Meu Quintal É Maior do Que o Mundo
- Direção: Ulysses Cruz
- Duração: 70 minutos
- Recomendação: Livre
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Cássia Kis, uma das grandes atrizes brasileiras da atualidade, tornou-se bissexta nos palcos. Não dava as caras desde O Zoológico de Vidro (2009) e, passada uma década, retorna surpreendente, desprovida da complexidade da mãe possessiva da peça de Tennessee Williams. Em Meu Quintal É Maior do que o Mundo, a artista surge leve, econômica, o inverso da densidade habitual, explorando seus amplos recursos em um monólogo baseado no poeta Manoel de Barros (1916-2014). O espetáculo, formado por textos do livro Memórias Inventadas, desvenda recortes biográficos do escritor mato-grossense. Dirigida por Ulysses Cruz, Cássia é a personificação do poeta o tempo inteiro, sem se obrigar a sê-lo. Logo de início, a atriz impressiona como um menino pobre que, na falta de uma bicicleta, descobre a diversão ao decifrar as letras. A expressão corporal e sutilezas da fala endossam uma construção sob medida para fazer saltar o talento. Convincente, ela ainda se apresenta na pele do mesmo garoto, punido no internato por praticar a masturbação, que se aproveita do castigo e decora os sermões do padre Antônio Vieira. Basta vestir um casaco para Cássia passar por um Barros maduro, que relembra a crise dos pais com a sua decisão de abraçar a escrita. Depois de todas essas imagens, o público não duvida que a atriz é o poeta. Cássia, porém, raras vezes larga das mãos os óculos de grau. Assim, a artista estabelece cumplicidade com a plateia e justifica que seu memorável desempenho se deve prioritariamente à universalidade do quintal de Barros. Direção musical de Gilberto Rodrigues (70min). Livre. Estreou em 31/1/2019.