Pacarrete
- Direção: Allan Deberton
- Duração: 97 minutos
- País: Brasil
- Ano: 2019
Resenha por Miguel Barbieri Jr.
Desde que estreou no cinema e foi a grande revelação de A Hora da Estrela, em 1985, Marcélia Cartaxo fez outros trabalhos nas telas e na TV, mas nenhum deles com a força do protagonismo de Pacarrete. Ótima opção do diretor, roteirista e produtor cearense Allan Deberton em escolher essa nordestina de sotaque arretado para o papel principal e, finalmente, dar de volta a Marcélia, de 57 anos, um posto de destaque na filmografia brasileira. Não à toa, Pacarrete levou quase todos os prêmios no Festival de Gramado 2019, incluindo melhor filme, direção, atriz, ator coadjuvante (João Miguel) e roteiro. Na trama, Pacarrete (Marcélia) é uma bailarina sonhadora que, na cidade de Russas (terra natal do realizador), é tida como a “maluquete” do pedaço. Ela se veste com roupas vintage, tem o TOC de deixar a calçada de sua casa sempre limpa, fala expressões em francês e sente uma paixão platônica por Miguel (João Miguel), o dono de um bar que é casado. Nas comemorações de aniversário de Russas, ela se prepara para uma apresentação de balé clássico. Só que a secretaria de cultura quer algo mais popular e deixa Pacarrete de escanteio. O roteiro transita muito bem entre o humor (com a atuação divertida de Marcélia) e o drama (a solidão, o ressentimento, e a desilusão da personagem). Pacarrete é um tipo único, fruto das lembranças de infância de Deberton, que leva às telas uma história singela em que a dura realidade de hoje contrasta com o imaginário idealizado pela protagonista, simbolizado na fascinante cena final. Estreou em 26/11/2020.