Jacy
- Direção: Henrique Fontes
- Duração: 60 minutos
- Recomendação: 14 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
O Grupo Carmin, do Rio Grande do Norte, traz uma agradável surpresa para o início da temporada paulistana. Definido como um documentário cênico, Jacy transforma um fato rotineiro em um interessante espetáculo. A dramaturgia de Henrique Fontes, também diretor e um dos protagonistas, e Pablo Capistrano foi desenvolvida a partir de uma frasqueira, contendo papéis, fotos e até radiografias de uma mulher, encontrada em um lixo na Avenida Prudente de Morais, em Natal. Curiosos, os integrantes do Grupo Carmin assumiram a investigação em torno de quem seria a dona e por que a maleta teria sido descartada no entulho. No palco, Fontes e a atriz Quitéria Kelly desvendam aos poucos a história ao público, desde a apuração das informações até a encenação em si da biografia da personagem-título. Jacy nasceu em 1920 e, na década de 1940, durante a II Guerra Mundial, se apaixonou por um capitão americano. Entre 1960 e 1970, vivendo no Rio de Janeiro, trabalhou em uma repartição pública e acompanhou, sem envolvimento, o auge da ditadura militar. De volta a Natal, aposentada, ela morreu sozinha no início dos anos 2000. Os atores extraem teatralidade da vida de uma cidadã comum, elevando-a a condição de uma protagonista de múltiplas camadas. Através de Jacy, vem à tona questões sobre a condição feminina no século XX, a política brasileira e o descaso com os idosos. Mesmo que Fontes e Quitéria se sobressaiam mais como narradores que intérpretes, a montagem se revela um potente exercício cênico nascido de um atento olhar sobre o cotidiano. Estreou em 19/1/2017. Até 18/2/2017.