Lugar Nenhum
- Direção: Sérgio de Carvalho
- Duração: 120 minutos
- Recomendação: 16 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Aos vinte anos, a Companhia do Latão se mantém fiel aos seus ideais. O mais recente espetáculo, Lugar Nenhum, pode parecer antiquado aos olhos menos atentos. A encenação narrativa e pouco visual remete ao teatro épico de Bertolt Brecht e, inclusive, não facilita o envolvimento do espectador nos conflitos dos personagens. Representa, no entanto, o retrato de um fragmento do Brasil que também pouco se transformou com o passar do tempo. Em cena, surge uma elite intelectual que ainda age como se pertencesse ao passado. Ambientada no começo da década de 80, a trama se desenvolve em uma casa de praia em Paraty, no litoral fluminense. É lá que um grupo se reúne para comemorar os 22 anos de Antônio (papel de João Filho), estudante de medicina, revoltado com o sistema e em crise diante das inclinações artísticas. A mãe, Teresa (interpretada por Helena Albergaria), é uma atriz prestigiada que cedeu às telenovelas, enquanto o pai ausente, o cineasta Jonas (o ator Ney Piacentini), perdeu os amigos e o patrocínio para filmar suas histórias. Ainda circulam um jornalista, uma artista plástica, um músico, uma estudante e, claro, a caseira. O espetáculo, com dramaturgia e direção de Sérgio de Carvalho, nasceu inspirado nos diários e obras do russo Anton Tchekhov. O personagem Antônio remete ao autor de Tio Vânia e As Três Irmãs, que era médico, e Teresa segue os passos de Arkádina, a estrela consagrada da peça A Gaivota, em atrito com o filho e o amante. Apoiada nas referências, a Companhia do Latão promove uma crítica capaz de perturbar sua bolha e ainda alcança a comunicabilidade com boa parte do público. Revela ainda que uma reflexão vinda da própria classe também se faz importante neste momento. Com Beatriz Bittencourt, Érika Rocha, Ricardo Teodoro, Cau Karam e Nina Hotimsky (120min). 16 anos. Estreou em 21/9/2018. Até 14 de outubro.