O Testamento de Maria
- Direção: Ron Daniels
- Duração: 80 minutos
- Recomendação: 16 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Parece óbvio, mas não custa ressaltar. Na montagem de um solo, mais importante que a concepção do diretor é a embocadura emprestada pelo intérprete ao personagem. Atriz de peculiar força cênica, Denise Weinberg funde sem trégua sua marcante personalidade a da emblemática figura central do monólogo dramático O Testamento de Maria. Grande atrevimento, afinal, trata-se da mais famosa de todas as que atendem por esse nome, a mãe de Jesus. Ela surge consumida pela angústia e com dificuldade para entender as opções feitas pelo filho recém-crucificado. Escrito pelo irlandês Colm Tóibin com base em seu romance homônimo, o texto despertou polêmica na Broadway e ganha encenação brasileira sob o comando de Ron Daniels. O cenário mínimo traz apenas uma cadeira. Logo após a morte do filho, Maria está exilada em Éfeso porque, dizem, também corre risco de vida, e destrata os discípulos que insistem em visitá-la. Em sua visão, são todos maus elementos que contribuíram para o fim trágico do rebento. O percussionista Gregory Slivar, presente no palco, pontua as falas da intérprete, conferindo uma atmosfera típica das tragédias. Conduzida por Daniels, Denise humaniza tanto a personagem que praticamente abre mão da emoção. Na dor de sua Maria impera a revolta, como a de qualquer mãe em situação semelhante, e o público precisa compreendê-la com a razão para, enfim, se deixar levar por um sentimento de comoção. Estreou em 7/1/2016.