu propõe um diálogo próximo ao da estética do Teatro Oficina, em que o texto serve apenas de bússola para os intérpretes, livres e à vontade, criarem em cima de situações. Muitas vezes, eles interagem sem pudores com a plateia. Camila Pitanga dosa muito bem o tom frívolo e apático de Anna. Rodrigo dos Santos valoriza a desilusão de Platonov e encontra boas parcerias em Josi Lopes e Cris Larin. O destaque absoluto, no entanto, é Rodrigo Bolzan, que enche a cena de vigor com a perturbação de Ossip, o estranho no ninho elitista. Rodrigo Ferrarini, Kauê Persona e Edson Rocha completam o elenco (180min, com intervalo). 16 anos. Estreou em 14/2/2020.
Teatro Cacilda Becker. Rua Tito, 295, Lapa. Sexta e sábado, 20h; domingo, 19h30. R$ 30,00. Até 1° de março. O espetáculo retoma temporada, nos mesmos dias e horários, entre 20 de março e 19 de abril.